Bom dia, segue uma matéria que saiu hoje no jornal Valor Econômico, achei interessante, e estou compartilhando com todos os usuários do fórum. Abraços.
Cooperativa leva fundo imobiliário à BM&FBovespa
Por Beatriz Cutait | De São Paulo
Com três filhos e o principal investimento em imóveis, o comerciante José Luiz Cardoso, 53 anos, e a farmacêutica Cida Medeiros, 55, oficializam hoje a estreia no mercado de renda variável. A partir desta quinta-feira, eles passam a ser cotistas do Fundo de Investimento Imobiliário Vida Nova, que começa a ser negociado na BM&FBovespa.
Totalmente integralizado por membros da Cooperativa Habitacional Vida Nova, entidade sem fins lucrativos, o fundo nasce com patrimônio de R$ 94 milhões e tem como ativos o Casa Outlet Shopping, localizado em São Paulo, e seu estacionamento. A inauguração do empreendimento está prevista para o segundo semestre, mas ainda depende da agilidade de vendas - até agora 35% das lojas foram comercializadas.
O fundo se junta às outras 122 carteiras imobiliárias listadas em bolsa e chama atenção o perfil variado de investidores, já que a cooperativa conta com participação de policiais, taxistas, empresários e comerciantes como Cardoso.
O modelo inicial do shopping previa a propriedade pelos investidores de lojas do empreendimento. No conceito prévio, cada um teria o direito de comercializá-las da maneira mais conveniente, já que não havia um nicho específico definido de atuação. José Luiz Cardoso e Cida Medeiros, por exemplo, pagaram em 2010 um total à vista de R$ 220 mil por 36 m2.
Com o tempo, contudo, os cooperados passaram a perceber que, sem ter um foco, concorreriam diretamente com um shopping já estabelecido próximo ao empreendimento, o que poderia eliminar a chance de sucesso. E a cooperativa não tinha experiência nesse segmento, com uma atuação dedicada exclusivamente à área residencial. Foi então que surgiu a ideia de unificar o investimento em um fundo imobiliário, aprovado em assembleia em junho de 2012.
"Apesar de mais caro e complexo, o fundo tem vantagens fiscais, de transparência e liquidez", diz o consultor imobiliário da cooperativa Alexandre Caiado, que trabalhou anteriormente no Merrill Lynch. Segundo ele, o fundo, com cerca de 150 cooperados, tem desde funcionários que trabalham na própria obra - cuja responsabilidade ficou a cargo da cooperativa - a empresários.
José Luiz Cardoso e Cida Medeiros entraram no empreendimento de olho na geração de renda, como uma forma de contribuição para a aposentadoria. E mesmo sem ter inaugurado, a farmacêutica já manifesta o desejo de comprar mais cotas do fundo.
Apesar do interesse, o casal diz não ter conhecimento sobre essa modalidade de investimento. "Não sabemos, mas estamos aprendendo, indo atrás", afirma Cida, que pretende recorrer a um amigo que já aplica em bolsa para compreender o funcionamento do mercado. A ideia, segundo ela, foi comprar as cotas e esquecer. "E ser otimista para dar certo", comenta.
Para tanto, se fia na percepção de que, com o modelo de fundo imobiliário, o shopping vai ter uma boa administração, evitando possíveis discussões entre os cooperados. E há ainda uma visão de que os imóveis tendem sempre a se valorizar, ainda que, em fundo, as cotas estejam sujeitas a variações para cima e para baixo que independem do sucesso do empreendimento.
No ano passado, os investidores de carteiras imobiliárias tiveram que ter sangue frio para enfrentar a queda em bolsa. O Índice de Fundos de Investimentos Imobiliários (Ifix), que mede o desempenho de uma carteira de fundos em bolsa, recuou 12,6%, após subir nada menos que 35% em 2012. Em 2014, o índice esboça uma recuperação e acumula alta de 2,46%.
Mesmo à distância do Brasil, morando no Japão, Ivana Mitsue Sakiyama, 47 anos, enviou dinheiro para o país para investir no shopping. Ela aplicou cerca de R$ 250 mil no empreendimento na planta e também não sabe como funciona um fundo, mas avalia que não vai ter "dores de cabeça" com o capital aplicado. "Investi pensando em renda e sem ter que me preocupar muito em estar presente", diz Ivana, que também elenca como atrativo o retorno com o estacionamento. "Se estivesse investindo sozinha, eu não conseguiria."
Seu cunhado, o comerciante Yuji Higa, 53, também aplicou no empreendimento, inicialmente com o objetivo de abrir uma loja própria. Assim como os demais, ele nunca investiu em bolsa, apenas em imóveis e uma parte em renda fixa, orientado pelo gerente de seu banco. "Não tenho experiência, mas deve ser bom."
Para todos os entrevistados, a isenção fiscal para a pessoa física sobre dividendos pagos por fundos imobiliários foi uma notícia recebida praticamente como um bônus. "Foi uma surpresa quando falaram disso", conta Cida.
O Fundo Imobiliário Vida Nova será o nono do gênero registrado na BM&FBovespa neste ano. Ao fim de junho, esse mercado contava com 94.269 investidores pessoas físicas.