Não postei no fórum da CEMIG pois achei não ser o local mais apropriado, já que é para discutir fundamentos. Então posto aqui uma notícia que acredito ser pertinente. Trabalho numa Estatal e sei o quanto uma mudança de governo "sacode" a empresa, desde a mudança de políticas à "dança das cadeiras" nos altos cargos (troca o secretário do governo, diretores, gerentes, chefes de departamento, etc).
Saiu no VALOR ECONÔMICO de hoje, 16/09/2014, detalhando a questão. Longo, mais vale a pena ler e refletir, afinal, é o futuro da empresa em jogo, com implicações a nós acionistas minoritários:
16/09/2014 às 05h00
Política tarifária da Cemig fica sob a mira do PT
UFMGCrocco: "A empresa caiu na qualidade do atendimento. Não pode visar só lucros".
Líder em todas pesquisas de intenção de voto, o candidato do PT ao governo de Minas Gerais, Fernando Pimentel, prepara uma série de mudanças na gestão da companhia de energia elétrica mineira, a Cemig. A empresa, uma das maiores do país em seu setor, tem o Estado de Minas Gerais como acionista majoritário e ações negociadas na Bovespa e nas bolsas de Nova York e Madri.
Em entrevista ao Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor, o coordenador geral do programa de governo de Pimentel, Marco Aurélio Crocco, disse que entre as intenções de um governo petista está a redução de tarifas de energia elétrica.
Ele fala também de uma revisão do que considera ser hoje uma prioridade excessiva da empresa na busca por resultados para os acionistas em detrimento de um serviço público de maior qualidade. E questiona a real necessidade da associação que vem sendo discutida entre a estatal mineira e a espanhola Gas Natural Fenosa.
"Hoje a Cemig se orienta mais por mecanismos de mercado do que necessariamente para atender às necessidades do Estado de Minas Gerais", disse Crocco. "A empresa caiu na qualidade do atendimento. Esse comportamento é que temos que mudar. Ela não pode ser uma companhia que vise somente garantir lucros elevados para garantir distribuição de dividendos para os seus acionistas. Ela é uma empresa pública."
Segundo ele, há um "conflito" que precisa ser conciliado.
A Cemig, cujo lucro no segundo trimestre foi de R$ 741 milhões, alta de 20% em relação ao mesmo período de 2013, rebate as críticas e cita que pelo 15º ano seguido está no índice Dow Jones de Sustentabilidade, que leva em conta ganhos dos acionistas e qualidade.
Esta é a primeira vez que o PT caminha para eleger um governador em Minas. O PSDB é o partido mais influente no Estado há quase 12 anos. Minas é a base eleitoral do senador tucano e candidato à Presidência Aécio Neves, que foi governador por dois mandatos (de 2003 a 2010) e fez de aliados seus sucessores. O atual governador é Alberto Pinto Coelho (PP).
A disputa está entre Pimentel e o candidato do PSDB, Pimenta da Veiga. Pimentel aparece como favorito desde o ano passado. Veiga subiu nas pesquisas, mas continua em segundo lugar. Datafolha da semana passada mostrou o petista com 34% das intenções de voto e o tucano, com 23%. Num segundo turno, Pimentel venceria, de acordo com a mesma pesquisa, com 42% a 29% dos votos.
Questionado sobre seus planos para a Cemig, Veiga elogiou o desempenho da empresa nos últimos anos. "As linhas gerais estão certas. Não estamos propondo nenhuma grande inflexão." Ele prometeu que num novo governo do PSDB, a Cemig "será tratada de forma técnica, como vem sendo tratada" e questionou as propostas de Pimentel de mudança na política da tarifas da Cemig. Para o tucano, a experiência do governo de Dilma Rousseff (PT) - de quem Pimentel foi ministro até o início do ano - de reduzir tarifas foi um "desastre total".
Marco Aurélio Crocco disse que a candidatura de Pimentel tem a "intenção clara" de reduzir os preços da energia cobrados pela Cemig como uma forma de beneficiar consumidores residenciais e empresariais. Há pelo menos duas ideias na mesa: reduzir o ICMS sobre energia elétrica e não repassar integralmente aos consumidores os futuros reajustes de preços determinados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
"Tem várias formas de se trabalhar isso: ou trabalha no que é do Estado, no caso reduzir o ICMS, que está embutido no preço, ou não repassa todo aumento que a Aneel permite", disse Crocco, que é doutor em economia pela University of London e professor titular do Departamento de Economia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Um analista de um banco estrangeiro que acompanha o setor elétrico disse à reportagem que a campanha do PT em Minas passa um recado sobre o futuro da Cemig que é ruim do ponto de vista do mercado porque pode resultar em danos para a saúde financeira da empresa.
Para ele, a proposta de reduzir tarifas trará ao mercado financeiro a ideia de que Cemig poderá ser tratada como a Copel, a elétrica do Paraná, foi tratada no governo de Roberto Requião (PMDB) - protagonista de embates com o setor privado. Por duas vezes, lembra o analista que pediu para não ser nomeado nesta matéria, Requião não repassou para os consumidores os reajustes de tarifas que haviam sido calculados pela Aneel.
O presidente da Cemig, Djalma Bastos de Morais, disse que a redução do ICMS para reduzir tarifa de energia seria algo bem vindo, mas questionou a viabilidade da medida. Morais está no comando da companhia desde 1999, quando o governador era Itamar Franco.
"O controlador, que é o governo do Estado, tem suas prioridades. Se o próximo governador for o doutor Pimentel, fazendo um balanço entre o que tem de investir e com despesas com pessoal, conseguir baixar o ICMS, ótimo. Ótimo para indústria, ótimo para quem for se instalar em Minas. Mas desde a época do doutor Itamar Franco, eu não vi no horizonte formas de compatibilizar as despesas que o Estado tem com reduções de ICMS. Não vi. Pode ser que o próximo governo tenha essas condições", disse o executivo ao Valor. "Nunca vi, neste período, um governo abrir mão de ICMS."
Crocco afirma que num governo Pimentel "não haverá quebra de contrato" e todos as partes serão ouvidas. Ele antecipou qual deve ser a posição de um governo petista sobre a privatização da Gasmig, distribuidora de gás no Estado que é controlada pela Cemig. A privatização é parte de um projeto do atual governo de construir um gasoduto para abastecer a fábrica de fertilizantes nitrogenados que está sendo construída pela Petrobras em Uberaba (MG).
Sem o R$ 1,8 bilhão estimado, a direção da Cemig negociou uma parceria com os espanhóis da Fenosa. Estes absorveriam a Gasmig numa nova distribuidora de gás que se incumbiria de construir o gasoduto. Só que os espanhóis querem a Gasmig privatizada.
"Não está determinado que a melhor opção seja essa empresa espanhola. A Cemig tem um capacidade de financiamento que não está esgotada. Por que não um empréstimo com o BNDES, por exemplo? Seria fácil para a Cemig buscar essa parceria", disse Crocco.
Outro tema polêmico é a briga entre a Cemig e o governo Dilma. A empresa diz ter direito a uma nova concessão sobre três hidrelétricas que o governo federal diz que devem ser devolvidas à União para serem leiloadas novamente. A discordância começou em fins de 2012, quando o governo federal definiu novas regras para o setor elétrico.
As regras foram aprovadas quando Pimentel ainda era ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior de Dilma. Crocco disse que a campanha vê como "fundamental" manter as usinas com a Cemig. "Se isso vai ser possível através de uma medida jurídica ou disputando a concessão de novo, isso não temos como dizer porque não conhecemos os detalhes da ação."
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