"A incapacidade de se prever outliers implica na incapacidade de se prever o
curso da história, dada a participação de tais eventos na dinâmica dos acontecimentos.
No entanto, agimos como se fôssemos capazes de prever eventos históricos,
ou, ainda pior, como se fôssemos capazes de mudar o curso da história.
Produzimos projeções de déficits da previdência social e de preços de petróleo para daqui a trinta anos, sem perceber que não podemos prevê-los nem mesmo para o próximo verão — nossos erros de previsão cumulativos para eventos
políticos e econômicos são tão gritantes, que preciso me beliscar para ter certeza
de que não estou sonhando sempre que observo o registro empírico. O que é
surpreendente não é a magnitude de nossos erros de previsão, mas sim nossa
falta de consciência dela. Isso é ainda mais preocupante quando nos envolvemos
em conflitos mortais: as guerras são fundamentalmente imprevisíveis (e não
sabemos disso). Devido a essa incompreensão das cadeias causais entre política e ações, podemos disparar facilmente Cisnes Negros, graças à ignorância agressiva
— como uma criança que brinca com apetrechos de um laboratório infantil de
química.
A incapacidade de se fazer previsões em ambientes sujeitos ao Cisne Negro,
aliada à ausência geral de consciência dessa condição, significa que certos
profissionais, apesar de acreditarem ser experts, na verdade não o são. Com base
em seu registro empírico, eles não sabem mais sobre a própria área de estudos
do que a população geral, mas são muito melhores em narrar — ou, ainda pior,
em impressionar com modelos matemáticos complicados. Eles também são
mais inclinados a usar gravatas."
(A lógica do Cisne Negro: O impacto do altamente improvável - Nassim Nicholas Taleb)