O cash tende mesmo a acabar?
comentada em 15/05/2018 14:39

Na Alemanha mesmo é uma desgraça. Quase todo lugar tem máquina de cartão, mas só aceitam pra compras de valor mais baixo. De resto, tem que ser tudo no cash. A gente aqui no Brasil tá muito mal acostumado mesmo... 

Eu sempre tenho uns 20 ou 10 reais na carteira. Muito difícil andar com dinheiro.

Os governos estão investigando o potencial das criptomoedas pra isso. Alguns cogitam lançar criptomoedas próprias atreladas à moeda estatal pra substituir o cash. Dinheiro exclusivamente eletrônico permitiria o controle completo da economia pelo governo, o monitoramento de todas as transações, etc. A justificativa oficial é acabar com o crime, mas há artigos econômicos que dizem explicitamente que o cash é um obstáculo às políticas monetárias atuais, já que impede juros negativos (as pessoas logicamente preferem sacar o dinheiro a deixar na poupança e perder parte do aplicado).

Um artigo sobre isso de um dos Bancos Centrais dos EUA:

The Case for Central Bank Electronic Money and the Non-case for Central Bank Cryptocurrencies | St. Louis Fed

Isso é o sonho de todos os governos...

Governos por pior q sejam
nao fazem nada sem ser aceito

Acho que o Japão ainda é o país com menos adesão ao dinheiro de plástico (bem mais do que Alemanha), tanto que lá muitas contas de banco não tem cartão, ainda é uma cadernetinha.

Mas lá o povo é bem civilizado, se o governo mandar parar de usar dinheiro, eles param em poucos anos.

pra todo veneno tem um antidoto, nesse caso o antidoto natural são criptoativos descentralizados.
mas a massa sempre vai tomar na testa... fazer o que, ela gosta de ser massa...

Os governos querem digitalizar a moeda para exercer total controle sobre os cidadãos, inclusive implantando maluquices como juros negativos à força e o grande irmão monitorando todas as transações. Imagina o tamanho do poder do governo com cash banido: aperta um botão e uma pessoa está totalmente excluída da sociedade. É uma perspectiva apavorante.

A contra-revolução são as criptomoedas, que emulam digitalmente as propriedades do dinheiro físico, sem precisar de qualquer terceiro controlando o sistema.

Felizmente Satoshi Nakamoto conseguiu, quando criou o bitcoin, resolver o problema do gasto duplo (o principal empecilho ao dinheiro digital descentralizado), e o fez antes que os governos tivessem tempo suficiente para avançar nessa agenda de socialismo monetário total (dinheiro estatal obrigatório e 100% monitorado).


Mises Brasil - Guerra ao dinheiro, juros negativos e crise da Grécia: o Bitcoin é uma alternativa à crise

Observem, do texto que eu linkei, a seguinte passagem (ênfase no item 3):

"There are political and technological reasons why the use of cash may be diminishing. Cash is being condemned by many politicians and economists. According to Berentsen and Schär (2016), the argument of these cash critics essentially is based on three claims: First, the use of cash is inefficient and significantly more expensive than electronic payments. Second, cash promotes crime and facilitates money laundering and tax evasion.10 Third, cash hinders monetary policy by limiting the central banks ability to use negative nominal interest rates as a policy option."

O interessante do texto é que ele reconhece a necessidade de competição pelas criptomoedas privadas descentralizadas:

"In general, we don't think that a central bank should be in the business to satisfy the demand for anonymous payments. We believe that such a demand can and will be perfectly satisfied by the private sector, in particular through cryptocurrencies. History and current political reality show that, on the one hand, governments can be bad actors and, on the other hand, some citizens can be bad actors. The former justifies an anonymous currency to protect citizens from bad governments, while the later calls for transparency of all payments. The reality is in between, and for that reason we welcome anonymous cryptocurrencies but also disagree with the view that the government should provide one."

A conclusão é a de que os BCs deveriam criar depósitos eletrônicos para todos os cidadãos diretamente no próprio BC (ou seja, você teria um cash eletrônico acessível a todos sem intermédio de bancos) e que esses dinheiro eletrônico não deveria ser uma criptomoeda centralizada (coisa que o artigo reconhece não fazer sentido). Mas esse dinheiro deveria conviver (concorrer) com criptomoedas privadas descentralizadas, já que governos podem ser "bad actors".

A ideia de criar cash eletrônico, imune à interferência governamental (inflação, juros negativos, monitoramento pelo Grande Irmão, etc) e descentralizado, é justamente o propósito das criptomoedas com foco em serem moedas (que não são todas, apenas um subset do conjunto de todos os ativos expressos em criptomoedas).

O artigo (que é de um dos BCs dos EUA) estabelece que há espaço tanto para dinheiro eletrônico estatal quanto para dinheiro descentralizado (criptomoedas), deixando implícito que pessoas em países autoritários terão a via de escape do dinheiro descentralizado.

Difícil é os governos aceitarem essa concorrência, claro. Um governo autoritário não teria interesse algum em dinheiro descentralizado.

Quem quiser entender mais desses assuntos, recomendo ver os chats que eu dei lá na área de Moedas e Criptomoedas. Em especial, o primeiro chat e os chats do módulo de Moedas (do sexto ao décimo chat).

A digitalização completa do dinheiro conforme o governo planeja e a consequente manipulação da mesma poderia empurrar ainda mais pessoas para as criptomoedas. Com muita gente comum utilizando - não comerciantes, de preferência -, o governo não vai conseguir interferir tão facilmente sem incorrer em grande desaprovação. Se forem inteligentes, irão pensar duas vezes antes de uma possível perda de controle do próprio dinheiro.

As criptomoedas terão um papel importante na limitação de poder do governo, ainda que o dinheiro estatal permaneça.

Isso é sonho de todos os governantes autoritários e socialistas. Mas já tem avançado várias propostas para acabar de vez com sigilo bancário de todos aqui na Europa, supostamente para combater a evasão fiscal e blabla blá. Só tem uma coisa, outra dia um militar sueco alerto que se a Rússia atacar uma cidade acaba com a Suécia, pq o sistema financeiro todo e lá é como a população não tem dinheiro em casa, como compraria produtos?
É muito bonitinho no papel enquanto está tudo uma maravilha

Finalmente, não aguento mais correr atrás de moedas para meu negócio. To quase dando desconto para quem paga no cartão 

As burocracias estatais são um dos pilares de nossa civilização

Os outros dois são os mercados e as religiões

Qualquer um que conhece o mínimo de Teoria Política e de História sabe que moeda é o que se chama de raison dÉtat

Moeda é o próprio fundamento da existência do Estado,razão pela qual crimes envolvendo moedas(falsificação,sonegação de impostos,por exemplo) são duramente penalizados

E Estado vive de cobrar impostos

Daí que criptomoedas descentralizadas simplesmente são uma afronta à existência dos Estados,pois não é possível que sejam identificadas os participantes de uma negociação/transação de bens e serviços,e por isso impossível de cobrar impostos

Ou alguém vai se utilizar de criptomoedas autonomas e pagar impostos por que quer?[huhu]

Outra coisa que afetará os Estados é a perda do poder de emissão exclusiva de moedas,pois criptomoedas descentralizadas,se vierem a ser aceitas em massa,equivale a perda deste monopólio por parte dos Estados,é como se fosse o equivalente a "falsificação" de moeda,pois outros entes que não regulados poderão criar meios de pagamento

Outro assunto é que criptomoedas autonomas não respondem as políticas monetárias clássicas dos Bancos Centrais via taxas de juros,e isso também não interessa aos Estados

Não é este outro motivo pelo qual os Estados querem acabar com o dinheiro cash,pois no momento muitas pessoas estão entesourando euros em casa,para fugir das taxas de juros negativas,que estes sofreriam se estivessem depositadas num banco

Por tudo isso explicitado acima,embasados em fatos e no conhecimento de Teoria Política básica,tenho por opinião que criptomoedas autonomas,se vierem a se tornar algo importante,serão banidas e criminalizadas pelas burocracias estatais

Sua posse,negociação,aceitação,locais de negociação,etc,serão pesadamente punidos,como ocorre com sonegação de impostos,falsificação de moedas,etc,pois é uma ameaça frontal aos Estados

Tem muito por aqui notícia do tipo "empresa XYZ aceita bitcoins para compra de cuecas",e acham que isso é o caminho para regulamentação

Mas o negócio é bem mais complexo que isso

Criptomoedas autonomas subsistirão num ecossistema monetário paralelo subterraneo,para transações e financiamentos envolvendo terrorismo,corrupção,crime organizado,etc

Você está falando apenas de Estados atuais, Luz. Durante todo o período do padrão ouro, até o início do século XX (ou seja, a maior parte da história humana), cada moeda tinha um valor intrínseco expresso na quantidade de ouro lá contida (primeiro momento) e depois possuía um valor extrínseco expresso na quantidade de ouro lá representada (especialmente no Estado moderno, com o dinheiro escritural).

Mesmo depois, o padrão ouro ainda permaneceu por mais meio século através da indexação das moedas ao dólar e do dólar ao ouro. E durante todo esse período multimilenar qualquer pessoa poderia trocar uma moeda/cédula pelo ouro lá contido/lá representado. Ou seja, uma moeda de um país tinha de diferente da outra apenas a imagem do governante lá contida. Qualquer um poderia trocar a moeda de um país pela moeda de outro diretamente (ouro intrínseco) ou indiretamente (ouro extrínseco).

Ou seja, essa sua teoria aí, que naturaliza e torna autoevidente a necessidade de moedas estatais exclusivas, não é válida. O que se pode dizer, sim, é que, hoje (e, de certa forma, desde o início do Estado moderno, com as moedas escriturais), as moedas são mecanismo de soberania. A política monetária é um dos pilares da soberania, do poder extroverso, do domínio do Estado sobre o cidadão.

Ou seja, a política monetária está intimamente ligada à figura do Estado atual. Figura essa que é uma peculiaridade histórica muito mais que algo natural e eterno.

Então, concordo contigo que não dá pra saber se os Estados aceitarão as criptomoedas que se propõem serem moedas (falar de criptomoedas assim em geral inclui as criptomoedas que se propõem serem soluções comerciais, que são completamente diferentes). Dá pra saber que vários sinalizam isso diretamente e até incentivam o uso dessas criptomoedas enquanto meio de pagamento (exemplo, o Japão). Mas não dá pra saber como reagiriam num cenário de política monetária efetivamente ameaçada.

O que eu sei, no entanto, é que o Estado sempre se adaptou às mudanças com o tempo. O seu tamanho, significado e importância nunca se manteve constante, está sempre em fluxo. Por isso mesmo, o futuro não dá pra ser previsto com tanta celeridade. O Estado não é uma entidade que existe independentemente das pessoas e tende a se adaptar às mudanças na mentalidade das pessoas. Tudo depende se criptomoedas privadas descentralizadas, que se propõem serem moedas, vão ou não empreender mudanças duradouras.

E existe sempre a possibilidade de essas criptomoedas permanecerem ao lado das moedas estatais, cumprindo funções residuais como meio de pagamento ou como solução de escape para países autoritários. Atualmente essa parece ser uma tendência tolerada pelos Estados.

Concordo com o LUZ nessa.

Na minha opinião de neófito, criptomoedas atentam contra um dos pilares mais estruturais da noção de Estado.

E, diferente de uma luta Uber x Taxistas, o jugo do Poder Estatal é pesado e impiedoso.

Eles estão deixando correr solto, porque até agora não vislumbram qualquer tipo de ameaça séria ao establishment.

E, quanto à questão do desaparecimento do cash, muito além da "facilidade" e dinamicidade dos meios de pagamento eletrônicos, há um pesado lobby/interesse das instituições financeiras, pois já é provado que as pessoas gastam mais quando utilizam cartão e afins.

O padrão ouro nunca existiu em seu estado teórico puro,na verdade sempre foi burlado

Isto foi feito pelo sistema bancário,que emitiu moeda durante todo o tempo em que vigia o padrão ouro,onde este foi implementado

Resumindo,o Estado não emitia,mas os bancos sim

Ou seja,padrão ouro sempre foi uma falácia,na verdade nunca existiu

Para mais detalhes,ler sobre história da moeda no livro O desafio brasileiro,do Gustavo Franco,ele fala sobre isso(indiquei na área de livros do site)

E não vamos comparar Uber com criptomoedas

Uber não é raison dÉtat

Moeda é

@oxe falou tudo, o estado moderno não é a representação fidedigna do que foi o estado através do tempo, e o futuro aponta para uma descentralização em massa, com menos estado e mais tecnologia.
os dinossauros não curtiram isso...

[huhu][huhu]

Não, Luz. Nem havia a instituição banco, como existe hoje, antes da Renascença. Pela maior parte da história humana, a moeda tinha valor intrínseco em ouro contido na própria moeda. Houve, sim, falsificações e adulterações executadas pelos Estados, mas elas sempre resultaram em inflação e perda de valor na moeda.

Isso que você fala é a chamada reserva fracionária, que ocorreu a partir da criação da moeda escritural. Coisa que é fruto do Estado moderno e tem relação com a invenção da Contabilidade. E, mesmo nessa situação, o padrão ouro era (como sempre foi) algo inevitável, já que as cédulas conviviam com moedas de valor intrínseco (que podiam ser fundidas no ouro subjacente, como de fato o foram diuturnamente).

E não ache que "criptomoeda" é tudo moeda. Criptomoeda é um termo genérico pra designar qualquer tipo de ativo criptográfico expresso em uma blockchain. Nem toda a criptomoeda é moeda. Algumas são "ingressos" ou "tickets" para o uso da plataforma tecnológica subjacente, que tem interesse comercial. Por exemplo, o ether.

Bitcoin não resume as criptomoedas.

De resto, não estou debatendo com você quanto à sua conclusão. Eu estou debatendo quanto à inevitabilidade de sua conclusão. O futuro é imprevisível e, no presente, a maioria dos Estados tem aceitado a existência das criptomoedas, seja com função de moeda (como o bitcoin), seja como solução comercial (como o ether). Se isso vai se manter ou não, eu não sei.

Dá uma lida no artigo que eu linkei, que foi produzido por um dos Bancos Centrais dos EUA. Ele sugere um panorama de convivência entre uma moeda eletrônica depositada diretamente no Banco Central e as criptomoedas, cada quais para situações específicas.

Recomendo de novo a leitura do livro do Gustavo Franco a que me referi

E todo o tempo me referia a criptomoedas que atuam como meio de pagamento,unidade de conta e reservas de valor(funções clássicas da moeda)

Estas criptomoedas que atuam como plataformas de contrato não tenho ainda uma opinião formada

Vou ler o livro, Luz. Obrigado pela indicação, cara, é sempre bom debater contigo.

Abraços!

como eu disse no tópico da áfrica, repito aquiu: isso é direcionismo, e sempre, toda e qualquer politica direcionista é fadada ao fracasso.

graças à deus aliás, pois isso nos tem livrado dos comunistas e socialistas (até aqui)