Tolstoi escreveu em um conto, há mais de cem anos: "Mikail estava sempre muito ocupado, pois trabalhava com perfeição, usava material de boa qualidade, não cobrava caro e entregava no prazo prometido. Por isso todos o estimavam e nunca lhe faltava serviço".
Mikail não estava ocupado preocupando-se com concorrência. Ele não estava muito ocupado preocupando-se com o lucro. Nem tentando prever o ORUTUF. A sua inteira ocupação era trabalhar bem e continuar assim.
Mikail também não estava muito ocupado em anunciar sobre tudo que ele fazia. Ele estava ocupado fazendo. Ele sabia que "quem ouve e não pratica é semelhante a um homem que edificou a sua casa sobre a areia, sem fundamentos". E seu fundamento era pensar no bem do cliente.
Se ele estivesse do outro lado, gostaria de receber material de qualidade; de pagar o preço justo, sem exploração; de ter respeitado o cumprimento da oferta. Colocando-se no lugar do cliente, imaginou quais problemas gostaria de ter resolvidos. E concentrou-se em resolvê-los.
Mikail, no início, trabalhava em um porão cuja única janela estava nivelada com a calçada da rua, de modo que tudo que ele via eram as pessoas caminhando diariamente com seus sapatos. Mikail era sapateiro e não ficou bom em seu ofício olhando para o espelho. Prosperou porque observou diariamente os pés dos outros.
Certas coisas não mudam com o tempo. A felicidade vem quando não a buscamos diretamente, mas quando é produto do sólido e consistente exercício do bem. Lucro é apenas um nome técnico. Na verdade, ele deveria chamar-se agradecimento. Acontece quando problemas são resolvidos, quando quem os resolve foi capaz de, por um momento, ser o outro.
Deveríamos agir como Mikail. Deveríamos olhar com compaixão pela janela que nos é oferecida. É de lá que vem a luz que preenche a nossa casa. E é exatamente essa luz que ilumina a máquina do ofício, que alimenta a vontade de trabalhar, e que nos esquenta, à noite, com nossa família. Mikail era feliz não porque sabia calçar sapatos, mas porque sabia oferecê-los.