O preço inviável dos imóveis no Reino Unido, pelo menos para as gerações mais novas
comentada em 21/11/2017 14:04

Parece o Brasil:

"Like all the parents I speak to, Jenny’s dad, Max, 57, recognises that things are much harder for today’s cohort than his own. Jenny’s flat in Sydenham is just down the road from the first house he and his wife bought, in Penge, in 1987. That was a three-bedroom terrace house with a £60,000 mortgage. “Now those properties are going for well over half a million pounds. I must admit that when I first saw the flat [Jenny chose], I thought, ‘Crikey, you’ve spent all that money for this?’ Jenny told me that even with £150,000 cash, she was laughed out of some estate agents.”"

Matéria interessante.

Vejo situação semelhante aqui em Brasília, senão pior. Na região central (e até em algumas adjacências), um apt acima de 40 m2 costuma partir de meio milhão. Se for para acima de 100 m2, é milhão pra cima. E nada muito bem acabado ou moderno, paga-se localização. Soma-se a isso ser uma região quase que toda tombada, dificultando crescimento vertical.

O que ameniza e de certa forma colabora para os preços é o fato de a maioria da população ser do serviço público e ter aquela "renda garantida", muitas vezes acima da média do mercado. Financiamentos reinam dessa forma.

Recentemente, amigo meu, casado e com uma filha, entrou num financiamento de um apt de 160 m2 bem novo e reformado no Noroeste. 1,7 milhão. É de sentar e chorar, pelo menos pra mim. A dívida é a perder de vista. Se vc não fizer algum malabarismo ao longo dos anos, é pagar até morrer. Não sei até que ponto felicidade em ter casa própria vale a pena.

Eu tenho uma situação muito privilegiada, tanto por parte da minha família quanto pelo meu esforço, de forma que não terei muitos problemas se quiser comprar um apt ou alugar. No momento, tendo a optar por alugar. Acho MUITO dinheiro empatado em um imóvel mediano, mesmo que bem localizado. Diferente das pessoas da reportagem, não acho aluguel um desperdício de dinheiro. É um custo, como qualquer outro, e, geralmente, te esfola MUITO menos do que um financiamento. Sem contar que não consigo entender as pessoas que financiam e agem como se o imóvel fosse delas. Basta um atraso ou um acidente na vida para o banco retomar ele da pessoa. Meio paradoxal.

Se eu não tivesse condições de pagar aluguel ou de comprar um imóvel com o meu emprego atual, nem tivesse muitas perspectivas, eu me mudaria para uma cidade menor tranquilamente. Até que ponto vale a pena insistir em um emprego em uma cidade que te esfola financeiramente? Até que ponto vale a pena manter os laços familiares e de amizade em uma cidade na qual vc vive como se fosse um escravo pelo custo de vida? De se pensar.

Brasília é engraçada: desenhada por um arquiteto comunista, ao mesmo tempo é a mais segregacionista das cidades brasileiras, e também a que mais privilegia o uso de carro.

Algo que encarece MUITO os imóveis atuais no mundo todo são as regulações. A maioria dos prédios de NY não poderiam ser feitos nas regulações de hoje. É muita regrinha de recuo, de aproveitamento, de altura, etc. Acaba com qualquer possibilidade de adensamento.

Reguladores não entendem que a única forma de uma cidade grande ser eficiente é com alta densidade:

É exatamente isso... pagando atualmente 0,18% ao mês (do suposto preço) pelo aluguel de minha casa, me sinto bem confortável.
Serial algo assim, à grosso modo:
Se eu investir 1/3 do valor do imóvel que moro em FIIs eu consigo ter o mesmo valor do aluguel. Se tivesse certeza que moraria por aqui nos próximos anos, com certeza proporia um contrato atípico.
Porém, como autônomo e sem nenhuma "estabilidade" eu vou renovando de 3 em 3 anos mesmo...

Aqui em casa costumamos locar de ano em ano mesmo, com renovações automáticas.

Claro. Cada caso é um caso. Mas se o cara não conhece bem a vizinhança/prédio/região, recomendo fechar por um ano o primeiro contrato. Conheci muita gente que pagou multas pesadas por descobrirem dissabores depois de se estabelecer no imóvel.

O contrato atípico protege os dois lados. Mas prefiro não restringir minha liberdade, mesmo que o imóvel seja bom. Pode ficar ruim por diversos fatores, se bem me entendem rs.

Essa questão do adensamento é bem clara mesmo. Restrição demais eleva o preço dos imóveis (exceto lojas, dependendo), o custo do transporte e a lentidão do trânsito. Uns anos atrás vi que NY tava mudando as regras p/ tentar incentivar adensamento com edifícios altos com imóveis menores, não sei se continuaram e/ou se teve resultado.

Brasília é uma coisa bizarra porque a oferta é muito baixa. De cara já tem 30% de área verde, reduzindo a oferta em 1 terço. Além disso, tirando a área de bancos/hotéis, tem limite de apenas 6 andares (alguns lugares com limite de 3 andares e outros só permitem casas). Pra complicar ainda mais, praticamente todos os lotes vazios são do governo ou da Universidade de Brasília e só são vendidos via licitação. E ambos realizam venda bem lentamente, a conta-gotas. Nos arredores de Brasília boa parte das terras/lotes também é do governo e/ou de empresas estatais. E tem a estabilidade de servidores públicos, que faz com que essas pessoas se sintam mais confortáveis em assumir prestações mais altas por prazos mais longos.

Mas parte dos preços altos na cidade é explicada por fundamentos também. Bairros mais nobres com proximidade do local de trabalho das pessoas de renda per capita bem elevadas, trânsito apesar de ter piorado é considerado bom quando comparado ao centro de outras regiões metropolitanas no Brasil, servilos públicos "menos piores" que em vários lugares do país e qualidade de vida bem acima da média do país, considerando diversos aspectos. E, apesar de reduzir a relação aluguel/valor do imóvel, essas coisas também são boas pra quem compra para alugar.

No caso de Brasília, acho bastante atípico mesmo... paga-se caro na região central, ou então você vai morar mais longe se sujeitando a um nível maior de violência (transito e crime). Mesmo morando longe você ainda acaba pagando caro, pois os imóveis tendem a ter muito mais infraestrutura comunitária.
Quando contabilizei que para morar mais ou menos como gostaria precisaria desembolsar cerca de R$ 1.200.000 (nada luxuoso) e calculei o número de anos que precisaria para juntar tal volume de recursos (e imobilizar em um só ativo), decidi que era melhor buscar uma transferência para uma cidade menor no interior.
Eu teria de escolher entre ter um imóvel ou uma futura independência financeira.

não tenciono morar no reino unido

"Brasília é engraçada: desenhada por um arquiteto comunista, ao mesmo tempo é a mais segregacionista das cidades brasileiras"

Na verdade, as quadras 400, cujo limite é de 3 andares, foi projetada para as classes mais baixas. Tanto que é normal não terem elevador ou garagem e serem menores.
Claro que, com o tempo, a localização passou a contar mais na valorização desses imóveis do que as demais características.

Um dos maiores problemas de Londres é que seu urban sprawn não pode crescer nem mesmo horizontalmente, por causa do Metropolitan Green Belt, que restringe tremendamente e artificialmente a oferta de espaços para construção ao redor do núcleo central - e que já é bem maior em área que a própria cidade, absurdo dos absurdos.

Isso, evidentemente, ajuda a levar o preço dos imóveis da Grande Londres para a estratosfera. E depois, ainda põem a culpa na malvadona especulação imobiliária capitalista...