Existe muito bullshit por aí relativo às consequências da mecânica quântica, especialmente quando se fala em saúde, psicologia e etc. Um experimento muito citado é o de dupla fenda, onde o resultado do experimento depende do observador. Isto quer dizer que dependendo de quem somos, o que sentimos, podemos alterar a realidade física de um experimento de dupla fenda?
O que é o tal experimento de dupla fenda? Primeiro temos que falar do experimento de uma única fenda. Imagine que partículas [elétrons, luz(fótons), nêutrons,...] são forçadas a passar por uma abertura muito estreita, a tal fenda. Já que são partículas passando por uma borda estreita, é razoável que essas partículas batam nas bordas da fenda e sofrem um certo espalhamento. Podemos colocar um obstáculo a uma distância grande para ver o efeito das bordas. Na figura abaixo pode-se ver o que é verificado quando se tem uma partícula passando por uma fenda (seja S1 ou S2). A distribuição de partículas verificada no obstáculo distante é como aquele mostrado como sendo a curva I1, ou mais partículas na região central, e menos partículas quanto mais afastado das fendas estamos. Em outras palavras, seria como uma "bola" desfocada, centrada na posição da fenda. Se temos uma outra fenda que está em outra posição, pode-se verificar o mesmo padrão no obstáculo distante, porém a nova "bola" estará centrada na posição da nova fenda.

E o que acontece quando temos as duas fendas abertas? Se as partículas sub-atômicas fossem descritas pela mecânica clássica, esperaríamos uma "bola" maior, dada pela soma das "bolas" (I1 + I2) devido a cada fenda independentemente. Porém, o que se vê é um padrão cheio de regiões escuras, que podem ser associadas a uma interferência entre o caminho que as partículas fizeram desde as fendas até o obstáculo. Este padrão (chamado de franjas de interferência) é mantido mesmo quando as partículas são enviadas uma a uma, e depois se verifica quantas delas chegaram em cada posição do obstáculo. Esta interferência vem da natureza quântica das partículas, onde fica evidenciada a chamada dualidade onda-partícula.

Quem é o observador nesse experimento? Somos nós, que montamos e ou verificamos o experimento? Não. O observador neste experimento é o obstáculo que está enxergando o padrão de interferência das partículas. Pode ser um tijolo ou um papel (para experimentos com luz), ou também um detector que meça quantas partículas chegam. O "observador" da mecânica quântica não é uma pessoa, mas um instrumento de medida que "observa" o fenômeno. O termo "observador" foi introduzido informalmente, para facilitar a compreensão dos conceitos, mas tem sido tão mal utilizado que diversos pesquisadores tem abolido o seu uso.
E como que o "observador" pode afetar o experimento? Caso o experimento possua também uma alguma forma (e é qualquer uma mesmo) de determinar por qual caminho a partícula passa, podemos mudar a distribuição estatística do resultado final. Quando se verifica como as partículas estão distribuídas ao se medir se cada partícula passa pela fenda 1 ou 2, saímos de um padrão de franjas de interferência para uma "bola" maior. Neste caso quem forma o "observador"? O aparato que registra por que fenda a partícula passou, mais o obstáculo. São substâncias, átomos, materiais e equipamentos que fazem tais verificações, e tudo ocorre sem qualquer necessidade de introdução de elementos humanos no experimento. Se dois físicos montarem o mesmo experimento em laboratórios distintos, eles medirão os mesmos fenômenos mesmo que um deles esteja triste, com dor de barriga, feliz e etc. Mecânica quântica é relevante na escala de objetos muito pequenos (prótons, elétrons,...) e seus efeitos tipicamente podem ser ignorados em objetos do tamanho de um grão de poeira ou maior. Mecânica quântica é coisa séria, mas não se aplica a seres humanos, saúde, psicologia e o que for. Qualquer coisa desse tipo veja se a carteira ainda está no bolso e corra que no mínimo isso é bullshit, mas pode ser golpe mesmo.