E como é que avalia Vladimir Putin? Como estudioso da História, há alguma personagem histórica com quem o compare?
Sim, com Adolf Hitler. Fui o primeiro a dizê-lo e fui muito criticado, porque Hitler representa o mal absoluto. Mas o que eu digo é que o algoritmo por detrás das acções de Putin é similar ao de Hitler. Em geral, sou muito cauteloso a fazer paralelos históricos, mas alguns paralelos são muito naturais, por exemplo, os Jogos Olímpicos de Berlim (1936) e de Sochi (2014). Porque é que não comparo por exemplo com Pequim (2008) ou até Moscovo em 1980? Porque esses foram construídos para promover o regime, o importante ali era o sistema. Agora era tudo Putin, como em 1936 era tudo Hitler – ou seja, duas olimpíadas foram construídas em torno de uma pessoa. Para promover, não o Estado, mas o triunfo da vontade de uma pessoa: os Jogos Olímpicos são como uma espécie de droga intoxicante para ditadores. Agora, Hitler demorou dois anos antes de começar ataques maciços contra a Áustria; Putin demorou duas semanas a começar a sua agressão contra a Ucrânia. Portanto, se quisermos comparar o calendário, estamos agora como em 1938, e a Ucrânia e a Crimeia são o ponto de viragem. Se o Ocidente pestanejar, passamos a 1939. Mas podemos aprender com a História, e assim mudar a História. Não acho que seja inconcebível pensar que Putin um dia poderia carregar no botão, e ao contrário de Hitler, ele tem armas nucleares. Podemos ver como o homem está cada vez mais paranóico.
"Desde 1945 que ninguém, excepto Saddam Hussein, anexou território dos Estados vizinhos", refere. "Houve muitas guerras, exércitos que atravessaram fronteiras para cá e para lá, mas anexação foi apenas o Kuwait. Anexação é o Anschluss', a Áustria, os Sudetas e as guerras de Hitler. E depois Saddam Hussein, e agora Vladimir Putin. E a forma como foi feita pede uma resposta porque se nada for feito, então tudo é permitido. A ideia de União Europeia, que se baseia no consenso, na negociação, pode acabar."