Data original: 21/06/2022
Data original: 18/10/2016
Fala, pessoal.
Assistindo o (sempre) excelente chat do Eduardo dessa última Segunda-feira, ao ouvi-lo falar em Bull Market, não pude deixar de lembrar como foi esse período para o país e nossa bolsa anos atrás. Como sei que muitos amigos daqui não pegaram esse momento, gostaria de compartilhar algumas memórias com vocês, sem pretensão alguma de dar lição ou algo parecido. Somente compartilhar minha perspectiva de forma livre com vocês, então leiam com "olhos de curiosidade" :)
Como alguns devem saber, iniciei no mundo dos investimentos em 2004, extremamente influenciado pelo meu avô, investidor de décadas na bolsa (somente bolsa) e que obviamente leva uma vida tranquila até hoje.
Ele foi minha primeira forte referência na filosofia de acúmulo de patrimônio em valor, e sempre ouvia dele que VALE, PETR, CRUZ, BBDC e BBAS eram suas ações de ouro e inquebráveis :)
Obviamente hoje podemos até achar certo humor na afirmação, mas foi algo que permaneceu sólido e verdadeiro por décadas a fio. Então, palmas para ele.
Enfim, o velho investia religiosamente tudo o que sobrava de seu salário de médico durante toda sua vida e era extramente disciplinado.
Eu, já com pezinho forte no controle e na disciplina, não demorei muito para entrar na onda dele. A missão era simples: fazer sobrar dinheiro no final do mês e mandar bala nas ações.
Nossa, e como foi simples (e fácil).
Como vocês sabem, de 2003 a 2008 vivemos um período espetacular para a bolsa brasileira. Capital estrangeiro entrando pesado, perspectivas excelentes e até empresa ruim valorizava (valorizava somente a cotação, deixemos bem claro).
Era realmente, MUITO fácil ganhar dinheiro.
Em Janeiro de um ano qualquer, PETR estava a 50. Em Março era 70. Em junho era 105.
Aí vinha o split.
Split. Que palavra legal. Toda empresa fazia isso de tempos em tempos. Cada dia que abria um site de manada (sim, eu sei, não me orgulho) era um festival de split pra cá, split pra lá.
Era realmente, MUITO fácil ganhar dinheiro.
Nesse momento você se sente invencível.
O escolhido.
O Buffet Jr.
Porque, não importa o que você faça, não importa a ação que escolha, você ganhava dinheiro.
Dinheiro rápido.
Dinheiro fácil.
Quem precisa de Bastter.com com um mercado assim?
Calma, Bastter. Não deleta ainda, lê até o final que eu vou encher a tua bola.
Foram anos seguidos nessa bonança. A euforia da vitória, dos ganhos exponenciais.
E as notícias? Toda semana tinha um jovem branco hetero que aparecia na capa das principais revistas como o vencedor da vida.
"30 anos e milionário"
"Larguei tudo pra viver de bolsa"
"1 milhão em x anos: você também pode".
Caras, isso mexe com o psicológico do incauto. O cara larga tudo mesmo e vai all in na Bovespa.
Vende apartamento, penhora os irmãos e, se bobear, negocia a mamãe também.
E o pior: dá certo!
O dinheiro não para de entrar. As cotações não se cansam de subir.
Poxa, mas não cai?
Claro que cai! Cai por uns 2 meses seguidos uns 5-7%, pra nos meses seguintes subir mais 30% e fechar o ano acima de 100%.
Esse é o Bull market.
O problema, ah... o problema, meus amigos, é quando o touro vai beber água.
E o ursinho chega.
Chega de mansinho, claro, no meio de manchetes como "investment grade", "faça um consignado para investir em ações", ou até mesmo "carteira recomendada para dobrar seu patrimônio em 12 meses".
O ursinho peralta puxa o touro pelos culhões.
E aí é ladeira abaixo.
O chão cai.
O seu castelinho de areia é destroçado.
Vocês já conhecem o filme, mas é sempre bom reviver: queda de 60% ou mais em menos de um ano. Desespero. Fuga de CPFs da bolsa e aumento de CPFs em igrejas em manicômios.
Deve realmente ter alguma relação inversamente proporcional a esses fatores.
Como que o sujeito que só sabia ganhar lida com a perda?
Não lida. Ele não foi preparado pra isso.
Ele pensa só no quanto vai ganhar, mas nunca sequer cogitou o quanto poderia perder.
Ninguém disse pra ele da natureza cíclica da renda variável. Ele toma o período de 5 a 8 anos em que só via as setinhas verdes apontadas para cima como realidade.
Setinhas verdes apontadas para cima.
Tem algo de hipnótico nessa imagem.
O sujeito imbeciliza, paralisa.
Quando as cores e os sentidos da setinha trocam, não sabe mais o que fazer.
Aliás, sabe:
Primeiro, espera empatar.
Segundo, começa rezar.
Terceiro, vende no fundo.
Pode parecer rápido quando escrevo, mas do #1 ao #3 o processo é extremamente demorado e prejudicial, com muita dúvida, decepção e sofrimento para, enfim, engrossar a estatística de evasão de CPFs na bolsa.
Os que sobram, são os vencedores.
Eu costumo dizer que tive sorte de entrar no mercado durante um bull market, pois ele me permitiu ver um patrimônio considerável ser bem reduzido durante o bear.
Eu vivi esse drama.
E escolhi muito bem a palavra para descrever: drama.
O subprime foi um divisor de águas em minha vida como investidor (e na de muitas outras pessoas também). Eu sofria, mas não cogitava em vender em nenhum momento.
Eu lembrava do meu avô. Ele não vendia.
Obrigado, vô.
Aí percebi que sozinho eu não ia chegar muito longe.
Comecei a acessar a Bastter.com mais frequentemente. Eu tinha que me preparar melhor para minha vida de acúmulo de patrimônio.
Fiquei feliz em concordar com as coisas que lia aqui.
Aprendi o que era valor e diversificação.
Aí, meus amigos, foi o pulo do gato.
O bear market foi (e está sendo) um walk in the park pra mim e, tenho certeza, para muitos daqui, graças a esse forum de gente maravilhosa e consultores extremamente competentes.
Mas, mudando de assunto. E o Bull?
É... o bull se aproxima.
Não que eu tenha bola de cristal mas, de forma lógica, cada segundo que passa é um segundo mais perto do próximo tourinho.
E ele vai chegar.
E quando ele chegar, amigos, a forma como lidaremos com ele também nos definirá como investidores.
E para isso, podemos contar sempre com a Bastter.com
Abraços,