Vou numa fiambreria no mercado municipal que tem tudo de bom. Há lá uma mortadela bola que é um espetáculo. O preço é mais caro que presunto, 34 reais o quilo. Colonial.
Na segunda-feira me deu vontade de comer pão com mortadela. Lembrei-me dos meus tempos de infância quando viajava no caminhão do meu pai pelo Brasil sem asfalto. De Curitiba a São Paulo eram 24 horas de viagem.
Meu pai comprava mortadela e queijo, era a nossa refeição. Comíamos vários sanduíches de broas feitos pela minha omama (avó).
Às vezes, batia-me esta saudade da mortadela. Aqui em Brasília não encontrava uma tão boa, mas depois de algum tempo fui atraído pelo aroma dum sanduíche. Perguntei ao degustador aonde comprara e descobri o caminho das pedras. Encontrei quem comercializava a melhor mortadela que existe na capital da República.
Comprei 400 gramas. O detalhe: meus filhos preferem presunto e minha senhoura enjoa só com o cheiro. Então, sem sócios - viva o gosto de cada um.
Hoje acordei de manhã já sonhando com meu sanduíche com mortadela e queijo branco. Arrumei a mesa, minha senhoura fez o café, fui me vestir.
Voltei e ao me sentar estiquei a mão e cadê minha mortadela? Olhei em volta e "CADÊ MINHA MORTADELA?" - minha voz de comando ecoou pela casa.
- Não fui eu, papaiê - não gosto disso aí - diz minha filhinha.
- Você não comeu tudo ontem? - fala minha senhoura.
- CADÊ MINHA MORTADELA? EU TO AVISANDO, NÃO ME PROVOQUEM, É A ÚLTIMA VEZ QUE PERGUNTO: CADÊ MINHA MORTADELA?
E nada. Enquanto as crianças já acomodadas no carro fechavam os olhos, dormem no caminho até a escola, fiz meu pão com queijo branco e comi num baita mau-humor sem graça nenhuma, igual chuchu com quiabo.
Entrei no carro e olhei em direção ao canil. Reparei que as crianças fizeram a tarefa matutina de colocar a ração pra Lilica, pro Jack e o Mancha. Mas enxerguei algo estranho: os dois cachorros comeram tudo e a Lilica nem tocou na sua ração.
FILHA-DA-MÃE! A LILICA NEM TOCOU NA RAÇÃO!
- Alguém viu a Lilica na sala hoje cedo? - pergunto.
- Eu vi, ela comia migalhas - diz meu filho com ar de que guardava um segredo.
- Que migalhas? O chão estava limpo.
- Então não sei de nada, nem daquele salame fedorento.
- NÃO ERA SALAME, ERA MORTADELA, VIU! - berro.
- Tá bem, tá bem, agora a gente sabe - diz minha senhoura - a Lilica adora mortadela, também.