O paciente chega no consultório após esperar duas semanas pela consulta e pagar 10% do que ganha e faz a pergunta: “qual exame eu faço pra descobrir se tenho reumatismo?”.
Um post é feito nas redes sociais explicando quando procurar um profissional para descobrir uma doença grave e logo vem o comentário: “qual exame eu faço de descobrir essa doença?”
Em uma roda de amigos durante uma conversa descontraída surge a conversa sobre uma dor no joelho, e em seguida: “qual exame eu faço?”
A resposta é sempre a mesma. Não faça nenhum, procure um bom clínico e siga o que ele te disser. Essa resposta sempre vem seguida de uma virada de olhos para o canto superior direito e um comentário insinuando como você é chato.
Não existe, repito, não existe exame capaz de realizar qualquer diagnóstico sem um probabilidade pré-teste razoável que em conjunto com o exame será determinante para o diagnóstico. Portanto, não é uma mera chatice, é entendimento de saúde e teorema de Bayes.

Tomemos como exemplo:
Anti-ccp (exame para artrite reumatoide e outras)
Sensibilidade/especificidade do teste - 67% e 96%
Probabilidade pré-teste baixa - paciente sem artrite (1%)
Teste - positivo
Pós-teste - 15%. A cada 100, 85 irá receber um falso positivo.
Probabilidade pré-teste alta - pacientes com poliartrite simétrica aditiva (35%)
Teste - positivo
Pós-teste - 89,9%. Nove a cada 10 terá artrite reumatoide.
Isso falando de um teste com alta especificidade. O que não é a realidade da maioria das doenças. Boa parte precisa de uma sequência de alterações clínica e uma sequência de exames para que o diagnóstico seja alcançado.
Perguntar: “qual exame eu faço?” equivale ao sardinha que pergunta: “é pra comprar ou vender essa ação?” A consequência porém é muito mais grave. Enquanto o sardinha que segue antalista perde uma parte do seu patrimônio aquele que segue quem indica exame sem avaliação tem um alto risco de se tornar um não doente em tratamento. Com alto risco de perder gradativamente sua saúde para sempre.
Não faz sentido fazer um exame sem antes que um profissional avalie se a chance dele ser verdadeiro é relevante. Pode até ser que um dia isso se torne realidade no futuro mas hoje isso não acontece. A única solução continua sendo procurar um ótimo clínico e pagar bem por ele.
Obs: os números mencionados acima não são 100% precisos para o exame citado. Isso pq a probabilidade pré-teste e a sensibilidade/especificidade do exame varia de acordo com os estudos usados.