Caros Bastterianos,
2018 acabou, finalmente encerrei a faculdade e coloquei em prática um plano que já tava na minha cabeça havia muito tempo: ir de bike ao trabalho.
Faz uns 6 anos que comprei minha primeira road bike, lá pelos 18 anos, e desde então já me esborrachei descendo serra, já rodei mais quilômetros do que conseguiria contar e conheci muitos lugares e gente legal por conta da bicicleta, mas usar como meio de transporte tem sido uma experiência totalmente nova.
Estou bem longe de ser um cicloativista ou qualquer tipo de grande defensor de uma causa, mas essa é uma mudança que acredito que pode me tornar uma pessoa melhor, mais saudável, e de quebra dar aquela pequena ajuda pro trânsito louco de São Paulo e pro meio-ambiente, então abro esse tópico pra compartilhar algumas experiências que eu tive nessas minhas primeiras 3-4 semanas indo pro trabalho movido a motor de combustão de banha.
Gostaria muito de ver opiniões de colegas que fizeram/estão fazendo/pensam em fazer essa transição e ouvir outras experiências e relatos que podem incentivar mais gente a entrar nessa conosco.
1. Distância, esforço e tempo
Moro na zona norte de São Paulo e trabalho na Avenida Paulista, é uma distância de 15km pra ir e voltar mais ou menos. Minha ida tem, inevitavelmente, uma subida pra chegar na região central mais alta da capital. Os primeiros dias foram bem sofridos, até porque fazia meses que eu não dava mais do que uma volta rápida na bicicleta, mas é impressionante o quanto o corpo evolui rápido. Se nas minhas primeiras vezes, fiz o trajeto em 45-50 minutos, hoje já é comum fazer tanto ida quanto volta em 40. Aproveito pra usar uma das subidas pra chegar na paulista pra me forçar um pouco mais e tentar melhorar o corpo. Já que estou em cima da bike, por que não transformar isso em um treino um pouco mais puxado?
Como comparação, o tempo que levo de carro pra fazer quase o mesmo caminho, em um período vazio como entre natal e ano novo, é de cerca de 40 minutos. Ou seja, já igualei o melhor tempo que faço de carro, mesmo pegando trânsito mais carregado nos últimos dias. Quando comparo com os dias normais, com o bom e velho trânsito de SP, a diferença chega a 40 minutos, pois não é raro levar 1h20 pra chegar lá de carro.
2. Organização, peso e higiene
Meu pensamento no começo foi: como posso levar a menor quantidade possível de coisas essenciais pra chegar ao escritório? A resposta foi deixar uma mochila apenas com toalha, roupas pra usar no dia, chinelo (deixo um tênis no escritório), sabonete e uma capa de chuva de mochilas (falo dessa salvadora de vidas mais à frente). Na bicicleta, um bidon cheio d'água, duas câmaras reservas, espátulas e uma bombinha de mão. Ainda algumas coisas que levo nos bolsos da camisa, como chave dos cadeados, chave de casa, saco plástico (daqueles de embalar comida à vácuo) e um canivete de chaves pra bicicleta. Fora isso, só uma lente transparente do óculos, pra trocar caso volte à durante à noite.
Essa configuração se tornou perfeita pra mim, pois vou com pouco peso, é rápido de arrumar e tudo muito simples de guardar. Algumas sacolinhas plásticas ajudam a separar a roupa suja.
Na parte de higiene, meu prédio tem um chuveiro pros funcionários e seguranças logo do lado do bicicletário (que, no meu caso, é dentro do próprio estacionamento do prédio). Aproveito esse chuveiro e já tomo uma ducha fria quando chego. Visto roupa, chinelos e só coloco o tênis quando chego na minha mesa.
Por último, pedi, e consegui com minha empresa um cabide pra deixar no banheiro minhas roupas e toalha secando, isso fez toda diferença pra mim também! Na hora de voltar pra casa, não pego roupa encharcada de suor pra vestir.
3. Equipamentos
Investi em quatro coisas que não me arrependo nem um pouco:
Bicicleta - Uma bicicleta um pouquinho melhor ajuda pra caramba! Tem opções por volta dos 1.5k, 2k que resolvem todas as demandas de quem vai fazer trajetos urbanos. Vale gastar um pouquinho mais pra ter uma bicicleta que não dê dor de cabeça, não te deixe na mão e que faça a pedalada render. Faz a conta de quanto você vai economizar com gasolina (caso vá de carro) e médico e garanto que vai chegar na mesma conclusão que eu.
Cadeados - Gastei uns 100-150 reais em dois cadeados. Um U-lock (joga no google pra ver como é) e um normal de chave e daqueles que dá pra enrolar a bicicleta. Passo o U-lock no suporte do bicicletário prendendo quadro, roda traseira e suporte, enquanto o cabo eu passo na roda traseira e dianteira, sem prender no suporte.
Minha lógica é: prefiro gastar 100-150 reais que perder a bicicleta, e se alguém quiser roubar até consegue, mas vai ter um trampo de tirar dois cadeados, que talvez o faça mudar de ideia. O fato de ficar dentro do primeiro piso do estacionamento, perto de vallets e seguranças também ajuda a tranquilizar.
Ah! Deixo os cadeados presos no suporte mesmo, não ando com esse peso por aí.
Iluminação - Nesses 6 anos andando de bicicleta nunca tinha gastado mais que 30 reais numa luzinha, daquelas que alimenta com aquela bateria redonda de 9V. Dessa vez gastei um pouco mais, uns 160 num farol com 300 lumens (não sei o que é isso, mas descobri que é bastante) e uma luzinha traseira de uns 60 reais, ambas USB, isso foi uma exigência importante.
Semana passada foi a primeira vez que voltei depois de escurecer e aí entendi a importância desses 200 reais que gastei.
O farol piscava tão forte que iluminava muito placas a mais de 100m de distância. Se eu ficava atrás de algum carro, a cabine inteira da pessoa na minha frente ficava clara. Era impossível não saber que eu tava ali, e ser percebido é essencial pra sua segurança.
Capa de chuva de mochila - Essa é simplesmente a queridinha da minha lista. É uma porcaria de 40 reais que se compra na decathlon, fica numa bolsinha compacta e você quase nunca vai precisar, mas quando precisar, ela salva tudo que tá na sua mochila. Na segunda vez que fui de bicicleta, uma chuva fortíssima me pegou no meio do caminho. Prevendo que ela ia chegar, já coloquei a capa e rezei pra dar certo. A única coisa que molhou na minha mochila foi a alça, que ficou pra fora. De resto, tudo muito seco e o celular protegido dentro da minha camiseta com um saquinho de embalar comida à vácuo, outra coisa que salva e muito também. Aliás, nesse mesmo dia eu tava azarado. Na hora que fui embora percebi que o pneu tinha furado com um pedacinho minúsculo de arame. Depois disso, criei o hábito de dar uma checada na bicicleta na hora do almoço pra ter certeza que nenhum furinho pequeno esteja murchando o pneu lentamente.
Teve uma outra vez que uma viatura da polícia civil me deu uma prensada e me mandou ir pra ciclovia, em vez de andar numa faixa de ônibus vazia a 40 km/h, tentei argumentar, mas no fim segui a filosofia #PAS, abaixei a cabeça e "sim senhor".
Acho que já escrevi bastante, só queria deixar esse relato mesmo, vai que incentiva alguém a contar as suas experiências, tirar dúvidas, ou começar a fazer o mesmo.
Garanto que os benefícios não são só físicos, meu ânimo pra acordar cedo e a energia que chego no trabalham são outras agora, e todo stress do dia no escritório fica pra trás com umas pedaladas mais fortes. É uma experiência que recomendo fortemente, especialmente a quem já tem o hábito de andar por lazer ou esporte.
Pega um sábado, vai até seu trabalho com uma bike e vê se funciona. Garanto que não vai se arrepender!
Grande abraço!