Ser rico é não precisar de dinheiro
comentada em 20/02/2018 22:34

Parei de ler no "lula... condenado por corrupção num julgamento controverso".
Perdeu a credibilidade.

Bem, tecnicamente o julgamento foi (e ainda é) controverso. Mas poucas coisas em Direito não geram controvérsia, especialmente quando envolvem grandes figuras, então ser controverso não desabona o julgamento.

...e ter o suficiente quando precisar.

Na verdade a ideia é mostrar o que uma pessoa tão simples pensa de ser rica... O resto é o resto.

@frankdukes , o negócio lança que a Belo Monte foi no governo Lula de raspão assim no começo.

Depois no final, apos contar as tragédias, tem um paragrafo inteiro, falando que o Temer tá vendendo tudo pra se manter no poder [huhu][huhu]

Os cara não se aguentam [huhu][huhu]

Basta olhar pra essas pessoas para concluir que nunca foram ricas. A que ponto chega a demagogia...

Já eu acho que eram, sim, ricas, dentro de uma visão de riqueza. A riqueza também se mede pela adequação das posses às necessidades e desejos. Todas as necessidades que elas tinham eram satisfeitas com sobra, havia abundância de recursos na natureza para que elas pudessem coletar para o que desejavam. Agora, elas foram expulsas de suas propriedades pelo Estado e proibidas de extrair com seu labor os recursos livres na natureza. Tornaram-se pobres, já não possuem mais os meios para satisfazer suas necessidades e desejos.

Eu trabalhei cinco anos na Amazônia. Sei bem a que tipo de riqueza aquelas pessoas estão expostas: sem médicos, sem estradas transitáveis na época da chuva, sem educação - enfim, sem nada. Se isso é riqueza, não sei o que é pobreza. E, infelizmente, é a isso que determinados grupos políticos querem reduzir a população brasileira. Eu cansei de dar carona e socorrer pessoas que precisavam de atendimento médico naqueles lugares. Esse idílio paradisíaco que pintam não existe lá. O que existe é a precariedade no atendimento às condições mais básicas do ser humano. Espero em Deus que não joguem o país inteiro nessa "riqueza".

Até na escravidão o ser humano pode encontrar riqueza. A ideia de riqueza é subjetiva. É também variável com a época. Mesmo um empregado de baixa qualificação no Brasil de hoje tem muito mais qualidade de vida e condições de obter bens e serviços que um senhor feudal da Idade Média. Se essas pessoas vivem em alguma época perdida do mundo, nesse mundo indígena que lhes é particular, sem necessidades que os tempos modernos nos trouxeram, natural que se sintam ricas.

Mas, concordo contigo. É uma noção de riqueza que não é compatível com a maior parte da população brasileira. Certamente não é comigo. Espero que não cheguemos a esse patamar de riqueza, seria aí que fugir do país se tornaria uma boa alternativa...

Exato @oxe

[uhmm]
Moro na Amazônia e, inclusive, já trabalhei perto de Altamira, tendo que passar por lá com frequência.
É como o @sandroroda escreveu, falta tudo nesse estilo de vida.
Vou te falar, tem nada de lindo em ser ribeirinho não:
Uma casa de madeira de dois cômodos, no meio do mato, na beira do rio e longe da sede do município.
Mas vem o sonhador e diz: mas ele não precisa de nada, tem tudo na floresta.
Eu digo, porque eu vi, no meio do mato não tem nada disso: ele continua precisando comprar arroz, feijão, carne, remédios, escola pros filhos (se não, não recebe o bolsa família).
Não plantam, nem criam Borra Nenhuma (antigamente, há uns 25 anos, até que sim). Vivem só a custa de bolsa, aposentadoria (aos 55a sem ter contribuído com PN) e seguro defeso.
É muito legal olhar a casinha na beira do rio vendo de longe: de perto tem alguém com a bunda de fora kagando no rio e em baixo as crianças brincando e tomando banho no mesmo rio.
[uhmm]
Será que temos que manter isso mesmo?

Eu acho que se distorceram muito o conceito de riqueza, principalmente no Brasil.

O estado natural do homem é a pobreza, viemos ao mundo sem nada, dependendo completamente dos cuidados dos pais.

A riqueza existe como resultado da produção de bens e serviços, por isso que se olhar o país e o mundo, hoje o mundo é infinitamente mais rico do que há 150, 200 anos atrás. A maior parte da riqueza existente hoje, não existia naquela época.

Essas populações nos rincões do Brasil tem apenas a pobreza e o atraso, são a visão de um passado recente do Brasil e que tristemente ainda são também o presente.

Essas pessoas se viram e sobrevivem como podem, mas não há nada de idílico ali. E há muita pobreza, bebida, violência, abuso (sexual) infantil e atraso.

É como os colegas citaram sobre os ribeirinhos.

"Até na escravidão o ser humano pode encontrar riqueza."

@Oxe, desculpe, mas isso é o completo contrário da riqueza. A pessoa não tem sequer a posse do próprio corpo, nem da sua vida ou do seu trabalho.

Eu digo que a escravidão é a miséria extrema na sua maior expressão. A pessoa não tem nada, mas tão nada que nem o corpo a ela pertence, ela não é uma pessoa, é um propriedade de outra, que pode valer menos do que outros bens que o dono dela possui.

É a tirar a humanidade e transformar o ser humano em coisa.

A única liberdade que o escravo possui é no pensamento, visto que isso ninguém consegue (ainda) deter.

"A riqueza também se mede pela adequação das posses às necessidades e desejos. "

@Oxe, esse trecho é a pura verdade, o homem mais rico é aquele que menos precisa ou mais ainda, o que menos deseja, visto que confundimos muito o desejo com a necessidade.

Isso até se aplicava as tribos indígenas na época do descobrimento, mas hoje, isso se aplica aos que tem o básico atendimento como cidadãos. E índios, ribeirinhos, morador do interior ou das cidades, se a pessoa não tem trabalho, acesso a médico, estudo, moradia, ele não chegou ainda nesse ditado, falta muito pra ele ainda. Falta o básico.

Eu discordo, @jucemar

Dizer que a riqueza reside em atendimento a necessidades básicas, por exemplo, implica em valorar de forma objetiva essa riqueza. Implica em dizer exatamente o que é necessidade básica. Comer de forma diversificada é necessidade básica? Então, por séculos a humanidade, que comia mal e sofria doenças por isso, jamais pôde ser rica.

Ter riqueza é ter cuidados mínimos de saúde? Então por toda a História, a humanidade jamais foi rica. Havia riqueza num ambiente tão insalubre quanto a Europa medieval? Ou mesmo antes, na Antiguidade Clássica?

O raciocínio continua. Algumas pessoas dirão que é justamente a evolução no atendimento a essas necessidades que evidencia o crescimento contínuo da riqueza no mundo. Pode até ser, mas, se é assim, então não há e nem jamais haverá pessoas objetivamente ricas. Pois daqui a 1000 anos certamente as condições tecnológicas atuais serão consideradas risíveis e nossas condiçoes de vida, bárbaras. Assim como enxergamos a Idade Média hoje em dia.

Mais correto é dizer que a riqueza, nesse sentido de atendimento às necessidades, se mede em termos relativos. Uma pessoa é rica quando, dentro da realidade de seu tempo e de seu local, ela possui mais condições de atender às suas necessidades. Assim, por exemplo, a riqueza no Brasil é distinta da riqueza na Europa Ocidental, e ambas são distintas da riqueza numa tribo indígena da África. E todos somos ricos em comparação com nós mesmos há 500 anos e também somos todos pobres em comparação com nós mesmos daqui a 500 anos.

Nesse sentido, o ribeirinho pode ser considerado pobre ou rico, a depender do âmbito de comparação. Comparado ao resto do Brasil, ele é pobre. Comparado com sua realidade local e a de seus pais, talvez ele se enxergue rico.

Mas eu não gosto dessa definição.

Do meu ponto de vista, a riqueza não está nos bens possuídos, está na mente do indivíduo. Mesmo o mais roto escravo, se tiver a mente livre, ainda pode ser rico.

E é por isso que eu falo de adequação das posses (ou melhor, daquilo que está disponível, não necessariamente bens materiais) às necessidades e desejos. O ser humano que cultiva na sua própria mente o sentimento de desapego do mundo já não precisa de tanto quanto uma pessoa materialista (isso não é um julgamento de valor quanto a um ou outro).

Pois, para mim, a riqueza nada mais é que o sentimento de que o que se tem é bastante.

Segundo a reportagem, o indivíduo ribeirinho entrevistado se sentia rico, a despeito de todas as condições precárias de vida anteriores. E se sentia assim porque tudo o que ele desejava no dia-a-dia podia ter, bastando ir buscar. Ele coletava as frutas que comia e matava o próprio animal. A casa que possuía era de seu agrado. Especialmente, segundo o texto, ele apreciava a liberdade e a tranquilidade de viver na natureza.

Hoje, ele se sente pobre porque o que podia ter antes, ele já não tem. Não tem mais a comida que lhe agrada e nem tem mais a casa que queria. E, principalmente, perdeu a liberdade. Hoje, vive com medo porque mora onde há muitos homicídios e volta e meia vê um corpo no chão. E agora precisa de uma aposentadoria do governo pra comer porque a perícia que tem é adequada para a vida no mato, mas não para o emprego urbano.

Ou seja, ganhou dinheiro, que não tinha (não vendia nada, não prestava serviços). Mas perdeu o que o dinheiro que agora recebe não consegue comprar. Perdeu tranquilidade, perdeu liberdade e perdeu a satisfação de seus desejos.

Logo, o ribeirinho conclui que antes era rico, mas que, agora, é pobre. E essa definição, no contexto de riqueza que eu emprego e que ele, aparentemente, também emprega, está bastante adequada.

Independente do que nós, enquanto indíviduos suburbanos repletos de preconceitos sobre o que outros indivíduos podem querer ou precisar, achamos sobre isso.

Riqueza é algo objetivo, sim, ainda que não se precise numericamente o quantum necessário para tal, sabemos que é necessário que o indivíduo tenha um patrimônio considerável para ser considerado rico. Claro que se deve considerar a época, o desenvolvimento tecnológico etc. Mas, na nossa época, com certeza esses indivíduos não são ricos. Longe disso. Não se trata de preconceito, mas de um fato: se precisarem de atendimento médico, por exemplo, terão que recorrer à ajuda do estado para se tratar (com o dinheiro de todos os demais cidadãos, obviamente, porque o estado não produz absolutamente nada) e isso, com certeza, não é ser rico. Claro que o indivíduo pode optar por viver uma vida humilde, como São João Batista ou São Francisco de Assis e tantos outros Santos - não há nada de errado nisso, mas claro que viver uma vida de privação material não é ser rico, a não ser do ponto de vista espiritual.

@oxe,

A humanidade em 99% da história, era pobre, apenas uma minoria era rica, e não por coincidência era quem estava no poder e os que orbitavam esse poder. Foi assim até começarmos a entrar no século 20. A partir da revolução industrial, da divisão do trabalho, é que a riqueza produzida começou a ser massificada.

Os camponeses, os agrários, os nômades, todos eles não eram ricos, claro, sempre há o 1% que era rico, mas a maioria era pobre, e como disse estão distorcendo o conceito de riqueza e esticando ele ao máximo. A maioria das pessoas na história da humanidade, trabalhava desde pequeno e parava quando morria ou quando ficava velho e os filhos e netos continuavam trabalhando para que o velho pudesse comer.

Sim, estou falando de riqueza material, de dinheiro, de comprar coisas, de ter posses e bens.

O escravo não é rico na mente dele, a mente dele é o último refúgio de liberdade e humanidade. Dizer que um escravo pode ser rico na mente dele é como dizer que ele será livre quando morrer e não tiver mais um corpo a ser explorado. Não a toa o estado natural do homem é a pobreza, que na maior parte da história da humanidade ele era escravo, nem posse do próprio corpo ele tinha.

Nos usamos o termo riqueza para dizer aquilo que as pessoas tem em abundância, o ribeirinho diz que se sentia rico porque antes ele vivia onde queria, hoje ele está em um ambiente hostil, pobre e miserável, sujeito a violência. Antes ele se sentia feliz, agora está infeliz e com medo. O ribeirinho tinha o seu paraíso, foi expulso dele, ele podia ser feliz, podia até se considerar rico, até o momento que

Não estou dizendo que todos devem viver no meio urbano e nem que o meio urbano é melhor. Mas é um caminho sem volta. Não estou dizendo que somos melhores do que outros. Não estou tendo preconceito com essas pessoas quando digo que elas são pobres. Estou apenas dizendo que quando o filho fica doente, o ribeirinho precisa levar o filho ao médico. Se não tiver meios para isso, o filho irá morrer.

Não concordo com a relativização absoluta das coisas. Felicidade é subjetivo, riqueza é você ter muito ou precisar de pouco. Se eu preciso de pouco, ótimo. Mas se eu preciso de algo e não tenho como obter, então me falta riqueza para isso. Materialmente falando é claro.

Um escravo sempre será pobre. E sempre será infeliz. Porque lhe falta a liberdade. Sem liberdade, não há felicidade sem riqueza. Poderá haver ignorância da própria situação. Mas nunca a real felicidade ou riqueza.

Eu percebi apenas agora uma coisa, eu entrei na discussão a respeito dos termos e da condição do homem.

Entrei meio de lado na discussão.

Não estou defendendo a expulsão dos ribeirinhos e nem a construção da usina. Me dei conta agora que parece que estava defendendo a situação atual dessas pessoas, defendendo a sua retirada e a destruição do seu modo de vida, defendendo tudo o que a construção da usina está gerando, me desculpem se dei essa impressão. Não defendo isso em absoluto.

A diferença entre o Gabiru e o Ribeirinho é que este não morre de fome, só das demais mortes causadas pela miséria.

Mas eu não gosto desse tipo de matéria. É claramente ideológico.

A ideologia da matéria é denunciada na falsa imparcialidade que o autor acaba se entregando quando diz que a usina é uma "mancha constrangedora na biografia do PT e do Lula", ou seja, ele passa a mão na cabeça dos companheiros. Foi uma mancha, um erro, como o mensalão, petrolão, BNDES, triplex e escambau. O lula que foi condenado num julgamento "controverso". Novamente passa a mão, como foi condenado por corrupção, só pode dizer que foi controverso, faltou apenas o "polêmico". É aquela história, você foi corrupto, eu apenas errei. Você é um ditador, eu sou polêmico. A melhor parte fica quando o autor fala do temer: "já mostrou que faz qualquer concessão aos deputados para se manter no poder", como se os outros também não fizessem, Ele é corrupto, o outro foi controverso.

Mas enfim, a parte os artigos claramente ideológicos, continuamos.

Se foi o ribeirinho mesmo que disse as frases no texto, ele mesmo já responde algumas questões aqui:

"Ser rico é não precisar de dinheiro" - Ele está errado, e está sofrendo por isso, infelizmente. Este mundo é material, e riqueza sempre estará relacionada a dinheiro, até que o mundo mude a ponto de o dinheiro ser desnecessário e deixe de existir.

"Ser pobre é não poder escolher" - Ele está certo e também está sofrendo por isso, justamente por ser pobre, ele não pôde fazer nada a respeito e teve de se sujeitar a situação imposta. "Ou assina, ou afunda junto"

Riqueza - Independência - Liberdade: Formam um triângulo. Só é rico quem é independente e livre. Só é independente quem é rico e livre. Só é livre quem é independente e rico. "Rico" neste caso é subjetivo na quantidade, é o suficiente para não ter de se sujeitar a qualquer situação imposta a pessoa. Num mundo material, estamos sujeitos as vicissitudes materiais, e portanto, tudo isso é relativo no grau, ninguém nunca poderá ser rico, independente e livre num grau máximo. O grau máximo exige que o mundo e o ser não seja material. Chegamos na religião. Chegamos ao mundo do além túmulo.

Infelizmente, aí chegamos ao ponto do debate em que o debate se torna impossível. Porque estamos debatendo definições. Eu entendo o conceito objetivo de riqueza, mas não concordo que ele é suficiente para explicar o que, de fato, importa: a percepção subjetiva de riqueza.

Podem repetir mil vezes que um pobre por critérios objetivos (arbitrários ou não) é, efetivamente, pobre, independente de se sentir como pobre, mas eu discordo. Porque qualquer definição de riqueza que contemple critérios objetivos terá que fazer recortes de época e de local mais ou menos arbitrários e discutirá sexo dos anjos.

Isso porque o acesso aos bens e serviços só importa porque satisfaz necessidades humanas e as necessidades humanas são subjetivas. Então, se eu defino objetivamente a riqueza como um determinado grau de acesso a bens e serviços (seja lá qual grau), então essa riqueza só será útil, na prática, na medida em que é compatível com a necessidade subjetiva dos humanos para o acesso a esses bens e serviços.

Como qualquer medida de riqueza serve principalmente para medir qualidade de vida, o que ocorre é que essas medidas objetivas standardizam, criam um padrão homogêneo para, a qualidade de vida. Presume-se que a medida objetiva de riqueza modela com eficiência a sensação subjetiva de riqueza para um número representativo de indivíduos.

Se o propósito é trabalhar com política social, com macroeconomia, ótimo. A modelagem jamais será perfeita, mas no máximo suficiente para trabalhar o fenômeno para um número significativo de indivíduos e, nesse sentido, é ótimo que haja uma definição objetiva de riqueza, pois isso torna o fenômeno comparável entre amostras. O cuidado aqui é no sentido de compatibilizar o criterio adotado de riqueza à percepção subjetiva geral de riqueza. Ter um jatinho particular não pode ser utilizado como critério de corte entre "miseráveis" e "pobres", já que a percepção subjetiva da maioria das pessoas de qualidade mínima de vida para uma pessoa pobre não inclui jatinho particular.

Mas, e esse é o ponto importante de ressaltar, eu não estou e nem me interesso em trabalhar com política macroeconômica ou social. Eu não conto em número de indivíduos o sucesso de uma ou outra política adotada, nem me interessa ter comparabilidade. Pra mim, só o que importa é analisar a riqueza a partir do indivíduo, a partir da percepção que o indivíduo tem da adequação entre suas posses às suas necessidades.

Nesse sentido, um determinado indivíduo objetivamente classificado como pobre pode se sentir mais rico que um outro indivíduo objetivamente classificado como rico. Posto que esse rico possui muito mais desejos e necessidades que aquele pobre, de forma que mesmo suas posses objetivamente superiores não são compatíveis com suas necessidades desproporcionalmente superiores.

Para mim, portanto, não interessa qualquer definição objetiva de riqueza. Se meu interesse é definir riqueza como grau individual de conforto e tranquilidade advindo das posses materiais, só me interessa uma definição subjetiva, que parta da percepção individual quanto à adequação das posses aos desejos e necessidades.

Isso porque, no fim, é completamente irrelevante se um indivíduo é rico ou pobre. Só interessa como o indivíduo se sente. O resto é discussões de burocratas e técnicos encastelados fora do mundo real, discussões essas que, infelizmente, precisam correr o risco de serem estéreis ou desvinculadas das percepções individuais, já que, na prática, é impossível perscrutar as mentes de todos os indivíduos (ou mesmo de um único dado indivíduo) e já que, na prática, o número de indivíduos na amostra é tão expressivo que torna a análise impossível ou excessivamente complexa sem uma modelagem homogeneizadora.

E é por isso que o debate, quando chega ao ponto da definição, deixa de ser viável. Porque os pontos de vista são distintos e, certamente, as conclusões serão distintas.

Para vocês, os ribeirinhos passam necessidade e são objetivamente pobres e precisam de mais recursos. Para mim, os ribeirinhos podem ou não precisar de mais recursos, conforme eles se sintam pobres ou ricos com os recursos que já possuem e, portanto, são mais ou menos pobres conforme essa mesma percepção varie. Qualquer riqueza acima do precisamente essencial para a satisfação de todas as necessidades e desejos dos vários indivíduos da sociedade é riqueza excessiva. Ou pelo menos é excessiva enquanto os indivíduos não criam novas necessidades, processo que ocorre continuamente.

@oxe,

Concordo em partes com você. A questão da riqueza precisa sim de um recorte de local e época. Mas na minha visão tem um porém. Os índios em uma tribo isolada, sem contato com o mundo exterior, não são pobres, porque suprem as necessidades da sua sociedade com a floresta. Mas a partir do momento que entram em contato com a "civilização", com o dinheiro, e começam a interagir e precisar do dinheiro e dos bens e serviços que ele compra, passam a ser pobres, porque agora a floresta não é mais suficiente. E isso independente deles, na maioria das vezes eles são achados e arrastados para isso. Eles foram expulsos do paraíso.

Quanto a percepção da riqueza, o aspecto subjetivo de como a pessoa se sente, concordo que a pessoa pode se sentir rica, mas isso não muda a situação. Não digo que todos os ribeirinhos passam necessidades em total, mas se precisam de médico e se não possuem os meios para isso, então passam essa necessidade e são pobres nisso. Veja que eles foram expulsos do local e estão em uma situação que pela matéria é pior e eles não tem meios de mudar isso, essa é a pobreza de que eu falo, porque eles não tem riqueza e independência para mudar isso.

Além disso, temos outra questão, pobreza e riqueza são subjetivos na quantidade, quanto maior a riqueza, mais independente e livre a pessoa é. Por isso a avareza é um defeito, porque o sujeito se prende aos bens perdendo a liberdade, e paradoxalmente é menos rico por isso.

E também, tem outro aspecto, quando eu digo que considero os ribeirinhos pobres, porque eles precisam dos bens e serviços da sociedade e não conseguem, mesmo que se considerem ricos (acho a matéria totalmente tendenciosa, porque levam eles a dizerem isso, eles provavelmente eram mais felizes), isso não deprecia eles.

Não vejo a questão riqueza e pobreza como algo depreciativo de alguém, passivo de eu ser chamado de preconceituoso por isso. Riqueza e pobreza não são qualidades de uma pessoa. Ela não é melhor nem pior por ser rica ou pobre. Pode ter mais poder de ação, liberdade, acesso, etc. Mas obviamente não qualifica ninguém, caso contrário, todos os ricos seriam bons, todos os pobres seriam ruins, e vemos muito o contrário disso, principalmente num país como o Brasil onde a maior parte da riqueza não é conquista por mérito próprio e sim por meio de privilégios transferidos ou roubo mesmo.

Mas também concordo com você quanto ao debate, acho que estamos falando de definições diferentes, de pontos de vistas diferentes.

O único ponto que discordo de você efetivamente é quanto a como a pessoa se sente rica ou pobre em um certo grau, quando você cita o escravo por exemplo, não consigo concordar com essa abordagem, porque na minha visão é impossível alguém que não é dono de si mesmo ser rico, mesmo em pensamento, mesmo se considerando. Vejo isso como uma ilusão ou fuga de uma realidade terrível.

@jucemar

Perdão se lhe ofendi com o termo preconceituoso, não foi essa minha intenção. Eu só quis ressaltar o quanto nós, inclusive eu, tendemos a observar os problemas a partir de nossa ótica particular, que é moldada pelas nossas experiências e pelo meio em que vivemos. Por isso, tendemos a criar expectativas sobre o mundo que podem não corresponder às expectativas de pessoas em condições de vida bem distintas.

Eu entendo seus argumentos. Eu não discordo deles e você aparentemente não discorda dos meus (já que você concorda que indígenas, por exemplo, não podem ser considerados pobres a partir de uma visão nossa quanto à riqueza). Em algum momento no meio, acho que houve uma falha de comunicação.

Então, peço perdão por não ter conseguido explicitar meus argumentos com clareza suficiente, é uma falha minha. Vou explicitar de outra forma.

Do meu ponto de vista, o que importa mais é a compatibilidade entre desejos/necessidades e meios de satisfação desses desejos/necessidades. A riqueza plena é, portanto, possuir todos os meios para satisfação de todas as necessidades e desejos.

Se os ribeirinhos, ou seja lá quem for, possuírem necessidades não atendidas, eles não serão completamente ricos. Se eles conseguirem satisfazer todas as necessidades que possuem, serão. Então, partindo do pressuposto que você levantou de que eles precisam dos bens e serviços da sociedade, mas não conseguem, então eles serão pobres, ou pelo menos não serão suficientemente ricos.

A questão que eu quis levantar anteriormente é se eles realmente precisam desses bens e serviços da sociedade ou se isso somos nós projetando nossos próprios desejos e necessidades mínimos neles.

O que a reportagem pareceu demonstrar, a partir da declaração daquele ribeirinho específico, é que essas pessoas não precisavam desses bens e serviços da sociedade. A reportagem parece dizer que o ribeirinho tinha todas as suas necessidades e desejos satisfeitos enquanto ribeirinho. Se é assim, ele era rico e deixou de ser, na definição que estou usando.

Se, na verdade, ele não tinha satisfeitas todas as suas necessidades e desejos, mas apenas algumas, então há que se comparar se as necessidades e desejos que ele consegue satisfazer agora são em número ou grau maior do que antes. Se agora ele tem mais desejos e necessidades satisfeitos, então está mais rico. Se é o contrário, está mais pobre.

Isso independe da valoração que eu ou você possamos fazer, entende? Isso é algo que parte exclusivamente dele, já que esses desejos e necessidades são dele.

E é por isso que eu digo que um escravo pode ser rico. Porque, se o escravo atingiu aquele ponto de sabedoria tão almejado pelos estóicos, em que se desapegou de tudo que é material; se ele não sente necessidade de mais nada além do que consegue encontrar dentro de si; se aceitou o que a Fortuna lhe traz e lhe tira pelo seu caráter efêmero; então terá esse escravo sábio alcançado a riqueza, será tão rico quanto precisa ser. Posto que terá sua própria mente e nem o trabalho incansável, nem as condições de vida precárias, vão lhe afetar.

Mas isso é, logicamente, uma possibilidade teórica. A maioria de nós, se fôssemos escravos, provavelmente sofreria de banzo, de uma melancolia extrema, de uma saudade ou desejo profundo de liberdade. Não sei nem se é possível uma pessoa tão sábia quanto esse escravo estóico, talvez seja apenas um referencial ético inalcançável. Então, na prática concordo contigo nesse ponto também.

Morei em Altamira-PA por 3 anos quando trabalhei em Belo Monte.
Posso dizer que próximo de 100% da população saiu da "pobreza" para uma situação de "extrema pobreza".
Dentre as várias reuniões, lembro de um senhor que falou "Ok, vocês vão estimar o valor (valuation) da minha casa na beira do rio e vão me pagar isso, mas como vão estimar o meu bem estar de acordar todos os dias vendo o sol nascer, ir dormir ao ver o por do sol, como vocês vão estimar o valor da minha vaga de estacionamento que é meu barco de pesca ancorado ma minha varanda?"
Percebo hoje o quanto isso é verdade, ser rico não é ter dinheiro, é ter tempo para fazer o que se dar prazer e paz.

@oxe, sei que você não quis ofender ou algo parecido, nem me passou pela cabeça. Respondi daquela forma como maneira de responder o argumento. Tranquilo. Mas acredito que todos temos preconceitos, é algo inerente ao ser humano. O "preconceituoso" já é o problema porque reflete o extremo disso. Acho que usei a palavra errada na resposta.

Estamos debatendo pontos de vista. Nem tão diferentes assim.

Da minha parte, não gostei da matéria, achei tendenciosa.

Mas além disso, sempre que grandes obras de governos ou empresa vão a algum lugar habitado, principalmente fora das cidades, como essas pessoas vivem a margem da sociedade organizada, não tem poder ou influência, são o "efeito colateral" trágico do processo. E como as coisas sempre são feitas de qualquer jeito também, tudo piora.

A parte a visão idílica na matéria, o ribeirinho foi para uma situação pior. A situação anterior pelo menos ele sabia lidar e se sentia em casa.

Da minha parte, acho que é isso.

@ueno_san, verdade, mas é que o dinheiro acaba sendo o meio para você "garantir" isso. Mas só ele não basta, nem de longe. Esse é o mundo material que eu cito. O dinheiro é necessário nele. E mesmo nas sociedades afastadas onde ele não é necessário ou conhecido, quando o mundo chega nelas, acabou o "paraíso", e elas são arrastadas a força para o mundo material.

Essa discussao me fez lembrar de Diogenes filosofo, adepto do cinismo... numa conversa com Alexandre o grande sobre
bens materiais...

“Ao peguntar onde poderia encontra o tal sábio, Alexandre escutou que Diógenes morava num barril, nas proximidades de um porto, diziam. Alexandre, sabendo da enigmática busca empreendida por aquele estranho sábio, apressou-se em procurá-lo. Encontrando Diógenes sentado no chão ao lado de seu barril, tomando sol, o imperador, extasiado, apressou-se em lhe dizer: “Sou Alexandre, aquele que conquistou todas as terras. Peça-me o que quiser que eu lhe darei. Palácios, terras, honrarias, escravos ou tesouros jamais vistos. O que você quer, ó Sábio?”. Diógenes, levantou os olhos e respondeu: “Senhor, apenas não tire de mim o que não pode me dar”.

Percebendo que se posicionara entre Diógenes e o sol, Alexandre, perplexo ante a profundidade do que havia escutado, se retirou daquele lugar, deixando também a Capital grega, para nunca mais voltar.

Caí de paraquedas nessa conversa aqui, mas daqui a pouco irão dizer que os índios eram os verdadeiros ricos do Brasil e os Portugueses destruíram tudo.

Gente tudo isso , para chegar a conclusao que rico e a familia que gasta 2%
da sua renda passiva e ativa. E o restante vira patrimonio novamente.
Grande abraco a todos.

estas sao as discussoes q estao fecebookando a bastter.com
uma hora eu tranco

[huhu]

Desculpe, mas tenho que dizer isso. Muitos estão comentando sem ler o texto, outros leram o título e o primeiro parágrafo apenas e já vem filosofar com textão.

comentar sem ler eh uma habilidade q so eu tenho

[huhu]