"Não sou nenhum especialista no assunto, mas acho que as coisas poderiam estar mais calmas se a presidente Dilma, assim que Paulo Roberto fez sua delação premiada, tivesse convocado a imprensa e dissesse algo do tipo: “olha pessoal, eu queria pedir desculpas ao povo brasileiro por ter colocado na Petrobrás um bando de vigaristas e aproveito para dizer ao juiz Sérgio Moro que ele tem meu total apoio para colocar na cadeia qualquer um que tenha roubado ou deixado roubar a maior empresa do Brasil. Gostaria também de dizer que nós, do PT, erramos feio por ter praticado ações que condenávamos nos outros partidos e, por isso, devemos pagar pelas nossas falhas. Para finalizar, tenho aqui uma surpresinha que eu acho que vocês vão gostar. Lula, querido, vem cá esclarecer de uma vez por todas essas histórias sobre o sítio em Atibaia e o triplex no Guarujá, antes que esses meninos da imprensa descubram mais detalhes e isso vire uma enorme bola de neve”.
Burburinho geral, flashes espocando, Lula entra, dá um beijinho na cabeça da presidente e vai direto ao ponto. “Gostaria de dizer a vocês que o sítio de Atibaia e o tríplex do Guarujá ainda não estão no meu nome, mas tenho a preferência de compra e o companheiro Okamoto já está tratando de tudo com o dinheiro de minhas palestras. Quanto a essa história de que os móveis e as reformas desses locais foram feitas pela Odebrecht e a OAS, realmente é verdade e digo mais: apesar do Marcelo e do Léo insistirem em não cobrar nada dizendo que são presentes para minha aposentadoria, quero esclarecer que já paguei tudo que foi feito, como vocês poderão comprovar pelos depósitos em posse de meus advogados. Pra terminar, peço desculpas ao povo brasileiro não só pelos erros de agora, mas também por aqueles cometidos na época do Mensalão, e aproveito a oportunidade para pedir perdão pelas mentiras que inventamos de que o Brasil estava um mar de rosas só pra companheira Dilma ganhar a eleição do Aécio. A propósito, antes de vir pra cá conversei com ele, com o Fernando Henrique e com o Temer sobre a possibilidade de formarmos um governo de transição e até já adiantei que aceitamos ser minoria, mesmo porque não estamos em condições de exigir muita coisa, não é mesmo? Mais um detalhe: companheiro Moro, pode contar comigo pra qualquer esclarecimento e pra varrer de vez essa corrupção que está acabando com o Brasil, mesmo que pra isso você tenha que prender velhos companheiros”.
No embalo, Luiz Fernando Veríssimo, Janio de Freitas e Gregório Duvivier fariam crônicas e artigos no estilo do texto que Antonio Prata fez na Folha de São Paulo no último domingo, onde ele diz, entre outras coisas, que continua de esquerda, que continua repudiando a parcialidade do judiciário e a figura nefasta de Eduardo Cunha, mas que o incomoda o fato dos esquerdistas nunca admitirem claramente que o governo Dilma é um desastre e o principal responsável por toda essa crise.
E pra fechar com chave de ouro, Chico Buarque, como bom peladeiro que é, escreveria um manifesto (que depois seria assinado por artistas e intelectuais) dizendo que têm consciência de que seu time vai mal das pernas e que a treinadora talvez não tenha mais condições de dirigir a equipe, mas nem por isso deixará de ser fiel às suas cores, como, aliás, é o que se espera de qualquer torcedor fanático quando seu clube é rebaixado pra Segunda Divisão.
Se isso melhoraria a situação e evitaria o Impeachment? Olha, sinceramente não sei. Mas se Lobão pediu desculpas a Caetano e Gil só por vê-los no Programa Livre sábado agora, imagine o que poderia acontecer com setores da imprensa e com a opinião pública diante dessa pequena demonstração de humildade e bom senso, mesmo que falsa. Mas agora Geni é morta e boia na borda da fossa da desfaçatez."