A França está atrás dos investidores. Reportagem do site EuroActiv.com dá destaque à esta nova orientação do governo francês. O ministro das Finanças, Michel Sapin, afirma: “Desenvolver uma indústria financeira que assegure financiamento para todos os setores da economia, especialmente as empresas, de um modo certo e competitivo, é muito importante para a França”.
Quem te viu, quem te vê. François Hollande, atual presidente da França, em sua vitoriosa campanha eleitoral de 2012, pensava de maneira ligeiramente diferente. Dizia o então candidato, em reportagem da BBC News: “Se os mercados estão preocupados, eu direi a eles, aqui e agora, que eu os deixarei sem espaço para agir”. Uau!
O que mudou em dois anos? A realidade continua a mesma. O que mudou foi o governo francês, que reconheceu que não se vai a lugar algum demonizando um setor importantíssimo da economia, como é o setor financeiro.
Tenho uma certa reserva quando leio ou ouço a expressão “economia real” em contraposição ao sistema financeiro. Entendo o significado, dado que a “economia real” produz coisas paupáveis, enquanto é até difícil de definir o que faz um banco. No entanto, eu particularmente prefiro uma outra representação: o sistema financeiro funciona como o sistema circulatório no corpo humano. O sistema circulatório não é responsável por nada paupável: não pensa, não age, não realiza. Mas se não existisse, a sobrevivência de todos os outros órgãos seria impossível. Assim, prefiro pensar no “setor real” e no “setor financeiro” fazendo parte de um todo, cada um com seu papel. Demonizar o setor financeiro como a origem de todos os males é um reducionismo que leva, frequentemente, a políticas equivocadas.
Mas este movimento da França não é isolado. Depois da crise de 2008, quando o sistema financeiro fez o papel de bode expiatório perfeito, muitas foram as juras de ódio que prometiam “enquadrar” os especuladores que arruinaram as vidas de milhões de inocentes. Mais de cinco anos depois, o que temos são os governos do mundo inteiro (inclusive o brasileiro) implorando aos bancos para que aumentem as concessões de crédito. Patético!
A grande verdade é que os governos têm extrema dificuldade em lidar com esta dura realidade: regular o sistema financeiro tem o custo de um crescimento econômico menor no curto prazo. Que fique claro: não estou aqui defendendo mais ou menos regulação do sistema financeiro. Estou apenas apontando o que os economistas chamamos de “trade-off”, no caso entre regulação e crescimento. Cada sociedade, através de seus mecanismos democráticos, definirá onde deseja posicionar este “trade-off”. O que não dá é ignorar os custos da regulação, como se fosse um “free-lunch”. Não é.
E para terminar: o mesmo artigo traz declarações do grupo de trabalho responsável por “reviver” a bolsa parisiense contra a instituição da FTT (Financial Transaction Tax) em 11 dos países membros da União Europeia, incluindo a França. Trata-se da CPMF deles, instituída com o objetivo de fazer o sistema financeiro “pagar” pelos crimes cometidos em 2008. Ao que parece, o FTT afugentaria os tão desejados investidores, que buscariam outras praias que os tratassem melhor. A França está paralisada diante de um quadro esquizofrênico: quer o capital, mas odeia o capital. Aliás, nada muito diferente do que vivemos hoje no Brasil.
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