Notícia do mês passado mas acho que não comentaram aqui
Produto novo no Brasil...
A custódia externa (do investidor), imagino que as corretoras vão isentar, cobrar pouco, ou então englobar na mesma custódia de RV que já pagamos
Não sei se a estimativa de custo que a XP citou (0,3% ao ano) pra um ETF de Tesouro já inclui custódia (interna no ETF) já que os títulos do tesouro que o ETF adquirir devem ficar direto no sistema SELIC, sem intermediação da CBLC... Imagino que o que encarece a taxa de custódia do "tesouro direto" é a intermediação da CBLC, que repassa parte da taxa às corretoras.
Já deram a idéia de operar vendido nesses ETFs durante os ciclos de alta de juros, hehe.
Luciana Seabra | De São Paulo
Valor Econômico
"Com os detalhes tributários resolvidos nos últimos dias do governo Dilma Rousseff, quase três anos depois da regulamentação do produto pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), enfim é possível ter no mercado brasileiro ETFs de renda fixa. Pelo perfil do investidor local, avesso a risco, os Exchange Traded Funds, fundos negociados em bolsa, atrelados a índices de renda fixa prometem atrair mais do que os de renda variável, com volume pequeno, cerca de R$ 4 bilhões e apenas quatro emissores - Itaú Unibanco, BlackRock, Caixa e Banco do Brasil. A esses em breve vão se somar pelo menos mais dois: XP e BTG Pactual. A expectativa dos gestores é que os primeiros produtos cheguem ao mercado no segundo semestre.
O interesse é perceptível no subcomitê de ETFs na Anbima, associação que representa os gestores, que há dois anos tinha somente três integrantes e agora reúne nove. Além dos já citados, Bradesco, Citi e Icatu também passaram a fazer parte do grupo.
Se, em uma estimativa modesta, os ETFs abarcarem 1% da dívida pública federal emitida, esse já será um mercado de R$ 30 bilhões, projeta Roberto Paolino, diretor responsável por administração de fundos no Citi. O banco não tem carteiras próprias, mas faz o serviço burocrático para gestores, hoje com administração e custódia de 72% do patrimônio em ETFs. "Claramente tem uma oportunidade na renda fixa", diz Paolino.
A qualquer momento os gestores podem lançar produtos, mas há um elevado interesse em participar do processo seletivo da Secretaria do Tesouro Nacional em parceria com o Banco Mundial, regulamentado no começo deste mês com promessa de publicação do edital ainda no primeiro semestre. O que atrai os gestores é que o Tesouro vai emitir todos os títulos necessários para montar os ETFs das casas selecionadas.
"É uma vantagem começar com a carteira pronta, já que nem todos os papéis são ofertados em leilão consistentemente", diz Tatiana Grecco, superintendente de fundos na gestora do Itaú e presidente do subcomitê de ETFs na Anbima, que vê um crescimento expressivo do produto. "Um dos motivos para o ETF não ter decolado ainda no Brasil é ser de renda variável, segmento em que o investidor tem saído, não entrado", diz.
Pelo menos em um primeiro momento, entretanto, a oferta para a pessoa física deve ser escassa. Além da tributação, que reduz o apelo de produtos atrelados a índices de curto prazo, os preferidos da pessoa física (veja Escolha de índice passa por liquidez e imposto), deve pesar a falta de interesse dos grandes bancos em oferecer produtos de baixo custo que concorram com seus fundos DI e outras carteiras de renda fixa.
"Dentre os públicos principais, o que faz mais sentido é o varejo, porque a gestão do ETF tem custo bem mais baixo. Agora, existe um conflito de interesse dos gestores em oferecer o produto ao grande público, um cliente que já está cativo a taxas mais altas", diz Francisca Brasileiro, consultora sênior de investimentos da consultoria Willis Towers Watson.
Há inclusive um incômodo dos gestores de grande porte, segundo uma fonte que preferiu não ser identificada, com o fato de o governo ter feito o produto isento de come-cotas, demanda antiga dos gestores de fundos de renda fixa tradicionais que sofrem a incidência da tributação semestral - e não somente no resgate, como no ETF.
A XP quer aproveitar a brecha deixada pelos bancos oferecendo um ETF que pode ser acessado com R$ 100. Bruno Saads, responsável pela área de produtos de renda fixa, estima que um ETF atrelado ao IMA-B tenha custo entre 0,3% e 0,4% ao ano, bem abaixo do 1% de taxa de administração média dos fundos tradicionais que seguem o mesmo índice hoje no mercado segundo um levantamento da casa.
A expectativa de Saads é que a pessoa física seja atraída pelo baixo custo e pela possibilidade de comprar uma cesta de títulos públicos, em vez de um único papel. O formato da tributação também é favorável - a própria corretora é responsável por recolher o imposto, enquanto para o ETF de renda variável cabe ao investidor. Mesmo com o revés do imposto, que pode chegar a 25%, Saads acha que pode até valer a pena lançar um ETF pós-fixado, dado o alto custo de fundos DI acessíveis ao varejo.
Já Tatiana, do Itaú, diz que aplicar em um ETF pode não fazer sentido para um tíquete muito baixo, já que há outros custos além da taxa de administração - custódia, emolumentos e corretagem. E, para valores aplicados mais altos, defende, o cliente já tem acesso a fundos de renda fixa com taxa baixa.
A complexidade do produto, um misto de renda fixa e variável, é também vista como um entrave para a entrada da pessoa física. "Com a oferta e demanda no mercado secundário, o produto pode descolar do valor justo", diz Tatiana. Enquanto um fundo atrelado ao IMA-B oscila somente ao sabor das expectativas para os juros - o que já afugenta investidores em momentos de alta volatilidade - um ETF atrelado ao índice reage também à demanda na bolsa. Se vários investidores decidirem vender, ainda que não haja grandes movimentos nos juros, por exemplo, pode haver desvalorização.
Os fundos de pensão e os próprios gestores são vistos como o maior público em potencial dos ETFs. Para clientes de grande porte o diferencial não será a taxa de administração na opinião de Marcelo Flora, responsável pela distribuição de fundos para clientes institucionais no BTG Pactual. A gestora, que nunca se interessou pelos ETFs de renda variável, por defender a gestão ativa em bolsa, acredita que o produto faça sentido na renda fixa e já estuda um lançamento. Flora estima, entretanto, um custo perto de 0,3% ao ano, equivalente à taxa dos fundos de renda fixa da casa acessíveis ao varejo.
"O ETF vai facilitar o operacional", diz Flora. O diferencial do produto, para ele, é a possibilidade de expressar visões de mercado de forma menos trabalhosa, como montar com facilidade posições vendidas em renda fixa, para ganhar com um ciclo de alta de juros.
Hoje os gestores de multimercados macro brasileiros, que se posicionam em tendências para os ativos, são conhecidos por ganhar mais dinheiro em movimentos de queda da taxa. Algumas posições em renda fixa hoje evitadas pela falta de liquidez ficam mais viáveis, diz Francisca, da Towers Watson. "O interesse inicial será por um produto que se torne um veículo pra uma gestão de renda fixa mais ativa", diz.
Uma configuração que deve se formar é a de fundos de pensão que compram os ETFs - para negociar com agilidade cestas de títulos - e carregam, ganhando um adicional ao alugar para gestores de fundos, que podem assim montar posições vendidas. Esse será, entretanto, um mercado para 2017. A BM&FBovespa informou que vai desenvolver a partir do ano que vem o serviço de empréstimo de cotas de renda fixa."