Preparo-me:
Comparo as situações cotidianas com a minha vida.
Em 1964, ao deflagarem a revolução eu jogava bolinhas de búrico quando o 5° Batalhão de Engenharia e Combate tomou de assalto a Rádio Colmeia de Porto União, colocou sentinelas em frente da Caixa Econômica e do Banco do Brasil, ambas agências gerenciadas pelos meus parentes, meu avô e primo da minha mãe.
Em 1968, apertaram o cerco, bombas, etc, em Curitiba a minha preocupação era com a minha bicicleta.
Em 1974, estava no segundo ano de engenharia civil, jogava ping-pong no diretório, entraram uns brutamontes atrás do Nogueira, o presidente e militante do MR-8. Perguntaram-nos aonde ele estava e respondi que atrapalhavam meu jogo. Um deles se aproximou e me enfiou um tapa na cara daqueles que dói pra cacete. Até hoje me pergunto se esta "tortura" me daria direito a indenização e pensão vitalicia. Fiquei quieto. Pegaram o Nogueira. Somente reapareceu dois anos depois viciado em cocaína. Naquele dia do tapa queixei-me ao meu tio Albari, comandante da Polícia Militar do Paraná. Mandou que eu ficasse na minha. Mais tarde soube pelo Kriegger, um comunista famoso do meu estado que meu tio foi o melhor carcereiro que os comunistas poderiam pedir aos inimigos. Quis saber dele se conhecera no cárcere o Nogueira: " ah, o engenheiro, cheirava demais, não se conformava que o comunismo não imperasse na humanidade".
Em 1977, fiz alguns prédios em Curitiba, tinha 23 anos. Orgulho-me desta minha coragem, trabalhava para pagar os juros do SFH.
Em 1985, morava no bairro do Leme, Rio de Janeiro, e minha namorada Regina disse que não iria à praia porque tinha a manifestação das Diretas Já e que iria com a turma dela. Eu preferi ir à praia. À noite, fui jantar no Posto 6, próximo de onde ela morava e vejo um carro estacionado em frente da casa dela. Aproximei-me e neste instante senti que meu amor por ela não era tanto assim, tampouco eu era passional. Reconheci o carro q era de um japonês amigo nosso e percebi a bondade dela. Tentava abrir o ziper da calça dele que emperrara, pelo menos pela cara do japonês cheio de dor foi o que imaginei no momento, afinal, fizéramos um pacto de fidelidade que eu cumpria à risca.
Deixei que ela resolvesse o problema da braguilha e continuei minha caminhada até em casa. Não sei porque minha empregada, Dona Lia, disse pra que eu parasse de chorar só porque a queda da ditadura se aproximava e os pobres assumiriam o poder.
Dia seguinte a Regina foi me ver, queria dormir porque estava muito cansada. Contei que a vira com o japonês: "ah, ele me deu carona pra casa, você não quis vir. Quem mandou você ser a favor da ditadura".
A favor da ditadura era ela e não eu.
Neste ano, também, empreendi. Montei uma agência de publicidade e logo comecei a fazer trabalhos para gente boa, entre eles, o Renato Aragão, no auge da popularidade. O cara gostava de mim, passávamos finais-de-semana na Granja Comari, Petrópolis. Apaixonei-me pela Regina Duarte, mas ela não quis nada comigo.
- Saia de qualquer atividade comercial - disse-me - vá aprender a redigir, essa é a sua praia! Será grande nisto!
Em confiança, entregou-me um especial de fim de ano dos Trapalhões que escrevi o argumento - pasmém - em 25 minutos! Dias depois fui ao Jardim Botânico, sede da Globo, e sua equipe de redatores, Carlos Manoel da Nóbrega, Arnaut Rodrigues, Del Rangel, fizeram da minha ideia um camelo. O Beto Carrero - Sergio Murad - aproximou-se de mim: "seu texto precisa de detalhes e emoção, exagere sempre". Voltei à sala e ninguém deixou que abrisse a boca. Decepcionado, desisti.
Em 1985, Roberto Requião, amigo do meu irmão, era candidato à prefeito de Curitiba. Peguei um avião e fui a Madrid fazer um curso de marketing eleitoral no PSOE. Voltei, montamos uma estratégia, ganhamos a eleição. Já no Rio, engajei-me.
Em 1986, entrei para a política partidária, em menos de um ano, nomearam-me Subsecretário de Estado do Rio de Janeiro. Um dia recebi ação de despejo, não tinha dinheiro pro aluguel do meu apartamento frente ao mar de Copacabana. Entreguei o apartamento, fui morar no Flamengo numa kitinete. Vi que eu estava no emprego errado. Confirmado quando um amigo do governo mandou que eu olhasse para o sapato dele: "tá velho, mas em seis meses só andarei de pisantes de cromo alemão"!. Sim, hoje está de Mercedes Benz e não é mais meu amigo.
Retornei à publicidade e ganhei a conta do Banco Fininvest. Lá tomei gosto pelo mercado acionário quando fui a Chicago e NY aprender sobre marketing de capital de risco.
Em 1989, fui à posse do Collor. Era meu cliente o Senador Nelson Carneiro que culminou sua eleição à presidência do Senado. Quando subiu a rampa para assumir a presidência da república por quatro dias convidou quatro amigos, Paulo Cesar Gomes, Jorge Gama, mais um que esqueço o nome e eu. Adorei aquilo.
Antes, quando o Collor assinou o confisco da poupança eu vi minhas ações da Vale caírem para um terço do valor. Naquela noite aprendi o que não é ser um mão fraca quando na madrugada liguei pro meu amigo Ercy, apelido na bolsa "Campeão". Orientou-me: "ora de comprar mais Vale, outra chance igual a esta demorará décadas para acontecer novamente. O minério de ferro caiu de preço?". Preferi Eletrobrás, ganhei tanto que deu pra vender e adquirir um apartamento de três quartos em Curitiba que perdi nos mercadinhos que comprei depois pelo Rio de Janeiro.
Em 1990, comprei quatro mercadinhos, negócio que dá prazer na compra e maior prazer quando se vende. Negócio horrível. Cansa a mente e físico. Como se rouba em mercadinhos!!
Em 1994, veio o plano real com a URV do FHC, quebrei de fato, não de direito. Minha operação era comprar nos atacados e remarcava, diariamente. Fim da moleza.
Em 1997 fui embora para Jericoacoara, CE, e não lia mais nada, apenas engordei 60 quilos, muita cachaça, cerveja, vida mansa.
Em 2004, entre no Bastter, controlei-me na bebida, emagreci 67 quilos, engordei 20, estou no lucro.
Em 2007, 2008, isquemia cardíaca, stent, cálculo renal, estenose, nevralgias, daytrade.
Em 2010, em Brasília entrei no negócio imobiliário. Comecei pequenino. Hoje, desenvolvo o segundo maior projeto imobiliário do Distrito Federal, 107 mil m² de obras. Trabalho praticamente finalizado.
Agora, em 2015, vou ao exterior para abrir a mente dos meus filhos, verdadeiramente, geniais e talentosos.
A mais velha com 13 anos lê dois livros, semanalmente.
O do meio com 10 anos já fez um discurso no Congresso Nacional, escolhido pela escola. Antes, ganhara entre 8 mil alunos a "presidência da república mirim". Foi o único que fez campanha eleitoral à brasileira, tipicamente, assistencial.
A mais nova com 8 anos canta num coral, canta no banheiro, canta no quarto, quintal e no carro. Canta. Pergunto o que quer ser quando crescer: "cantora, ora"!
Minha senhoura é a minha paz, organiza a retaguarda. E não se chama Regina.
Agora, ao mundo.
Juntei-me a um grupo para vender a seis cidades: Buenos Aires, Miami, Lisboa, Milão, Dubai e Macau.
Seremos uma grande cooperativa exportadora!!
Pois é isto.
O que gosto de mim? Danço conforme a música.
E o mercado acionário? Não saio dele, sou um maratonista, compro e esqueço, a cada novo balanço analiso as informações e decido se fico ou pulo fora. Em um ano não mexi um níquel se quer, estou bem.
Pois é este meu balanço, bola pra frente.
Ah, compilei meus contos, passam de 1000! O melhor é quando fui abduzido, mas este fica pra outra vez.