O serviço não era ruim, era duro mas não ruim. Infelizmente eu e o meu chefe não nos davamos bem, eu queria pedir demissão, mas ganhava muito bem em US$, não dava para largar esse emprego. O chefe, um Nipo Peruano que se chamava Chigatome (nome fictício), decidiu por mim me mandando embora.
Quando cheguei no Rio de Janeiro para a rescisão, procurei nos classificados do GLOBO e encontrei a oportunidade de ouro o anuncio era mais ou menos assim “emprego imediato, não se trata de vendas, comparecer na Av Rio Branco número “171”, homens de paletó e gravata”. Eu acabara de voltar de bases exploradoras de Petróleo, tinha na mala, macacão, algumas jeans, mas nada de terno, resolvi então comprar um e comprei ali no centro mesmo, era um terno marrom, sapato marrom, gravata marrom e camisa bege. Nessa época a moda era ton-sur-ton. Cheguei cedo na entrevista, e vi que tinha umas pessoas sem terno, mas a maioria estava a caráter. Era uma arapuca, o cara fez um discurso de meia hora, até que resolvi pedir licença, sai e não voltei mais.
Retornei para a minha cidade natal, mas não para a casa de meus pais, aluguei um quartinho e passei a viver com o que tinha, deixei tudo em dólar mesmo e ia trocando aos poucos. Nessa época comprei um carro, achei que merecia, pois estava bem triste com a situação, (hoje não teria feito isso) já fazia meses que não tinha emprego. Fiz vários testes e concursos, em muitos me saia bem, como por exemplo, tirei o primeiro lugar para inspetor de ensino na fundação Bradesco, mas no dia da entrevista o cara me disse que o emprego não era para o “meu nível” e me tirou do processo, eu não tive coragem de dizer que estava desesperado e que aceitaria qualquer coisa. Um outro caso interessante foi um processo que passei em uma grande empresa de papel e celulose, nesse processo o recrutador me chamou e me disse que dois candidatos tinham passado por todo o processo eu e outro, que mais tarde soube ser o “Drácula”, o cara que dividiu alojamento comigo na escola técnica, ele tinha mais experiência que eu já tinha trabalhado em empresas semelhantes, por isso ficou com a vaga. Outro caso foi um processo para assumir “o computador” na escola Federal. No processo tinha um cara que era da Telefunken, que era o fabricante, todos achávamos que ele levaria a vaga, mas não levou, passaram eu e o “Bichinho”, ele servira exército comigo ele passou em primeiro lugar ficando com a vaga, eu em segundo.
Eram quinze meses passados, estava destruído, a família não acreditava em mim, era sutilmente chamado de fracassado, a única pessoa que acreditava mesmo em mim, era a noiva, a futura Dona BIGDOGA, eu sei que ela acreditava pois não atendeu os conselhos de me largar. Até que um dia um anjo me ligou era o Doutor Rômulo (nome fictício) era amigo de minha avó, ela sem entender nada pediu a ele, um advogado, um emprego para o neto. Ele me ligou e me disse “BIG, eu tenho um parente que está precisando de técnicos na Telesp”, é isso que você quer? Eu tive que pensar rápido, respondi que era engenheiro mas aceitaria sim, pois poderia crescer dentro da empresa. Comecei a trabalhar no dia 18/07/1983, sai de lá em 1986, já como engenheiro, e quis o destino que me aposentasse pela Telefônica que comprara a Telesp e futuramente a empresa que trabalhava, nesse ponto já podia dizer “sou eu que pago minhas contas”, e tenho pago até hoje.