Berenice dizia à Adelaide que bateria todas as metas de vendas nem que para isto precisasse namorar todos que pudesse. Se solteiro ou casado para ela pouco importaria, o que lhe interessava era o seu tesão quando alguém comprava algum produto do banco.
Mantinha a saúde e o corpo em perfeitas condições de temperatura e pressão, apertava-se as suas carnes e elas retornavam rapidinho ao lugar. Berenice tem cor jambo, torneada, esbelta, elegante, lábios carnudos, bunda de nenê, longos cabelos escuros, é um fenômeno!
A vida seguia bem até que apareceu o porra do Antônio.
O cara era simpático, bonito e com uma lábia sem igual. Em pouco tempo tirou a Berenice do mercado, levou-a para morar com ele e souberam que o casamento era para breve.
Sete dos amantes da Berenice se reuniram para discutir a infelicidade de cada um.
- Esse Antônio acabou com minha vida - disse Leôncio, pai de quatro filhos, casado, comerciante de materiais de construção que gostava só de dormir de coxinha com a Berenice durante o expediente. Seu Leônico sofria de terríveis insônias e gostava do silêncio durante o expediente, se em reunião ninguém o atrapalhava. Queixava-se da Eugênia, sua mulher que sofria de bruxismo.
- E eu, então? Vocês nem sabem com ela gosta da chupada - Pedro passou o guardanapo na boca - eu nunca mais na vida terei outra mulher como a Berenice, terei que suportar a Carlinha, cada dia maior, não para de comer - queixou-se, o dono da fundição.
Hermes, casado, dois filhos, dono da única concessionária de veículos da cidade, confessou que comia a Berenice uma vez por mês, quando a mulher viajava para visitar a mãe na capital. Era o que ele pensava.
O que acontecia mesmo é que Berenice colocava um cinto nela, preso um pênis de silicone e brincava com o Sr Hermes, ela que era a protagonista ativa.
- Conheço a Berenice desde os 18 anos quando fui jurado daquele concurso pra miss da cidade que ela tirou de letra. Depois eu paguei as contas da participação no concurso estadual. Aqueles idiotas lhe deram o quarto lugar, eu a consolei, ela me abraçou, puxou-me pro seu quarto, deitou-se de bruços, tirei seu vestido, ela ficou quieta, nada de calcinha, fiquei doido e me deu bem gostoso. Na cama ao lado assistia a tudo a miss Votuporanga que ficou com tanto tesão que entrou na nossa briga, quase as duas me mataram de ataque cardíaco.
Seu Alberto, homem de 65 anos, avô de 11 netos, vivia às turras com a mulher. Desde quando bateu nela nunca mais teve seu respeito. Aos amigos, gabou-se daquele feito com a Berenice durante o concurso estadual, impossível de se guardar só para si. Entretanto, omitiu o fato que os inúmeros remédios que tomava para se manter vivo, mais uma péssima cirurgia da próstata resultaram que ele brochou pra sempre. Mesmo assim, Berenice toda quinzena passava para renovar os contratos do banco com a sua empresa e brincava com ele, beijos na boca, abraços, carícias, massagens. Ficavam juntos por duas horas, de prazer. Seu Alberto nem se preocupava muito com as taxas pagas pelo banco, era compensado.
Berenice conheceu Antônio quando este assumira a gerência do banco da cidade, ela era executiva de contas. Seus clientes: Leôncio, Pedro, Hermes, Alberto, Raimundo, Otaviano e Heinz.
Raimundo era o usineiro, o mais rico de todos. Berenice lhe vendia o seguro e investia a sua reserva pessoal escondida da esposa, descaradamente. Não tinha filhos, sua mulher era a dona verdadeira da empresa, uma megera com o marid que sonhava sair daquele casamento algum dia, idem a esposa. Mas ambos tinham saúde de ferro. Da Berenice apreciava o seu modo de fazer streap-tease, não a tocava, masturbava-se.
Otaviano era dono de grandes fazendas, da frota de caminhões e colheitadeiras de cana de açúcar. Mais de 500 empregados, folha de pagamento, todo o giro do caixa era exclusivo da agência atendida pela Berenice. Ao visitá-lo ela montava no seu colo. Otaviano, sem filhos, nunca conseguia chegar ao orgasmo com a mulher, percebia a frustração dela, mas o que posso fazer? Diferente era com a Berenice, ejaculação precoce. Ele se cuidava, fizera vasectomia.
Seu Heinz tinha 85 anos, viúvo, ele gostava da conversa da Berenice que, normalmente, visita-o às sextas-feiras quando aproveitava e dormia na sua fazenda, assim, descansava das atividades da semana. Era um velho avarento, pai de uma única filha que vivia do seu salário de professora do ensino médio - "se ela quer meu dinheiro que espere a minha morte", dizia.
Seu Heinz voltava no tempo ao apreciar a Berenice deitada nua ou tomando banho. No quarto que lhe oferecia na fazenda instalou mais de 20 câmaras em pontos estratégicos. Por vezes Berenice trazia a Adelaide dormiam juntas, amavam-se a noite toda. O velho acordava tarde quando destas visitas da Berenice.
Berenice descansava enquanto carregava pedras - poderia alguém afirmar, tranquilamente.
E foi nesta reunião convocada pelo Sr Heinz com a participação dos outros seis homens fortes da cidade que se discutiu o assassinato do Antonio, o usurpador.
Contratariam um pistoleiro do oeste gaúcho. Anos atrás utilizaram o serviço dele, até foi preso, mas aguentou firme por cinco anos, cuidaram da família dele, nada ele revelou à justiça sobre quem eram os mandantes.
O serviço fora a morte do prefeito que teimava em cobrar mais impostos e propinas. Tudo se resolveria num bem engendrado acidente de automóvel que nem o papagaio da Madame Gertrudes desconfiaria, mas o prefeito sobreviveu e tiveram que mandar matá-lo à bala mesmo.
- Já chamei o Tinzão, chegará amanhã. Quer RS180 mil, cada um paga 30, tem mais a parte do advogado dele e ajuda da família, mas isto só se for preso. Todos concordam? - exigiu pronta resposta o Sr Heinz.
Concordaram. Mandaram chamar o Tinzão.
Dias depois, nova reunião, fato novo. A rádio noticiara no programa matutino do dia anterior o assunto que caiu como uma bomba sobre os sete homens fortes: a Berenice estava grávida do Antonio! Filha de uma égua!
E pior, ainda. A Adelaide lhes trouxe a revelação, mais bombástica, ainda. O Antônio era gay e nunca fizera sexo coma Berenice, ela o utilizava como escudo aos crescentes comentários na cidade sobre sua solteirice, contou que as fofoqueiras começavam a desconfiar de que tinha algum amante casado. Antes que isto prejudicasse seu trabalho no banco Berenice arranjou um marido e o destino lhe trouxe justamente o seu chefe Antonio.
- O filho é de algum cliente da Berenice - avisou-os, Adelaide.
A reunião se tornou tensa e cheia de revelações.
- A Berenice não pode ter este filho - falou o Raimundo - tem que sumir, também. Todos concordaram, novamente.
Começou pelo Sr Heinz, falou que era apenas um velho voyeur, que nunca tocou nela.
Leôncio disse do seu prazer em dormir de coxinha com a Berenice, tinha fidelidade à esposa, com ironia falou do bruxismo dela que atrapalhava o seu sono leve.
Pedro contou que somente recebia uma bela chupada corriqueira dela, que enjoava desta monotonia mesmo serem lindos e carnudos os lábios da Berenice, continuava porque temia perder o atendimento especial que desfrutava "neste ótimo banco".
Hermes nada disse sobre suas fantasias, mentiu que conversavam muito no motel. Os outros fingiram acreditar, Hermes era boa praça que sofria em teimar em não sair do armário e ali ninguém era flor que se cheire e muito menos preconceituosos.
Alberto revelou que somente fizeram sexo durante aquele concurso estadual, hoje Berenice é quase balzaquiana e "eu gosto é de carne fresca, a Berenice é como se fosse uma sobrinha" - disse.
Raimundo contou sobre o streap tease da Berenice, original, único e espetacular. Nem uma transa superava essa performance dela, "se transasse estragaria tudo".
Otaviano afirmou sobre a ejaculação precoce e mostraria se preciso o atestado da vasectomia.
Sr Heinz nada disse e ninguém lhe exigiu justificativas.
Fez-se a coleta alguns dias depois e remeteram o dinheiro ao Tinzão que exigiu o pagamento integral antes de executar o serviço. Como tinha tradição nessa turma de mandantes, concordaram.
Semana seguinte, outro acontecimento que se sucederam semana a semana e causou transtorno na cidade como nunca se vira antes.
Seu Leôncio gostava da pesca, os peritos atestaram que dormiu e caiu do seu barco de pesca, morreu afogado.
Pedro sofreu grave acidente na fundição quando o ferro derretido escapou do tacho e o atingiu em cheio, morreu na hora.
Hermes teve morte duas semanas depois. Encontraram-no na capital, vestido de mulher, dentro de um quarto de motel, tudo indica que foi algum homofóbico, as câmaras de segurança mostraram outro travesti saindo do quarto, de peruca, maquiado, impossível de reconhecê-lo.
Alberto morreu na mesma semana, ataque cardíaco, num exame mais apurado descobriu-se que suas pílulas betabloqueadoras não passavam de farinha prensada.
Raimundo bateu de frente em um caminhão quando este ultrapassava em faixa amarela contínua. Sua mulher Carlinha o avisou inúmeras vezes deste perigo. Morte estúpida.
Otaviano morreu quando caçava urso num parque nacional americano, o GPS o levou ao encontro do chip da coleira do urso que estava no sentido contrário daquele que devem ficar os caçadores e um balaço na sua cabeça derrubou-o sem dó.
O Seu Heinz faleceu, diabético, encontraram-no numa poltrona segurando a colher que cavar antes num pote de doce-de-leite uruguaio que adorava. Padeceu ao meio das fotos da filha. A cena contada em seu velório foi reconfortante às pessoas, entenderam que aquele seu jeito avarento de tratar as pessoas e a filha era algum trauma que caíra por terra, ele tinha era um grande amor de pai escondido lá no fundo da sua alma.
Alguns meses depois a vida na pequena cidade voltou ao normal, as viúvas e a filha assumiram os negócios.
Infelizmente, tristeza mesmo foi o casamento da Berenice que não prosperou. Antonio fora embora da cidade, morreu, morte não revelada.
O banco reconheceu o esforço da Berenice quando choveram os pedidos para que permanecesse na agência, insistência mais ainda das seis viúvas e da filha do Seu Heinz para que a promovessem, e assim se fez, ela assumiu a gerência do banco.
Do sul embarcou para São Paulo um gaúcho baixo e barrigudo. Barba por fazer, tipo que passa desapercebido, viajava para o acerto final de contas.
Na capital, num hotel de três estrelas, Berenice pagou R$2.4 milhões ao Tinzão, pelo bom serviço executado. Seis viúvas, uma filha e ela própria pagaram cada uma R$300 mil. Tinzão se aposentaria de vez, fez bom trabalho.
Berenice e Adelaide criaram com carinho o Heroíto, um pequenino japonês muito parecido com um verdureiro de Votuporanga.