Esse bullshit começou em 1998 quando o Lancet publicou uma série de casos do Andrew Wakefield de 12 crianças com dor abdominal, diarreia, e perda de habilidades adquiridas como fala. Oito das 12 crianças haviam sido vacinadas para rubéola, cachumba e sarampo (MMR).
A série de casos é um dos níveis mais baixos de evidência que existe. E o artigo claramente é incapaz de estabelecer nexo causal entre a vacinação e autismo. Mas a mídia da época fez o que faz de melhor. Gerou pânico sobre o estudo, e chegou a produzir mais de 1200 artigos sobre o assunto em 2002. O que provocou uma epidemia de sarampo no Reino Unido.
Por si só o artigo tem baixa qualidade de evidência e isoladamente não deveria ser tão explorado como foi. Os resultados nunca foram replicados. E agências sérias como o CDC chegaram a investigar o ocorrido, e não identificaram nada.
A história piora em 2004 quando o jornalista Brian Deer descobre que Wakefield havia recebido propina para criar evidências contra a vacina. O dinheiro veio de uma advogado chamado Richard Barr que pretendia criar uma ação de classe contra a indústria farmacêutica que produzia a vacina. Mas não para por aí. Nove meses antes de publicar o artigo Wakefield registrou patente de uma suposta vacina segura contra sarampo.
Mas como Wakefield fraudou os dados? Simples. Ele pré-selecionou crianças a partir de programas de vacinação. A maioria conhecidos do R. Barr. Como as crianças eram levadas a atenção médica logo após a vacinação isso fazia com que os pais associassem os achados (a maioria fraudulentos) a vacinação. Os pais das 12 crianças fizeram essa associação e não 8 como menciona o artigo. Uma investigação nos hospitais identificou que os exames de sangue e as biópsias eram na verdade normais.
Em 2004 o Lancet retratou parcialmente o artigo por conflito de interesse não identificado. Um comitê de investigação retirou a licença médica de Wakefield. E em 2010 o Lancet retirou completamente o artigo.
Todo o bullshit que associa vacinação com autismo partiu de um artigo de baixo nível de evidência, fraudulento e que claramente tinha por objetivo lucrar com o pânico do público. As consequências foram devastadoras. Em 2014 a JAMA lançou uma meta-análise com 95.000 crianças avaliando a vacina MMR e autismo. As crianças eram consideradas de alto risco pra autismo, com irmãos já diagnosticados com a doença. Como esperado não houve associação da vacina com autismo.
O número de casos identificados das desordens do espectro do autismo cresceu nos últimos anos. Em sua maior parte por consequência de mudanças nos critérios de classificação e melhora da identificação da doença por profissionais de saúde e até por não profissionais.
Lições tiradas:
- O fato de existir estudo sobre alguma coisa não garante nada.
- O fato de ser publicado em revista de grande circulação tb não
- A mídia geral não tem a mínima ideia de como reportar estudo científico
- Geralmente quando alguém posa de anti indústria ele está lucrando de alguma forma. Não existe almoço grátis.
Fontes:
http://briandeer.com/mmr/lancet-paper.htmhttps://briandeer.com/mmr/lancet-summary.htmhttps://www.badscience.net/2008/08/the-medias-mmr-hoax/https://jamanetwork.com/journals/jama/fullarticle/2275444https://www.ncbi.nlm.nih.gov/m/pubmed/12216059/https://www.ncbi.nlm.nih.gov/m/pubmed/16585296/https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2287215/#!po=3.57143