EXPECTATIVA OU PERSPECTIVA?
Fiquei no aguardo que acontecesse alguma coisa, eu na maior expectativa, não as outras pessoas, imagino, incrédulas, sem perspectiva alguma de saberem os futuros acontecimentos. Pressenti que precisariam de ajuda.
Procurei, então, livrar-me daquele ambiente impregnado da cruel realidade e, solitário, elaborei as minhas ações.
Olhei ao redor, vi um pão de forma fatiado. Ótimo, serviria ao meu experimento.
Coloquei-o diante dos meus olhos, elevei-o em perspectiva. Segurava de modo que as fatias não se desarrumassem e as observava a poucos centímetros de mim, acima da aresta lateral do pacote de pão.
Fiquei assim por algum tempo. As pessoas em minha volta se aproximaram, olharam pra mim com respeito e na expectativa de que algo dali sairia para o beneficio delas, também.
Percebi que a primeira fatia daquele pão, a que ficava bem perto dos meus olhos, era maior que a última, mesmo que soubesse serem todas do mesmo tamanho.
E fiquei ali como se apreciasse um quadro do Giotto, o introdutor da perspectiva na pintura.
De repente, surpreendi a todos, disse: "a expectativa nos deixa à mercê dos outros! A perspectiva é a nossa ação. Sendo assim, ela dependerá do ponto de fuga que é o máximo que conseguimos imaginar!
Dito isto, as pessoas se aproximaram mais ainda, pediram o pacote de pão de forma fatiado, igualmente, colocavam-no diante dos olhos como eu fizera e identificavam a sua perspectiva. Cada um passava o pacote para o outro, sorriam.
- A última fatia é pequenina!! - disse um.
- A primeira esta tão próxima e a última, que é tão pequena, pra chegar nela terei que pegar as fatias da frente antes. O q isto significa? - perguntou-me.
Discutimos isto. Chamei-as de "fatias de informação". Esclareci que a primeira fatia traz a informação mais próxima, necessariamente, não é a mais rápida. Portanto, esta expressa que contém mais informação que a última fatia, mesmo que traga tanto quanto. Poisa esta é a nossa impressão.
- Ora, a informação da fatia mais próxima eu a vejo com detalhes, enquanto a última esta fora do meu foco - diz outro - é isto?
Não me deram tempo para responder.
De surpresa a minha filha Joana, 7 anos, pegou a faca, passou-a na margarina, apanhou a primeira fatia, lambuzou-a e comeu. Fiquei paralisado.
- Que foi, papaiê? Queria essa fatia, é? Pegue outra, eu hein? - enquanto eu a olhava deu uma mordida - o que foi? Tô com fome. E vamos logo pra escola, já são sete horas e a tia não quer que eu me atrase! Papaiê!!! Caia na real!