Amigos,
Um dos assuntos mais falados aqui ultimamente é a tal da mudança para o exterior. Seja definitiva ou temporária.
Tirando a parte do dinheiro, impostos, contas bancárias e etc, que já tem vários tópicos, gostaria de compartilhar um pouco da minha experiência.
Texto longo..
Tirando a parte emocional e da família, pois isso é muito pessoal e cada um vai lidar da sua forma e a depender da sua configuração (esposa ou não, esposa trabalhando ou não, idade dos filhos ou sem filhos, como lida com a distância dos outros familiares, etc). Enfim, as configurações são tantas e tão pessoais que não vale a pena discutir, pois cada um tem que refletir a seu modo e qual o impacto.
Então vou focar nas coisas práticas e básicas, que a maioria se esquece de considerar ou gera bastante ansiedade.
Turista: você já pode ter visitado o país mais de 10 vezes como turista. No primeiro mês morando descobrirá que essas visitas não valeram de nada e suas impressões eram todas erradas (algumas para o bem, outras para o mal).
Princípio básico: mudar-se para um país é começar a viver de novo. É como aprender a viver estando adulto. O aprendizado é rápido, mas é penoso e exige paciência e humildade (principalmente). Coisas simples que a gente aprende naturalmente com nossos pais, no exterior são diferentes e temos que aprender de novo. Tipo: como se compra carne no exterior? Como se compra um carro? Registro? Documentos, etc? Tem que aprender tudo, o básico, e às vezes sozinho.
São horas e horas e horas e horas e pesquisas na internet para cada pequena ação, cada coisa nova que precisa fazer.
Custos: mesmo que você vá pela empresa, como expatriado, pode considerar custos e despesas grandes. Faça um orçamento e depois multiplique por dois ou três. Se for tudo por conta própria, sem expatriação, pode muiltiplicar por cinco. Sabe a reserva de emergência? Aqui você entenderá a real necessidade...
É inacreditável a quantidade de coisas que se precisa comprar ao se mudar para um país. E mais inacreditável ainda é quanto se compra errado e se perde dinheiro no começo. Eletrodomésticos, por exemplo, quase sempre tem que comprar tudo.
Trânsito: tirar uma carteira de habilitação no exterior é um exercício de paciência de monge. A habilitação brasileira normalmente funciona bem para turismo e só. A maioria dos países exige uma local e a depender do país, você terá que começar tudo do zero. Normalmente a partir de 3 meses não vale mais a carteira do Brasil. O processo completo dura uns bons meses (de 6 a 18), se no meio do caminho a sua não vencer no Brasil....
Ah, mas eu não vou precisar de carro... Não vai passear? Não vai dirigir carro da empresa? Não tem viagem de negócios para outros países? etc...
Transporte público: a cidade pode ter o melhor metrô do mundo e na chegada você vai se sentir no paraíso. O problema é o inverno... Já andou na rua todos os dias abaixo de zero graus? É bem cansativo e desconfortável...Não é à toa que cidade grande tem engarrafamento em qualquer lugar, mesmo com bom transporte público, quem tem carro prefere o carro...
Escolas: você irá descobrir que as escolas particulares no Brasil são muito melhores do que você pensava...
No Brasil você é visto como cliente e seu filho é tratado da forma que você espera. Lá fora você não tem palavra e seu filho é mais um na multidão. Ensino público é ensino de massa (essa foi minha experiência).
Casa: ser estrangeiro e arrumar um contrato de aluguel é um exercício de paciência. Achar uma casa boa de primeira é como ganhar na loteira, ser aceito pelo proprietário então é ganhar DUAS vezes na loteria. Se você não tiver uma forte empresa por trás para garantir o aluguel, essa pode ser a parte mais difícil. Se você estiver indo para um país melhor que o Brasil em termos de desenvolvimento, a chance de pagar caro e morar mal é grande. A escassez de imóveis e lugares bons para se morar nos melhores países é enorme. Mesmo em países como Portugal o aluguel já está caro nas grandes cidades. E com contratos na lingua local...
Contas diversas: terá que aprender tudo de novo... como pagar imposto? Conta de luz? Gás? Condomínio? Regras gerais de convivência. E isso tudo na lingua local. Nenhum serviço público irá falar inglês, se não for país de lingua inglesa.
Serviços públicos: você pensa que só o Brasil tem serviço público ruim? Nunca vi ninguém, em nenhum lugar, elogiar o serviço público do próprio país. Se você tiver que falar a lingua local então... é mais fácil o cara falar que não te entendeu e chamar o próximo (um a menos para atender no dia...)
Serviço diplomático: não conte com os consulados brasileiros para nada! Nadinha! Tive um filho que nasceu no exterior. Pesadelo... Tem que planejar a ida no consulado com 4 meses de antecedência, para registrar e depois para emitir um passaporte para o bebê. Depois ainda tem que ir no Brasil para ter a certidão de nascimento brasileira! Tem consulado do Brasil no exterior que já escreveu no site: "não ligue para nós, não podemos te ajudar, exceto em caso de morte"! As palavras são outras, mas a mensagem é esta mesmo...
Bancos: você descobrirá que o serviço do Brasil é o melhor do mundo. Descobrirá também que guardará seu chip brasileiro e telefone do Brasil como um filho precioso, pois se perder isso perderá o acesso às contas no Brasil (tokens e etc).
Roupas: se o país for frio, vai gastar uma grana em roupas ao chegar, pois tem que comprar tudo de uma vez para todos da família, afinal não dá para passar frio... E vai comprar coisas erradas ou depois descobrir que não precisa!
Vistos: a via crucis maior... obter um visto de trabalho no exterior exige paciência e obstinação. Ninguém é bem vindo para trabalhar em nenhum país do mundo. Você tem que apresentar documentos que nem sabia que existiam ou que você possuía... Haja paciência e tempo. E TUDO tem que ser traduzido com tradução oficial...
Enfim, vou lembrando de mais.
Conclusão: morar no exterior é bem legal e minhas experiências no final foram sempre muito boas. Mas tem que ter fé! E resiliência (essa palavra torna-se um mantra pessoal)! Não é um mar de rosas. Tem que querer muito! À distância você percebe que os problemas do seu país não eram tão difíceis assim. Ser visto como estrangeiro no país que mora exige também um exercício diário de humildade.
Vale à pena e para mim compensou (principalmente financeiramente), mas tem que pensar bastante e ter um RESERVA. Ir com a cara e a coragem é nada mais que irresponsabilidade, como jogar roleta russa, como sempre diz o Bastter.