Cadeia produtiva da pecuária
comentada em 02/06/2021 21:10

Tudo isso em dedicação parcial? Parece q vc tem visão empreendedora, larga esse serviço público e mete a cara... As vezes o seguro é sua âncora.

@samdof

No caso dele, criação extensiva (pasto), basta contratar pessoas pra dar sal, vacinar, verificar cerca... Se for pequeno, ele mesmo pode fazer isso nos finais de semana.

Dá pra conciliar os dois de boa.

Em permeio à sivicultura? Terreno plano? Elevado? Qual raça de boi? Confinado? Gado não é para amadores. Lembre do ditado: " o gado só engorda com o olho do dono". 

Boa tarde @JTFB !  Meu velho tem fazenda no MT e começou tudo com uma brincadeira. Hoje ele teve que colocar um gerente lá, veterinário, um monte de gente e ainda assim o negócio só ''roda'' com ele lá.

Gado, assim como qualquer negócio demanda alta quantidade inicial de horas para desenvolver, especialmente uma fazenda começada do zero.  Hoje ele passa 15 dias do mês no MT e os outros 15 em SP. 

Além do alto investimento inicial, as margens são baixíssimas, tendo que muitas vezes colocar dinheiro por muitos anos antes de começar sobrar algo pra você tomar um café. Independente de segmento premium ou corte comum.

Não quero te desanimar, muito pelo contrário, apenas alertar das dificuldades que você poderá encontrar.


Sugiro conversar, se possível passar uma semana ou duas em uma fazenda aí da sua região para entender as dificuldades do negócio antes de iniciar seu projeto. Imagine-se trabalhando na fazenda e tendo que investir uma certa quantia de dinheiro e tempo. 

Sucesso em seus negócios! 

Meu caro, para chegar nesse nível de excelência que você diz pretender chegar e com margens altas, você precisa muito mais do que estabelecer uma rede de contatos e fazer um plano de negócios.

Acho que ter os pés no chão é a primeira etapa. Você nem produz ainda e já tem metas incríveis com as raças top de gado e ovinos. Tá percebendo? Primeiro escolhe um, porque os dois não dá, depois aprende a criar, aí depois pega raças top é vai montando o negócio junto.

Se fosse razoavelmente simples criar essas raças, fazer cortes top e fornecer para restaurantes e açougues top, muita gente estaria fazendo.

Começa devagar para não dar um passo maior que a perna.

Parabéns pela iniciativa. Também tenho este projeto para o ORUTUF. Sei que é muito trabalho e expertise envolvidos, mas pretendo começar devagar, como um hobby e ir desenvolvendo competências. Pretendo trabalhar no nordeste, com queijos de cabra de "grife" artesanal.

@samdof aquele "começa devagar" vai aonde no seu exemplo? Diversificar também é se proteger. 

Procure um médico veterinário  ou zootecnista na sua região para orientá-lo, se quer excelência ainda mais com Waugyu tem que ter dedicação exclusiva.

Trabalho na cadeia.

Ou se dedica ou nem começa.

Levar em paralelo tem muito experto pra te sumir com 2 a 3 cabeça a.

No dia do abate vc vai poder ir no frigorífico? Se não bouder baubaus

Sou Zootecnista e dá forma que você descreveu o texto será uma produção altamente tecnificada, vai demandar muito investimento , conhecimento e dedicação exclusiva , no papel é uma maravilha , na prática a conta não fecha. 
Procure empresas que fazem este trabalho e veja a complexidade de toda cadeia produtiva antes de iniciar o negócio.
Boa sorte!

Engraçada a diversidade de comentários. Qualquer coisa que se fale em iniciar um negócio aparece um falando N empecilhos.
Todo negócio a ser iniciado do zero é óbvio que tem dificuldade. Se vc não herdar um império e resolver tentar fazer do zero é claro que tem dificuldade.

Comentários tipo; Gado não é pra amador etc. 
Na boa medicina não é pra amador 6 anos estudando
Direito não é pra amador 5 anos estudando e concorrência monstra
Comércio não é pra amador, a maioria das empresas fecha em 2 anos.

Na boa desconsidera esses comentários. Parabéns pelo plano e iniciativa.

Meu velho compra 30 bezerras pra engordar sempre (mãe nelore, pai cimental). De um ano a um ano e meio estão com 13 arrobas. Muitas vezes, ele vende pra serem usadas pra inseminação outras pra corte (vai uma tarde no frigorífico verificar o peso). Dá um bom lucro.

Vai no pedaço de terra dele durante a semana, final da tarde dele. Pra manejo, vacinar, quando não tem ninguém, ele paga o vizinho. Pronto. Não tem mistério.

@JTFB, comece pequeno assim, vai aumentando progressivamente com o conhecimento.

@MDMA, falou td.

Rei do Gado! 

Se a sua carne é realmente premium você precisa fazer isso chegar no consumidor, essa informação. Sua fazenda precisa de uma marca. Já há casas de carne com fazenda própria, que fazem até excursão para mostrar, etc (provavelmente tinham já a fazenda e montaram a loja). Não é fácil, mas se não fizer isso sua briga vai ser basicamente por volume com margem muito baixa.

Se você quer criar gado a pasto (como é sempre o indicado, inclusive para conseguir ganhar dinheiro), a principal coisa para começar é o pasto. No Brasil isso não é tão simples ter um pasto de boa qualidade, e requer manejo mais intensivo que o normal (pastoreio rotativo, etc). Precisa de um cálculo fino das necessidades nutricionais do animal frente à espécie de pasto que você vai colocar (inclusive em qual idade e altura do pasto você vai usar/trocar o piquete).

Como vários já falaram aqui, criação de gado é um negócio complexo. Precisa ter muito cuidado com dedicação parcial a isso sendo amador, a chance de só levar ferro, ser roubado e outros problemas é enorme.

@MDMA

Acho que os comentários com alerta são importantes. Muita gente quebra a cara. Muitos tem a ilusão que é só comprar terra, comprar bezerro, esperar e passar no caixa sacar os lucros. Ele precisa saber o que esperar.

De rebimboca da parafuseta a manejo de pasto pra gado é com o Celti!!

Há regiões do país que os apicultores estão vendendo o mel por menos de 5 reais o kg. O risco é imenso com dedicação integral. Não no seu caso. Gado não é para amadores. Terra, vacinas, ração, pasto, manejo, cobras, roubos, transporte de carga viva...

@MDMA   O problemas não é começar o negócio do zero, e sim não fazer um plano. Os avisos não são para desanimar, mas para alertar sobre as dificuldades que normalmente as pessoas não pensam pq estão entusiasmadas com a ideia. Por experiencia posso te dizer que muita gente pensa em abrir um negócio e não faz uma pesquisa extensa e detalhada, dái pega todo dinheiro das economias e enfia no negócio. Pode começar do zero? Claro que sim, mas do jeito que ele colocou dá pra ver que ainda não tem idéia da complexidade do modelo de negócios que ele está querendo montar. Quantos frigoríficos  concorrentes já estão fazendo isso com escala muito maior que a dele?
@thiago pode opinar?

Prezados, muito obrigado pelos comentários. Talvez tenha ficado confuso meu post inicial. Foi mais provocação mesmo. Eu quero fazer duas coisas:

1 - começar a investir na recria/engorda;

E

2 - estudar muito toda a cadeia, criar network, fazer um plano de negócios pra chegar a entregar aquela carne top lá na boutique de carnes daqui a uns 6 ou 10 anos.

Para esse item 2 que achei que tinha a ver postar algo aqui, de repente trocar ideia com alguém que se interesse, ou já esteja em algum elo da cadeia.

Vou falar um pouco do ponto 1, que na verdade é a base da cadeia, onde eu já tenho alguma noção.

A brincadeira é séria, tenho uma área com 400 hectares de lavoura e 80 hectares de pastos abandonados. Sou agrônomo e vou reduzir minha carga horária no serviço público para iniciar esses projetos e voltar às origens.

Estamos em áreas de coxilha, relevo suave, solo argiloso e muito fértil. A soja é o motor do negócio. Arrendamos e essa renda está fora da nossa conta (é dos outros sONcios). Vamos entrar com a pecuária nas beiradas das lavouras e no inverno. Quero fazer os 80 hectares de pastos perenes de verão (tifton e capim paredão) e os 400 hectares de pastagens de inverno (aveia e azevém). Vou começar pequeno, com 10 hectares de tifton plantados esse ano. O primeiro lote entrara no inverno de 2020, comprado em leilão. A princípio vou ter um funcionário fixo para cerca elétrica e sal, e vou contratar campeiros por dia para fazer os tratamentos. A meta é ter 500 bois gordos para vender anualmente. Quero trabalhar com animais "tipo" angus apenas, mais ou menos puros, a ideia é chegar nos 500 bois em 5 anos. Talvez precise fazer uma parceira com um ou mais criadores, para ter o padrão de raça no ORUTUF, ou incorporar essa etapa também. Já sei para quem vou vender, eles remuneram um pouco melhor pela qualidade e não são caloteiros.

Se der certo, pelos meus cálculos, consigo pegar uma licença não remunerada nesse prazo, porque já estarei com renda equivalente a atual. Depois desses 5 anos de estudos e prática no primeiro elo da cadeia eu partiria para as outras fases, com dedicação integral ao negócio. Se achar outro elo mais interessante no meio do caminho, mudo o plano e foco em qualificar fornecedores, criar a marca, estabelecer o canal de distribuição, sei lá, isso é que vou estudar melhor.

Parece menos delirante agora?

contrata um veterinário e um agrônomo, no mínimo.
com zootecnista e eng. agrícola fica perto do básico.

boa sorte.

p.s. vc vai pedir exoneração em 6 meses. kkkkkkk

@JTFB

O que escuto de todos produtores é que se no local der soja (alternando com milho) é a melhor coisa a fazer, sendo de longe a melhor relação renda x incomodação, sendo animais a última opção. Tem coisas que dão mais retorno por hectare (ex: fumo), mas exponencialmente mais trabalho. Sugiro calcular qual seria o rendimento colocando mais soja nesse 80 hectares que sobraram e no inverno safrinha de milho nos 400 totais.

Outra coisa estranha é essa história da renda da soja ir para uns, uso no inverno para outros, aí você quer botar gado "nas beiradas", parece rolo. Verifique se isso está bem dividido e se não seria melhor você sair da sociedade com os hectares que seriam devidos e fazer nela o que quiser.

Pelo menos você aparentemente está começando pequeno, fique atento e aborte a idéia caso as contas não fechem. Não adianta ter incomodação com gado se for ganhar igual ou só pouca coisa a mais que botando soja+milho.

@JTFB

Um negócio parecido com esse que você quer é o da VPJ alimentos (não é indicação, mas se não puder citar nome de empresa pode excluir essa parte, kkk)
Eles vendem carne Angus certificada e cordeiro prime Dorper


Na parte de carne bovina, o animal usado no abate é um meio-sangue nelore/angus (vacada Nelore inseminada com sêmen de Aberdeen Angus), produzido em fazenda própria e terceirizadas (produtores parceiros). Daí eles abatem o animal em frigoríficos terceirizados (plantas com SIF certificadas pela empresa) e fazem a logística de transporte e venda dos produtos

Na parte de carne ovina, o modelo é parecido. Animais meio-sangue Dorper ou White Dorper - carneiros PO Dorper/White Dorper (a empresa também vende os reprodutores) cruzados com matrizes consideradas  adequadas (acredito que predominantemente as matrizes devam ser animais mestiços de Dorper/Santa Inês e também matrizes com graus variados de sangue Texel). Trabalham com produtores parceiros também. Abate em plantas inspecionadas (acho que eles terceirizam abate de ovinos também) e depois fazem logística de transporte e comercialização.


Veja que no modelo deles, os setores mais complicados - produção e abate - foram terceirizados, ainda que prestem assistência e acompanhem todo o processo.

 

Sobre a produção em si, que é a parte mais legal =P
 

Não manjo muita coisa de pecuária de corte de clima temperado. No exemplo da empresa que citei acima, as matrizes são nelore (abundantes no mercado, baixo custo de manutenção, rusticidade, habilidade materna) e os animais terminados são na verdade meio-sangue, com os benefícios da raça britânica adicionados (precocidade, acabamento de carcaça, marmoreio, etc). Não sei se no RS os produtores usam vacada pura Aberdeen, usam? 

Wagyu tem um cara em SP que cria, na verdade os animais abatidos são meio-sangue Wagyu/Nelore (mesmo esquema, inseminação na vacada nelore).

Como a produção da empresa citada e desse cara de SP são na área tropical do Brasil, o modelo sempre vai envolver matriz nelore.

Sobre os cordeiros

Suffolk é uma excelente raça de carne, mas grande (fêmea adulta ao norte de 90, 100 kgs) e tende a ser um pouco tardia em comparação com outras raças de carne (relatos de quem trabalhou com ela). Matrizes Suffolk nem pensar, aumenta muito o custo de comida, no máximo usar um reprodutor puro pra cruzamento terminal.

Texel é de porte médio a grande, abundante, creio que pode ser usada como matriz, mas tem a necessidade de tosquia, tosa higiênica, etc. Tem uma certa tendência a problemas de parto também, pela sua conformação. Ou seja, alguns problemas quando pensamos em matrizes.

Dorper é do mesmo porte da Texel (mais atarracada), não é lanada e não tem necessidade de tosquia. Ao contrário de outras raças deslandas, é precoce (atingindo os 40 kgs de abate com facilidade ao redor dos 90-100 dias em manejo apropriado) e a carne tem ótima aceitação (não é a toa que a empresa do comentário anterior a utiliza). O problema é que não é tão abundante, o que torna caro um plantel inicial de matrizes puras dessa raça, onde eu acho que poderia entrar a Texel num cruzamento pra ter volume.

Outra raça excelente de carne é a Poll Dorset, lanada, carne de excelente aceitação, que entraria como reprodutor num cruzamento terminal. Uma das mais populares no Canadá, por exemplo.

Em suma, eu usaria um rebanho de matrizes de base Dorper/White Dorper (meio-sangue ou maior grau de sangue com Texel, pra ter volume em um primeiro momento) com um reprodutor pra cruzamento terminal Dorper/White Dorper ou Poll Dorset. 
O carneiro reprodutor tem que ter, ao contrário de bovinos não dá pra inseminar rebanho comercial com sêmen congelado de ovino, só fresco ou refrigerado, coletando e processando na propriedade.

@JTFB não sei em qual carreira do setor público você está, mas pode buscar a possibilidade de teletrabalho (tendência no setor público), pois assim dará para você se dedicar melhor ao seu negócio. Tenho conhecidos que já estão com atividades assim.

@Japoneis  

Estava procurando informações sobre criação de carneiros e gostei do seu comentário! Tem experiência na área?
Temos uma fazenda no sul de Minas e estava pensando em arriscar um pouco nesse empreendimento. 
Onde posso coletar boas informações?
Temos tempo e pessoal disponível e queria começar pequeno pra adquirir experiência.
Nesse momento de pandemia o que estou fazendo é garimpar informação pra depois que as coisas acalmarem começar o projeto

@Cao_perseu Tenho dúvida quanto à viabilidade desse tipo de negócio, isoladamente, a não ser que o Sul de Minas seja um POLO criador de ovinos.

@Cinova 
Não é um polo não. Mas aparentemente temos algumas cabanhas na região que até vou procurar o contato depois.

@Cao_perseu

Sou veterinário, trabalhei bastante com ovinos de corte e caprinos leiteiros nos meus primeiros 3 anos pós-formado, fiz vários estágios na área também, junto com gado de leite.

Morei alguns meses no Sul de Minas no fim da faculdade. Lugar maravilhoso, pra mim é a melhor região de Minas, inclusive porque é colada em SP, aproveitando muito da infra paulista mas mantendo o lado bom de MG.

Sempre que alguém vai começar um negócio nessa área de produção animal, entendo que deve pensar "de trás pra frente". Ou seja, primeiro pensar na comercialização da produção, e depois pensar em aspectos da produção em si condicionando-os à melhor situação de comercialização. 

No caso de ovinos de corte, o melhor é ver se na sua área há frigoríficos que possam comprar sua produção, se é viável pra eles e pra você. Responder às perguntas: quem vai comprar minha produção? quanto vão me pagar? Vai ser viável pra mim?

Se você quiser comercializar diretamente sua produção, é bom ver se há frigoríficos que façam o abate terceirizado, entregando pra você os cortes inspecionados, e como você vai fazer a logística de distribuição. Nesse caso, mais complexo, você deveria ver antes também o mercado comprador (produzindo no Sul de MG com certeza será em SP, especialmente boutiques de carnes e restaurantes). Responder às perguntas: Onde vou abater os animais? É viável o quanto vão me cobrar? Onde você vou estocar os cortes? Como vou fazer a distribuição? Pra quem vou vender? Vai ser viável pra mim?

Muitas vezes quem tem uma propriedade quer fazer determinada coisa que simplesmente não tem saída viável na região. Isso acontece às vezes com quem começa a criar ovinos de corte, dependendo do lugar; na hora de vender, tem que partir pra intermediários, ou pior, abatedouros clandestinos.

A viabilidade a longo prazo do negócio é totalmente dependente da solidez do seu esquema de comercialização, não importa o quão técnica seja sua criação.

 
Aqui estão alguns sites pra ajudar:

Site da Associação Paulista dos Criadores de Ovinos (Aspaco), já na página dos compradores e frigoríficos:Frigoríficos | ASPACO

Site da Associação dos criadores de Caprino e Ovinos de MG: Associação dos Criadores de Caprinos e Ovinos do Estado de Minas Ger

De modo geral, o animal dos sonhos para um frigorífico de ovinos (e para os consumidores também) é um cordeiro abatido aos 90 dias de idade com 35-40kg, de raça lanada de corte ou Dorper/White dorper (sempre que eu falar Dorper considere junto o White Dorper, que alguns técnicos e criadores inclusive afirmam ser um animal superior).

O problema é que raças lanadas dão certa mão de obra (tosquias periódicas, tosa higiênica das fêmeas no pré-parto), especialmente em região tropical. Portanto, muitos criadores do sudeste tem o Santa Inês (deslanada) como base do rebanho.

Só que os rebanhos de Santa Inês comercial têm um nível em geral bem baixo (não falo do Santa Inês de elite de uns poucos criadores de SP, por exemplo), e os cordeiros dificilmente atingem esse patamar mencionado acima. Sem falar de outras coisas como: acabamento de carcaça, conformação e qualidade da carne, além de outros problemas como úberes mal-conformados das matrizes, etc.

Já um rebanho comercial com matrizes Dorper é complicado pelo que postei no outro comentário: relativa escassez de animais, preço de aquisição, etc.

Então uma possível solução (usada bastante por criadores de Dorper de elite para o rebanho de receptoras de embrião, com certo sucesso) é utilizar como matriz base do rebanho animais meio-sangue Dorper/Santa Inês, adquirindo cordeiras Santa Inês (as melhores que puder encontrar) e inseminando-as com Dorper, "fundando" assim o rebanho. 



O Reprodutor no caso acima é sempre Dorper de cabanha de elite, e a partir do meio-sangue vai pra 3/4, 7/8, 15/16 Dorper, etc. Tanto pra animais de abate quanto pra reposição, vai aumentando o grau de sangue Dorper. Troca-se o reprodutor de quando em quando para evitar consanguinidade.

Tem que comprar o reprodutor pois é praticamente inviável inseminar rebanho comercial com sêmen congelado, ao contrário de bovinos (não dá pra passar a pipeta pelo colo uterino da ovelha, sendo assim a inseminação com sêmen congelado é por laparoscopia, reservado a animais de elite).

No caso, ao adquirir um reprodutor jovem e de grande qualidade (vários criadores paulistas, poderia citar talvez o mais famoso, Dorper Campo Verde em Jarinu-SP,  mas tem outros), você coleta o sêmen dele e insemina a fresco. É um processo bem simples mas que vai requerer um veterinário, e você vai sincronizar o cio das ovelhas pra isso. Se forem poucas ovelhas dá pra deixar o macho direto com elas após sincronização, mas muitas ovelhas (mais de 15) não aconselho, o melhor é coletar o sêmen e inseminar.

Para criar cordeiros e comercializá-los, você precisa de um lote homogêneo, animais de mesma idade, peso, conformação. Dado o curto período de vida (90-100 dias até abate), uma semana ou duas já faz uma puta diferença; Então, para o lote de abate ser homogêneo, precisam nascer todos juntos, e só consegue isso através de sincronização de cio das ovelhas. Isso facilita uma porrada de outras coisas no manejo também (aquisição de insumos, racionalização de mão de obra, cuidado dedicados a momentos chaves como parto).

O que passei acima foi só um delineamento inicial do negócio de produção de ovinos de corte: comercialização e escolha/montagem do rebanho.

 
Tem outros aspectos fundamentais, como:


- Conformação da sua propriedade:

Qual o tamanho da propriedade? Qual a área disponível de fato pra criação? Há pastagem formada? Qual o tipo de forrageira? Ela é adequada pra ovinos?

Essas perguntas estão todas relacionadas.
Pastagem mais produtiva precisa de menor área, pastagem mais fuleira precisa de área maior.
Sem área de pastagem significa animais confinados direto, demandando compra da forragem - silagem, feno, pré-secado, aí tem que avaliar a disponibilidade na sua região. Ou então dar capim-elefante picado, o que demanda a área de capineira em si além da mão de obra pra picar capim uma ou duas vezes ao dia, todo dia.

Alguns tipos de pastagem não são recomendados pra ovinos (ex., brachiaria brizantha, brachiaria decumbens, por poder causar certos problemas de saúde), outras são pouco produtivas ou pouco nutritivas, apesar de bem comuns (brachiaria humidicola ou quicuia).

Como é a área onde os animais vão ficar?

Se for área de várzea esquece - ovinos detestam umidade, afeta o casco e predispõe a uma série de parasitoses. Se for morro íngreme, a área tende a ser pouco produtiva. O ideal é sempre a meia laranja. Tá sujeita a alagamento? Tem que ver muito bem o tipo de forrageira que vai utilizar, e ver área alternativa pros animais em época de alagamento. Normalmente essas áreas são de várzeas e estão descartadas pra ovinos.


- Mão de obra:

A mão de obra disponível tem conhecimento de ovinocultura? Estão dispostos a trabalhar com ovelha?

Existe quem não goste de trabalhar com ovinos. Geralmente o pessoal trabalhou antes com gado de leite, que é mais "prático" no dia-a-dia. Ovino você se abaixa muito pra pegar, dói as costas, se suja com aquela graxa de ovelha, não dá pra tocar pra onde quiser igual gado leiteiro. 


- Instalações:

Tem vizinhos próximos? Eles têm cachorros?

Um dos principais problemas de criação de ovinos é predação por cães (vadios ou de vizinhos). Não se engane, mesmo um cachorro pequeno (12-15 kg) pode fazer um estrago, matando cordeiros e ferindo ovelhas. Como possíveis soluções existe  a utilização de cães de guarda (criados com as ovelhas), o Pastor Maremano é uma raça especializada nisso. Pode confinar no período noturno em aprisco fechado. Tem que ver o que melhor se encaixa pra você.

Já tem o aprisco? Vai construir?

Existem muitos detalhes desta parte que é fundamental. Tem que ver isso junto com um técnico com experiência na criação de ovinos no Sudeste. Como observações gerais, podemos dizer que:
Ovelhas detestam umidade, seja do solo, seja da chuva, seja das suas próprias excreções. Detestam vento também, mas não toleram ambientes fechados sem circulação de ar. Ambos propriciam o aparecimento de doenças respiratórias.

Piso ripado é a melhor opção pro aprisco, e têm que ser posto idealmente a uma altura do solo que possibilite a limpeza das dejeções acumuladas abaixo dele com máquina, no mínimo uns 2m.

Cordeiros recém-nascidos e até umas 3 semanas não podem ficar no piso ripado (prendem o pé e quebram a perna), então você tem que ter uma área de maternidade, talvez até em instalação separada, com piso concretado com maravalha.

Nenhum animal pode ficar direto no ripado, especialmente os reprodutores, que o melhor é ficar em um pequeno piquete com abrigo ou então galpão de piso concretado com maravalha.

Tem que ver a orientação da instalação, como o sol bate, correntes de vento, etc. 

Pontos de água disponíveis. Como vai embarcar animais a partir da instalação.

Cercas: arame farpado é ruim, propicia a transmissão de doenças como linfadenite caseosa. Cercas simples usadas para bovinos leiteiros não funcionam, os animais passam por ela. O ideal é uma cerca de arame liso com vários fios em baixo, espaçados de 10 cm até +- 1 m de altura. Ou tela. Isso tem um custo.


- Assistência técnica:

Tem veterinário da sua região que conhece ovinos? Que tem experiencia com criação deles aqui no sudeste? O modo de criação no nordeste e no sul geralmente é bem diferente (extensivamente, por exemplo), o que pelo tamanho e conformação das propriedades do Sudeste não costuma ser factível. usam raças diferentes, tem propositos diferentes. 

Vai poder te auxiliar em quais etapas?

Tem uns que entendem de sanidade, mas não podem te ajudar na parte reprodutiva. Outros podem te ajudar nas duas, mas não entendem de nutrição. Alguém pode manjar de reprodução e nutrição, mas não vai poder te auxiliar num procedimento cirúrgico de emergência. Procure veterinários (talvez mais de um) aptos a te ajudar em cada uma dessas áreas. Ex., pra inseminar chamo esse aqui, pra casos de emergência esse outro, pra assistência em sanidade esse terceiro.

O ideal é ter essa assistência já na  etapa de aquisição de animais pra montagem do rebanho, evitando adquirir animais com problemas sanitários ou zootécnicos. Pra começar bem.


- Nutrição: 

Qual o tipo de forrageira? Como é a disponibilidade de ração específica na minha região? Vou fazer a ração na propriedade? Onde encontro os insumos, e o que preciso pra fazer a ração? Onde vou acondicionar? 

Não pode usar insumos de bovinos na área de nutrição (pode causar intoxicação), então você vai precisar de assistência específica aqui. Certamente os cordeiros serão confinados ou semi-confinados, ao menos em algum momento.



Enfim. finalizando, todas essas são perguntas que devem ser respondidas antes de iniciar a criação.

@Japoneis

Obrigado pelas informações, já tem coisa pra pensar a semana inteira, hahahha! Obrigado mesmo pela disposição em responder!

@Cao_perseu

Ficou bem extenso, kkk

Adoro discutir ovinos, caprinos e gado de leite

vai postando aqui a evolução

Discussão interessante. Alguém mais experiente teria alguma dica em termos de tamanho mínimo viável da propriedade de boas condições (topografia, água, solo) e rebanho de ovinos para corte e venda de genética (dorper, santa Inês)? 

Alem disso, uma média de quantas cabeças por funcionário ?

@mecalm

vamos por partes:

- Sobre o tamanho mínimo viável da propriedade:


Se você vai criar animais de elite, essa não é exatamente uma preocupação. Explico.
Quem cria animais de elite (seja ovinos, gir leiteiro, nelore, cavalo, etc) não está preso à questão da viabilidade econômica do negócio.

O criador de elite vai até onde o dinheiro dele consegue bancar. E esse dinheiro obviamente não vem da criação - o cara é empresário, médico, político, cantor sertanejo... qual seja a fonte do dinheiro, a criação de animais de elite é sempre um hobby, por maior que seja a proporção que atinja e a importância que o negócio tenha (afinal são esses criadores os responsáveis pelo progresso genético da raça e em último caso pelo desempenho produtivo).

Então propriedade pequena, média, grande, ou um aprisco/galpãozão com animais comendo feno e ração o tempo todo, tanto faz, depende do que pode bancar. 
Nesse caso o ideal seria visitar umas cabanhas de elite e se enturmar com os caras.


Se você vai ter um rebanho comercial, vendendo animais pro abate, você tem que fazer contas.

Penso que de qualquer modo o ideal é começar pequeno, tipo, 1 carneiro jovem Dorper/White Dorper de cabanha de elite e 15 cordeiras novas (Dorper ou as melhores Santa Inês possíveis). Vai criando, vendo os problemas, vendo se gosta, vendo as necessidades que aparecem... Caprinos e ovinos em geral têm baixa liquidez, não é como gado de leite que se você desistir da atividade em poucos dias você zera tudo. Então o ideal é começar certo, mas pequeno.

Isto posto, em relação à área de pastagem, depende totalmente da forrageira utilizada.
Se for usar tifton 85 ou outro desses Cynodon altamente produtivos, rotacionados e irrigados, dá pra chegar a cerca de 15 ovelhas adultas por hectare, talvez no verão um pouco mais. Um capim aruana rotacionado e irrigado no verão por aí também, um pouco menos talvez e com maior sazonalidade que o tifton no sudeste.
A lotação vai depender da produtividade da forrageira, que vai depender da espécie e cultivar escolhida, do manejo, da luminosidade, da umidade e do solo. Portanto o que falei é um delineamento geral, cada propriedade tem que fazer o ajuste fino. 

Há quem faça uma correspondência com bovinos, onde 5 ovelhas adultas com cordeiro equivaleriam a 1 Unidade Animal (UA). Não é uma coisa exata, mas dá pra ter uma noção.

Sobre tamanho viável de rebanho, vai depender do que você almeja: ficar criando por hobby pra comer uns cordeiros no churrasco e no natal? Começar pequeno e ir aumentando aos poucos? Vender pra abatedouro,  vivendo da atividade? Aí entram as contas.

A cotação do kg do cordeiro vivo tá uns R$ 9,00 - 9,50 em SP, cordeiro de 35 kg terminado aos 90 dias, o que dá uma receita bruta de uns R$ 330,00 por cordeiro vendido pro frigorífico. Se for vender você mesmo os cortes, tem que ver o custo do abate terceirizado (vi uns anos atrás, tava uns 20 reais por cabeça e eles ficavam com miúdos e couro, entregando os cortes embalados e inspecionados) e a quanto você vai conseguir vender para boutiques de carnes e restaurantes. Tem que pensar nas fêmeas deixadas pra reposição e nas fêmeas de descarte, que tem valor de mercado bem menor.

Tem todos os outros dados também: taxa de fertilidade das ovelhas, nº de cordeiros nascidos/parto (Dorper média de 1,4 -1,6 cordeiros/parto), tempo de gestação (5 meses em ovelhas), partos/ano (o número mágico de 3 partos em 2 anos por ovelha é possível mas bem difícil de ser alcançado, e demanda protocolos hormonais para atingi-lo - ovelhas têm sazonalidade reprodutiva)... custo da ração, ou do milho e farelo de soja... custo de implantação e manutenção da pastagem, custo de construção das instalações (quanto maior a escala, mais dilui os custos fixos...), assistência técnica... medicamentos e fármacos reprodutivos...

Sobre funcionários, para quem vai começar pequeno nesta atividade visando um rebanho comercial no ORUTUF, o ideal aqui no sudeste é começar ele mesmo e a família a cuidar dos animais e tocar o negócio. Conforme vai crescendo, vai chamando mais gente conforme a necessidade, primeiro pagando diárias, lá na frente botando alguém fixo.

De modo geral, um funcionário que sabe o que está fazendo consegue segurar a rotina de um aprisco pequeno com 50, 60 matrizes. Mas qualquer intervenção que você faz na ovelha (vacina, vermifugação, tratamentos, etc) você precisa de pelo menos 2 pessoas.

Se crescer a escala e as instalações e manejo forem práticos e funcionais (limpeza com máquina, tronco de ovinos para procedimentos, etc), não significa que a cada 60 matrizes você vai precisar de mais um funcionário, a tendência é ter uma relação matriz/funcionário cada vez maior.

 

Só de ler os posts do @Japoneis neste tópico já estou capacitado a ir qualquer evento de agronegócio e discutir sobre o tema com qualquer produtor/criador.

Fiquei curioso pra saber se a ideia foi pra frente...