Bancos suportariam nova piora da economia, diz BC
Valor Econômico - 08/04/2016
Alex Ribeiro e Eduardo Campos | De Brasília
O Banco Central (BC) avalia que os bancos são fortes o suficiente para atravessar uma nova onda de deterioração macroeconômica, depois de sobreviverem a um cenário extremo que seis meses atrás a própria autoridade monetária acreditava ser pouco provável.
Ao apresentar o Relatório de Estabilidade Financeira (REF), na quinta-feira, o diretor de fiscalização do BC, Anthero Meirelles, minimizou três riscos que estão no radar dos especialistas: os impactos nos bancos da Operação Lava-Jato; a saúde dos bancos públicos depois de uma forte expansão de suas carteiras; e a onda de renegociação de empréstimos feitos por empresas e famílias.
No documento, o BC apresenta diversos testes de estresse, simulando situações econômicas extremas para calcular os impactos no sistema bancário e checar se as instituições financeiras serão capazes de absorvê-los.
Um desses cenários contempla uma queda de quase 10% no Produto Interno Bruto (PIB), juros básicos na casa de 20% e uma taxa de câmbio superior a R$ 6.
Essa combinação sombria levaria a mais que dobrar o índice de inadimplência no sistema bancário, dos atuais 3,5% das carteiras para algo entre 7,1% e 7,3%.
Graças aos altos níveis de provisão e de capital, os bancos atravessariam relativamente bem esse cenário. Eles precisariam levantar quase R$ 5 bilhões em novos capitais para recompor o nível mínimo de um dos mais importantes índices de capital, o chamado Patrimônio de Referência (PR). A cifra equivale a apenas 0,73% do PR atual do sistema, de R$ 679 bilhões.
Esse é um cenário extremo e pouco provável - mas não impossível de ocorrer. Em outubro do ano passado, o BC fez um teste de estresse contando com uma improvável contração de 4,6% do PIB, juros de 14,2% ao ano, taxa de câmbio de R$ 4,55 e risco Brasil em 304 pontos-base. Nesse cenário, a taxa de inadimplência chegaria a 5,7% em dezembro.
Meirelles disse que os bancos suportariam um choque adicional porque, desde quando foram feitas essas projeções, o cenário macroeconômico se deteriorou, mas os bancos também reforçaram as suas provisões.
O diretor do BC reconheceu que a Lava-Jato é um risco relevante no horizonte. Mas lembrou que, há seis meses, os bancos passaram bem em uma simulação feita pelo BC levando em conta a quebra de todas as empresas que estavam no centro do escândalo, e a repercussão em fornecedores e empregados. De lá para cá, o estrago se mostrou menor que esse cenário. "Não houve ampliação dos riscos em relação àquele trabalho", disse.
No relatório, o BC também apresentou estudos que concluem que a onda de renegociação de dívidas ocorrida nos últimos meses reduz o índice de inadimplência dos bancos em apenas 0,7 ponto percentual.
De junho de 2014 a dezembro de 2015, as dívidas renegociadas pelos bancos com pessoas físicas subiram de 7,4% para 10% das carteiras. No caso das empresas, o patamar passou de 4,8% para 6,2%. Há um receio entre especialistas de que essas renegociações estejam reciclando créditos inadimplentes e, dessa forma, maquiando os dados de inadimplência.
O argumento do BC é que a renegociação de crédito é uma prática comum no mercado, que se intensifica quando o cenário econômico é adverso, mas não representa necessariamente colocar um crédito inadimplente para debaixo do tapete.
O diretor também minimizou os riscos de bancos públicos. Segundo ele, a taxa de inadimplência de instituições oficiais cresceu, mas o mesmo ocorreu com bancos privados. Bancos públicos, afirmou, têm taxa de inadimplência menor que a dos privados porque operam em nichos de menor risco, como o crédito imobiliário e consignado.
http://www.bcb.gov.br/htms/estabilidade/2016_04/refPub.pdf