Escrevi esse texto para a revista daqui do Bastter em 2017, mas resolvi repostar por aqui.
~ E se você tivesse começado uma carteira de ações desde o dia em que nasceu? ~
Recentemente, minha vida mudou quando recebi a maravilhosa notícia de que vou ser papai de uma menina. E junto com a felicidade imensa, momentos após a ficha ter caído, veio um surto de desespero envolvendo várias questões, dentre elas a financeira. Tenho uma vida equilibrada, mas acredito que a chegada de um novo membro sempre traz uma dose extra de preocupação. Minha certeza é de que vou ser o financiador de vários serviços que a iniciativa pública não provê com qualidade, como saúde e educação. Não imagino que daqui a 18 anos, vão existir boas universidades públicas no Brasil. Não conto com nada, absolutamente nada.
Assim como todos riram quando Buffett disse que não entende nada do mercado de ações (e que sim entende de negócios e empresas), meus amigos riram de mim quando falei não acreditar em previdência privada – que foi justamente o que todos me aconselharam a começar a fazer já que estava preocupado com o future da minha filha.
Foi então que após uma reflexão decidi fazer duas coisas: A primeira seria começar a montar uma carteira de ações com pequenos aportes mensais desde a data de seu nascimento – a qual seria transferida integralmente para o nome da minha filha quando ela completasse 18 anos. A segunda é que trabalharia desde cedo com ela em sua educação financeira, e aí me lembrei de um exemplo muito bacana de uma metodologia desenvolvida pelo meu ex-sogro na criação de suas duas filhas.
Na hora que as meninas começaram a demandar a tal mesada, ou no caso dele, semanada - para custear lanches na escola e pequenos gastos, ele usava a seguinte técnica: Não lembro exatamente os valores, mas vamos supor que ele dava R$ 30 por semana, dinheiro que era entregue toda segunda-feira. No domingo a noite, as meninas deveriam devolver para ele um terço da semanada, ou seja, R$ 10. Se elas devolvessem o dinheiro na data combinada, elas receberiam novamente outros 30 reais. Caso elas gastassem tudo, só receberiam metade do valor para a próxima semana.
Estava aí a primeira lição de como desde cedo começar a administrar bem seu próprio dinheiro. A segunda coisa que ele fazia, era aplicar todo o dinheiro devolvido. Ele pegava os 40 reais recebidos e comprava alguma ação no final do mês para elas. Mesmo que fosse uma ou duas ações apenas, contudo obrigava as filhas a assistirem o ritual de compra, e a escutarem alguma coisa sobre a empresa ou o mercado de ações. Aproveitava para explicar de maneira lúdica sobre dividendos, e com o passar do tempo, entregava para as filhas 20% do valor do dividendo da carteira delas para gastarem no que quisessem (desde que também acompanhassem onde os outros 80% estariam sendo reinvestidos).
Com isso ele conseguiu criar um sólido conhecimento financeiro nas filhas, além de ter provido carteiras que para jovens de 18 anos era muito mais dinheiro do que teriam quase todas as amigas, e que se bem cultivadas durante a idade adulta, garantiriam uma vida tranquila aproveitando o efeito do tempo e dos juros compostos. Era um ótimo pontapé inicial, que eu, por exemplo, adoraria ter recebido.
Hoje agradeço ao meu ex-sogro e amigo por ter me introduzido ao mundo das ações e vejo o valor que se tem em tratar um assunto que é quase um tabu para crianças e que os pais evitam discutir por acharem feio: dinheiro e educação financeira de uma maneira geral. Precisamos falar sim de dinheiro com os nossos filhos para que evitem erros que todos nós já cometemos em determinado momento de nossas vidas e para que cresçam sem depender nem do gov nem de ninguém.