Nos meados da década de 80 havia um programa de televisão, do Jô Soares, que a abertura era uma mulher que saía de uma banana. Uma loucura de mulher.
Eu trabalhava prum sujeito muito rico. Representava-o no Rio de Janeiro. Quando ele vinha à cidade se hospedava na cobertura da empresa frente ao mar do Leme onde eu morava sozinho quase o ano inteiro, era solteiro.
- Cara, quando assisto aquele programa que a mulher sai da banana eu fico louco, nem sei porquê se ganha dinheiro e não se pode jantar com uma mulher daquelas.
No dia seguinte resolvi agir em benefício do meu patrão, amigo dileto.
Liguei pro meu amigo da emissora e consegui o telefone do agente dela. Antes pedi que me recomendasse.
- Meu patrão gostaria de conhecer a artista que representa. Apenas jantar.
O cara não perdeu tempo.
- Eu sei destes jantares - diz a bichinha - para sair com ela é 1500 dólares, antes que diga digo eu que é uma fortuna, eu sei, mas é isto. E é só para jantar, qualquer coisa mais a decisão é dela.
O que me cabia era regatear uma companhia mais em conta, igualmente, famosa, para me fazer companhia. Ele jogou duro.
- Quanto pode pagar? - falei que duzentos dólares - só isto? Por este dinheiro posso conseguir alguma figurante. Mas também só para o jantar, está bem?
Dito e feito.
Durante a tarde falei ao meu patrão que conseguira o encontro com a mulher da banana. Revelei o preço, achou de acordo, que levaria uma companhia, prontificou-se a pagar toda a conta, agradeci. Corremos ao Shopping Rio Sul, alias, o Meila era o dono do shopping, para comprar roupas, ganhei camisa e cueca nova.
E fomos ao nosso encontro no restaurante Antiquarius, o melhor da cidade naqueles tempos.
Encontramos um conhecido que fez questão de conversar conosco, atrapalharia.
Ansioso, aguardávamos sem prestar atenção na conversa do intruso.
Logo veio o maitre avisar que duas moças nos procuravam, pedimos que as conduzisse até nossa mesa.
O vela quase cai da cadeira. A mulher da banana, realmente, era um espetáculo! Todos os comensais no salão as olhavam, inclusive as mulheres. O homem que sobrava beijou-lhes as mãos e se despediu.
Meu amigo ficou tonto com tanta beleza. Eu me preocupei, quase a certeza que se seguisse com o meu plano original de pegar a minha e sumir perderia o emprego, melhor ceder.
A catástrofe era que a "minha" era um fenômeno!!! Chamava-se Gabriela, loira, linda, lindíssima, maravilhosa, esta que causou admiração, pois ofuscava a bela celebridade. e ela se sentou ao meu lado.
Meu amigo não tirava os olhos da Gabriela. Senti que a mulher da banana estava ali para ganhar o seu e cair fora, ao contrário da outra, agradável, simpática, exalava tesão em cada olhar.
E como eu ficava? Como? E nem como banana! Mas ele era o patrão, tinha que colaborar.
Elas pediram para ir ao banheiro e o Meila, sempre um cavalheiro, diz:
- Que sacanagem. Eu pago a conta e pego a pior!?
Bom, para encurtar a história a mulher da banana foi pra casa ao final do jantar e a Gabriela pro nosso apartamento, cedi minha companhia - eles namoraram por um ano até que, infelizmente, meu amigo morreu num acidente de carro.
Tempos depois estou numa festa - era publicitário - e vem ao meu encontro a mulher da banana, já não tão famosa, fazia novelas e não se dera bem. Contou que a Gabriela era famosa na Itália, participava dum programa de televisão, casara por lá.
Gentilíssima, animei-me, sem mais o sonho longínquo, apelei para uma banana split. Ficamos na conversa a noite toda até que a banana já nanica e cansada foi embora quando sua "amiga" chegou para apanhá-la.
Semana passada me lembrei desta passagem em minha vida.
Comprávamos um terreno de um amigo quando passando por um outro terreno pergunto se estava á venda. Disse que sim, até me deu o nome do vendedor. Meu amigo levou uma banana, negócios são negócios, fechamos o outro. Fiquei encarregado de comunicar a ele, no restaurante comecei a justificativa o inquirindo:
- Lembra-se daquela mulher da banana?