Death, Taxes, and a Few Other Things
comentada em 22/03/2019 09:35

Da primeira linha:

"Median family income adjusted for inflation was $29,000 in 1955. In 1965 it was $42,000. Today it’s just over $62,000."

O principal no psicológico talvez sejam home prices. Em 1965 poupando 50% essa renda comprava uma casa em 4 anos e o comprador típico era 20 e poucos anos, recém casado. Em 2019 essa renda, poupando 50%, compra uma casa média em ~10 anos (ficou 2,5x mais difícil) e o comprador típico tem 44 anos.

Tanto em 1965 quanto em 2019 isso compra 2 Mustangs de cada época. Com a diferença que os pais de quem comprou um Mustang em 1965 não tinham isso, já os pais do que vão comprar agora. Isso contribui para achar que não melhorou nada, mesmo que o Mustang 2019 seja absurdamente muito que o 65 em performance, segurança, etc.

Em 65 saúde privada era barata, pagavam out of pocket. Hoje é mais cara (e muito melhor, sem entrar no debate do sistema americano altamente regulado e disfuncional), etc.

Outra coisa: "family income" inclui todos geradores de renda. Em 65 fazia tudo que citei acima com 1 trabalhando. Hoje a família vai ter 2 com renda pra dar essa soma (melhor seria fazer por trabalhador). Mas é claro que tudo que existe hoje em conforto e serviços é amplamente superior. Estou apenas comentando como a percepção de abundância do passado acontece.

O que me fisgou nessa leitura, e principalmente no tópico 1, é como nossa psique é facilmente ofuscada e direcionada pelo comportamento de manada, que de um jeito ou de outro atinge a todos nós, sob pena de virarmos párias sociais ou ermitões.

Hoje temos muito mais necessidades do que ontem. E, com isso, temos mais com o que preenchermos/gastarmos nosso tempo, e isso demanda cada vez mais dinheiro.

Vc, @celtiberian, citou o exemplo do imóvel, e concordo em linhas gerais com a linha de raciocínio. Mas... será que se evitássemos e resistíssemos às tentações do mundo moderno, não conseguiríamos comprar o imóvel em tempo semelhante (talvez um pouco mais demorado)?

Afinal de contas, precisamos trocar o smartphone, viajar (e tem que ser europa, EUA ou Nordeste, tão caro quanto, e, claro, de avião), roupas todo ano, óculos, aquele biscoito importado, o Madero com bacon, a cerveja artesanal, o serviço de streaming, enfim, vc me entendeu. rs

A frugalidade, antigamente, muitas vezes era forçada pela própria simplicidade da época, que moldava os gostos das pessoas e deixava muito claro que o que importava mesmo, um lugar de morar, era o que valia a pena e, nessas condições, não deveria ser tão barato também, dado que TODO mundo sempre quis comprar seu canto (e a escassez imperava, assim como hoje).

Era mais fácil, a meu ver, manter o foco e se levar pelas coisas simples da vida.

Quanto a imóveis especificamente, não há muito o que se fazer. Espaço físico é um bem escasso com demanda universal assegurada e que não pode ser produzido (pelo menos não com nossa tecnologia atual). A única eficiência possível é a redução/reutilização do espaço - e isso, quase sempre, quer dizer redução no padrão de consumo.

Mas, no geral, você tá certo, Stunts. Nós, humanos, estamos o tempo todo elevando nosso padrão para o que é o mínimo de consumo aceitável. E é algo difícil de evitar, não só por nossa bússola interna "viciada", mas também por pressão social (por exemplo, roupas velhas, cuidados infrequentes com a aparência, entre outros, geram um tratamento social menos favorável).

A questão é chegar a um equilíbrio entre o que queremos/precisamos ter (para alcançar nossos objetivos) e o que podemos ter, dado o nosso padrão de renda. E esse equilíbrio, idealmente, deve ser de tal forma que haja mais renda que necessidades.

No fundo, é impossível um mundo em que todos os seres humanos sejam frugais. Porque a inexistência de frugalidade é a própria razão da economia, da produção crescente de riquezas e do preço maior ou menos para certos produtos.

Basta pensar que "frugalidade" é apenas outro nome para redução de demanda e, se a demanda por algo reduz, o preço também reduz até um novo equilíbrio. Se o preço reduz, a receita da empresa reduz, o lucro reduz, o retorno dos investimentos reduz, o incentivo para a poupança reduz, as pessoas consomem mais e o índice geral de frugalidade diminui.

Se as pessoas não consumirem mais, por alguma mudança repentina na natureza humana, o retorno menor dos investimentos (juros) assegurará que a unidade de tempo futuro "comprada" com cada unidade de moeda investida hoje seja cada vez menor, de forma que as pessoas poupariam muito mais para terem o mesmo benefício.

Outra forma de enxergar isso é olhar a poupança como um consumo: o consumo de tempo futuro. Se a demanda por esse produto aumenta, o preço (montante investido) também aumenta. E a forma de regular isso são os juros (que reduzem).

Podemos, enquanto sociedade, no máximo deslocar o equilíbrio geral para um ponto de menor consumo (e maior poupança), com educação financeira. Coisa que considero importante tanto por uma questão de bem-estar social quanto por uma preocupação ambiental, de redução do montante de resíduos na natureza.

Mas a ideia da frugalidade social perfeita e do consequente usufruto perfeito do tempo não modela bem a sociedade humana.

Falando em consumo, hand me downs e necessidade passada/presente: “As pessoas consomem, em média, 60% mais peças do que há 15 anos e cada item é mantido no armário por metade do tempo de antes. É o segundo setor da economia que mais consome água e produz cerca de 20% das águas residuais do mundo.”
Indústria da moda polui mais que navios e aviões

Indústria da moda polui mais que navios e aviões | Valor Econômico

Verdade.

Se for entrar a fundo nos aspectos econômicos, ambientais e afins, vira um cipoal.

De vez em quando eu gosto de aplicar alguns testes em mim mesmo, como ocorreu naquela ocasião do MacBook Pro. Por enquanto, a sensação não deixa de ser interessante. 

Algo curioso é como é bem mais difícil deixar de consumir tendo o dinheiro do que por impossibilidade financeira em si. Vc precisa lidar com muito mais variáveis psicológicas e instintivas, às vezes sem saber de onde elas vêm. 

@Stunts Bem assim. Em relação a roupas, essas variáveis que você falou vão além de seguir ou deixar de seguir tendências da indústria da moda, o que vestimos está tão ligado à identidade e auto imagem, que a questão do consumo se complica ainda mais.

Agora vi que comi uns pedaços da mensagem, segue corrigido:

No lugar de:
"Tanto em 1965 quanto em 2019 isso compra 2 Mustangs de cada época. Com a diferença que os pais de quem comprou um Mustang em 1965 não tinham isso, já os pais do que vão comprar agora. Isso contribui para achar que não melhorou nada, mesmo que o Mustang 2019 seja absurdamente muito que o 65 em performance, segurança, etc."

Leia-se:
"Tanto em 1965 quanto em 2019 isso compra 2 Mustangs de cada época. Com a diferença que os pais de quem comprou um Mustang em 1965 não tinham isso, já os pais dos que vão comprar agora tiveram. Isso contribui para achar que não melhorou nada, mesmo que o Mustang 2019 seja absurdamente melhor que o 65 em performance, segurança, etc."

Pelo menos dava pra entender mesmo errado.