Oi pessoal.
Sei que o FII Polo (PLRI) não é tão popular. Mas sempre que vejo algo curioso acontecendo, acho que vale a pena trazer para o grupo para mostrar coisas que podem acontecer no mercado de FIIs.
Vamos a uma apresentação rápida do fundo:
- Fundo de papel, basicamente de CRI.
- Constituído em 2011
- Liquidez meio ruim
- Não é muito grande: Patrimônio de cerca de R$ 100 milhões.
- Não tem muitos cotistas: apenas 373
- O administrador é a Oliveira Trust. E o gestor é a Polo Capital.
- O fundo tem gestão ativa e, historicamente, quando vende um CRI, ou quando o CRI vence, ele distribui o lucro e reaplica o capital.
Agora vamos ao que aconteceu nos últimos dias.
Documento 1: 20/09/2017
- Link:
https://fnet.bmfbovespa.com.br/fnet/publico/exibirDocumento?id=17160&cvm=true- O fundo comunica que recebeu uma carta de um cotista com mais de 5% das cotas solicitando a convocação de uma Assembleia.
- (Sim, conforme ICVM 472, qualquer cotista com mais de 5% das cotas - ou grupo de cotistas que some isso - pode chamar uma Assembleia)
- Pauta 1: Discutir que o fundo não faça mais reinvestimentos. Logo, quando um CRI vencer, o valor seja devolvido aos cotistas (o que se chama "amortização"). Daqui a um tempo, o fundo acabaria
- Pauta 2: Se a pauta 1 for aceita, discutir que o fundo seja cindido (dividido) em dois. Um seguiria com a estratégia de reinvestimentos visando à perpetuidade. O outro não teria reinvestimento: conforme os papeis vencerem, os valores serão amortizados e esse fundo iria acabar.
- A pauta 1 foi proposta pelo cotista. A pauta 2 foi pela Gestora, como uma alternativa.
- Assembleia convocada para 11/10.
- Conforme ICVM 472, para qualquer das mudanças, é necessária a aprovação mínima de 25% das cotas totais ("Quórum Qualificado")
Documento 2: 20/09/2017
- Link:
https://fnet.bmfbovespa.com.br/fnet/publico/exibirDocumento?id=17162&cvm=true- A Oliveira Trust e a Polo emitem uma carta informando que são contra ambas as pautas e que o fundo deve seguir do jeito que está.
- O motivo básico é que o fundo foi estrutrado para ser um fundo de prazo indeterminado e apoiado nesse reinvestimento. E que não haveria motivos para mudar essa característica do fundo.
Documento 3: 26/09/2017
- Link:
https://fnet.bmfbovespa.com.br/fnet/publico/exibirDocumento?id=17230&cvm=true- A Bovespa faz alguns questionamentos sobre como seria operacionalizada a cisão do fundo caso a Pauta 2 fosse aprovada.
- Basicamente: Qual seria o tamanho dos novos fundos resultantes da separação? Quais ativos iriam para cada fundo? Quais cotistas iram para cada fundo?
- Respostas: Cada cotista iria escolher sobre o destino das suas cotas, informando se quer ficar no fundo atual ou se quer migrar para o novo fundo. O tamanho dos fundos e a divisão do patrimônio vai depender dessa opção dos cotistas.
- Além disso, acrescenta que a ideia da Gestora e da Administradora é seguir com o fundo como está, mas permitir que quem quiser possa migrar para o novo fundo, sem a estratégia de reinvestimento.
Documento 4: 26/09/2017
- Link:
https://fnet.bmfbovespa.com.br/fnet/publico/exibirDocumento?id=17231&cvm=true- Oliveira Trust republicam o Documento 2, mas de maneira mais completa, incorporando as informações solicitadas pela Bovespa no Documento 3
Documento 5: 11/10/2017
- Link:
https://fnet.bmfbovespa.com.br/fnet/publico/exibirDocumento?id=17835&cvm=true- Ata da Assembleia
- Quórum de cerca de 40% das cotas.
- (Como é normal no mercado, não tem a informação da quantidade de cotistas, o que eu acho uma pena.)
- A ata não tem a explicação sobre porquê o cotista convocou a Assembleia e nem sobre o que foi debatido durante a reunião. (Às vezes, a ata tem essas informações)
- Assembleia, por unanimidade, apova a Pauta 1, e, consequentemente, decide que o fundo vai sim mudar de objetivo. Ao invés de ficar reaplicando, ele vai entrar em fase de desinvestimento.
- E, também, por unanimidade, foi reprovada a proposta de cisão do fundo.
- Portanto, todos os CRIs que forem liquidados (seja por venda do papel ou por vencimento) terão seu valor pago aos cotistas, como rendimento+amortização.
- A Gestora acrescenta que isso poderá reduzir a rentabilidade do fundo. Conforme ele for diminuindo de tamanho, as despesas fixas ficarão cada vez menores.
Documento 6: 11/10/2017
- Link:
https://fnet.bmfbovespa.com.br/fnet/publico/exibirDocumento?id=17836&cvm=true- Fundo divulga Fato Relevante informando da decisão da assembleia.
Temos alguns aprendizados a tirar daqui:
1 - A Assembleia é soberana. Mesmo que o gestor ou administrador queiram dar certos destinos ao fundo, eles são apenas contratados do fundo, e não os donos. Eles precisam seguir aquilo que está no Regulamento do fundo e obedecer a Assembleia de Cotistas, já que os cotistas são os verdadeiros donos.
2 - A Assembleia é soberana. Você pode concordar ou não, mas a decisão da assembleia vale para todos. Aqui não existe esse "mimimi" de "essa Assembleia não me representa". A decisão vale sim.
3 - A Assembleia é soberana. E a decisão dela pode te afetar positivamente ou negativamente.
E como você se protege para que a decisão de uma Assembleia não te prejudique muito? Diversificando. Quando você limita o quanto quer se expor em cada ativo, você limita o prejuízo que aquele ativo pode de causar.
Mesmo que você ache um fundo ou ação a melhor coisa do mundo e o investimento perfeito, sempre se pergunte: "E quando algo der errado com esse investimento? Eu estarei confortável com o tamanho da minha posição".