"Não é apenas o conhecimento que pode ter um valor dúbio, a informação
também pode. Notei que quase todos estavam a par dos eventos correntes nos
mínimos detalhes (da guerra do Líbano). A superposição entre jornais era tão grande que, quanto mais se lia, menos informação se tinha. Ainda assim, todos estavam tão ansiosos por familiarizarem-se com cada fato que liam todos os documentos recém-
impressos e ouviam todas as estações de rádio como se a grande resposta fosse
ser revelada a eles no próximo boletim. As pessoas transformaram-se em enciclopédias de quem se reunira com quem e qual político disse o que para
outro político (e com aquele tom de voz: Ele estava mais amigável do que de
costume?'). Ainda assim, nenhum resultado.
Percebi também durante a guerra no Líbano que os jornalistas tendem a se
aglomerar não necessariamente em torno das mesmas opiniões, mas com
frequência em torno dos mesmos padrões de análise. Atribuem a mesma
importância aos mesmos conjuntos de circunstâncias e dividem a realidade nas
mesmas categorias — mais uma manifestação do platonismo, o desejo de dividir
a realidade em formas bem definidas. O que Robert Fisk chama de 'jornalismo
de hotel' aumentou ainda mais o contágio mental. Enquanto, inicialmente, os
jornalistas consideravam o Líbano parte do Levante, ou seja, do Mediterrâneo
oriental, ele agora se tornou, repentinamente, parte do Oriente Médio, como se alguém tivesse transportado o país para mais perto das areias da Arábia Saudita.
A ilha de Chipre, que fica a pouco menos de 100 quilômetros da minha vila no
Norte do Líbano, e com comida, igrejas e hábitos quase idênticos, tornou-se parte
da Europa de uma hora para outra (é claro que, subsequentemente, os nativos em
ambos os lados tornaram-se condicionados)". (trecho do livro A Lógica do Cisne Negro, de Nassim Nicholas Taleb)