Sobre pseudociência alimentar e seus perigos
comentada em 27/11/2019 18:12

sim, e a maioria nao entende q nessa area eh muito dificil provar qq coisa e para provar precisa de milhares comendo algo ou nao comendo por 20 anos ou mais
ai entram em qq site ou blog com um monte de supostos artigos cientificos e ja começam a tomar tudo como prova cientifica
e nem param para pensar

nao tem como a intolerancia a glutem ter evoluido de 0,5% da população para 50% da população em poucos anos e o pior, comer sem glutem eh menos saudavel do q comer com gluten se a mudança for so essa

nao tem como da noite para o dia metade da população ter desenvolvido intolerancia a lactose

o aparelho digestivo eh o mais afetado por emoçoes, se vc acreditar q tem intolerancia as estas coisas vai ter mesmo

enquanto isso a industria q eles acham q estao combatendo ta fazendo bilhoes com a modinha
assistam shark tank
se a pessoa leva um alimento la q nao tenha uma modinha eles nao querem investir
tem de ser natureba sei la o q, sem gluten, sem lactose, vegano, etc
senao eles nao investem

o mais interessante eh q as pessoas acham q estao indo contra a industria alimenticia q absorve toda modinha e ganha bilhoes com ela, nada melhor para a industria do q uma modinha

e no fim, eh isso mesmo, as pessoas colocam suas vidas em risco como por exemplo fazendo esporte em jejum q eu ja presenciei alguns acidentes graves, todos de pssoas q diziam q faziam a um tempao e nunca tinham tido problema, sempre o velho, nunca tive problema

e o argumento q depois q eu to fazendo sei la o q eu perdi X kilos e to me sentindo melhor
toda dieta por mais retardada q seja sempre levou as pessoas a perder alguns kilos no inicio
depois recupera tudo
e mesmo q perca peso, jejum por exemplo eh obvio q perde peso, nao precisa nenhuma ciencia para saber isso, mas a questao eh se ta perdendo de forma saudavel e quanto vai recuperar depois

é exatamente isso, a modinha muda, mas a industria vai continuar lucrando milhões. A moda é hamburger de planta? eles vão e fazem um hamburger de planta que é "igual carne", ou seja, um ultra-processado sendo colocado como opção saudável, e ai os burros vão e abraçam.

O problema é que até hoje a "ciência" no quesito alimentação já se equivocou - e continua se equivocando - demais. Eu prefiro a heurística apresentada por Taleb no livro antifrágil: algo como "coma e beba aquilo que já foi validado por nossos ancestrais". Também tento dar preferência por comidas que sejam da região (tipo comer mamão, manga e banana ao invés de berrys).

Ontem vi um episódio de south park muito bom, onde substituíam o junkie food carnívoro da cantina da escola por comida ética-sustentável-vegana e o Cartman ficava louco. Só que no final, o treco era uma gororoba tão processada que ele próprio reconhecia como algo que gostava (não importava a origem, contanto que tivesse muito aditivo e processamento). A moral: estão substituindo comida ruim com carne, gluten e lactose por comida ruim sem carne, gluten e lactose. Quem perde são os mesmos e quem continua ganhando são os mesmos, nada muda.

@juliox falamos exatamente a mesma coisa so q diferente :)

enganam as pessoas com estas modinhas e continuam enfiando gororoba processada nelas
elas comem alimentos processados cheio de porcaria mas ficam felizes pq esta escrito sem glutem ou sem lactose ou ou q for

e a industria ganha ate mais dinheiro pq tira sei la o q e cobra mais caro

@juliox a Ciência sempre vai se equivocar. Se algo se propõe infalível, por definição não é científico. No entanto, é a Ciência que permite a evolução técnica da humanidade, desde o início dos tempos (mesmo antes da consolidação do método científico). Ela não é perfeita, mas é o melhor a que chegamos enquanto espécie e enquanto sociedade.

Qualquer pessoa pode escolher fazer o que quiser, mas esse movimento de "criar" sua própria verdade, de "escolher" os fatos convenientes para sustentar essa verdade, não é novo. É uma forma de pensar que sustenta o charlatanismo, a pseudociência, o tribalismo ideológico sectário.

No caso específico dessa sua heurística, nada mais é que uma nova roupagem da velha ideia de sabedoria prática, de senso comum. Não é algo negativo por si só, penso até que é prudente. É uma forma de pessoas leigas, como todos somos em várias áreas do conhecimento, terem algum tipo de norte no dia a dia.

Mas essa visão passa a ser negativa quando se torna anticientífica, como às vezes é o caso. Ou seja, quando o senso comum é elevado ao patamar de verdade inquestionável. Não é porque sempre se fez algo que isso é o melhor de ser feito.

Realmente existe um movimento crescente pseudo-cientifico na área alimentar.

A meu ver funcionam da mesma forma que os cultos recentes que carregavam milhares em busca de uma nova forma de fé.

O primeiro passo para formação de um culto alimentar é a criação de doentes imaginados. Se você come e não tem o corpo 100% sarado, tem alguma doença auto-imune, teve câncer, sente dor, não se concentra é porque você come glúten demais, toma lactose demais, consome processados...

O segundo passo é a identificação dos líderes carismáticos. Amplamente divulgados pelas redes sociais. Espécies de gurus que vivem uma vida livre de todos os males alimentares e que tem aparência (só aparência) de ser 100% saudáveis. Toda a verdade está contida no que eles dizem e os fatos científicos não significam nada perante aos músculos ou magreza desse (ou dessa) líder.

O terceiro passo é a criação de inimigos imaginários. “A indústria farmacêutica quer que você coma mal para produzir doenças, a indústria alimentícia está conspirando com eles”. “Toda cura pode ser encontrada via alimentação e isso não é divulgado porque não gera dinheiro.”

Por fim a sensação de pertencimento. De repente o indivíduo não é mais um pária alimentar que está obeso por comer demais e fazer exercício de menos. Ele foi enganado a vida toda. Mas agora em seu novo grupo é só questão de tempo para que o glúten, a lactose e os corantes saiam do corpo para ele alcance a vida saudável.

Eu entendo a pressa das pessoas em ver resultados e validações científicas. Mas infelizmente nessa área com o conhecimento atual é improvável que isso seja alcançado na epidemiologia alimentar. O que assusta no entanto é como o mecanismo de culto alimentar suplanta até afirmações óbvias e científicas.

@Stoic a postagem espetacular
vc deveria escrever um livro
pensa ai, se quiser a gente ajuda

Perfeito, @Stoic

Reforço o que Bastter disse. Eu leria seu livro

@oxe

Não me lembro a autoria da afirmação de que não estamos na era da informação, mas da doxa.

@Stoic É o retrato do nosso tempo. Pode trocar ai alimentação por trade, investimentos, saude em geral, depressão e por aí vai

Também leria um livro do @stoic. Aliás, li uma recomendação sua (o doente imaginado) e gostei muito.

@oxe

Sem dúvidas, não estou propondo obscurantismo. O problema ao meu ver é que muitas vezes a ciência tem seus próprios vieses e interesses e quando vem algo novo desmentindo o estrago já está feito. A ciência é fundamental, mas tem que se entender a sua limitação inerente (ainda é feita por humanos em um mundo humano de interesses humanos). 

O fato é que a gente não precisa de confirmação científica pra todas as coisas do mundo. Aliás, se procurar direitinho você acha sustentação pra defender qualquer coisa (como vocês acham que aquele médico famoso da água alcalina sobrevive? Pasmem: com estudos!). 

Então temos que ser céticos inclusive com a ciência (de certa maneira, claro). Pra quem tem interesse recomendo esse livro que o @stoic me indicou, o doente imaginado. Gosto também da parte do Antifrágil do Taleb sobre o assunto (especialmente sobre subtração x adição).

Obs.: não sou terraplanista

Alguns dos modismos são profecias auto-realizáveis. Pega o caso da intolerância a lactose: a pessoa se convence disso (mesmo sem evidências) e para de tomar leite por muito tempo. Depois tenta tomar e passa mal, pois adulto que não toma leite não produz lactase, mas a pessoa se ilude achando que sempre teve isso e que isso foi a causa de muitos problemas.

Tem também os casos de glúten, que são sobretudo psicossomáticos, pessoas que não tem doença celíaca mas passam mal com glúten por auto-sugestão. O interessante é que a presença do gluten na verdade é um indicador de qualidade do trigo, se ele tem pouco gluten é difícil a panificação (caso do trigo brasileiro, que só pode ser panificado se misturado com importado).

@juliox eu acho que na realidade nós (pessoas normais) que temos que entender as nossas limitações... sim, os estudos são feitos por humanos, sim, temos que manter um nível saudável de ceticismo, mas toda ciência de verdade é revisada e testada, por métodos e pelo tempo e temos que aceitar que não temos como ter opinião sobre tudo, como por exemplo, não temos opiniões sobre estudos de circuitos integrados que são feitos a décadas, mas colhemos de seus frutos diariamente.

Falar que evidencias não provam nada é desculpa pra acreditar no que quiser.

@gabbarishes

o porblema de "evidencias" eh que, em alimentacao, nunca vi nenhuma que seja 100% para todods.

o que vi sao tendencias e, para ficarmos "neutros" na alimentacao, sem tombar para um extremo ou outro e ter consequencias de qqr destes extremos, deveriamos ter EQUILIBRIO na nossa alimentacao, comendo um pouco de cada coisa e nao comendo muito de nenhum alimento especifico.

"""LOGICO que ja sabemos que hamburguer com batata frita e sorvete tem masi chances de nos fazer mal do que ovo cozido com berinjela e fruta."""

desta forma teriamos um pouco de cada nutriente e nunca teriamos nenhum mal de nenhum alimento especifico pois nao comeriamos MUITO de nenhum deles.

bem, isso eh so mais uma teoria, mas eh o que ja vi funcionar ate hj, sendo que qqr outro tipo de alimentacao, principalmente os entitulados "dietas", somem em menos de uma decada normalmente.

@mauro.jasmin Concordo, por isso existem estudos e evidencias de qualidade e outros nem tanto. Entendo que acima disso existe a possibilidade da pessoa experimentar e ver se da certo pra ela. 

@gabbarishes

Boa colocacao.

@Charlito

A humanidade nunca deixou de ser regida pelo senso comum (doxa). A importância das opiniões comumente aceitas foi, aliás, reforçada por Aristóteles, que ressaltou a relevância da "opinião dos sábios" (endoxa), tanto no Tópica quanto no Retórica. Para o estagirita, há mais de uma forma de raciocinar corretamente, há matérias que atraem um raciocínio dedutivo e há outras que dependem de debate, de argumentação. É preciso organizar ambos os raciocínios pra evitar vícios e falácias.

A verdade é que, desde o início dos tempos, a organização do conhecimento é um processo de hierarquização dos "auditórios" (pra usar a terminologia de Perelman). Algumas pessoas possuem mais autoridade sobre um assunto que outras e, por isso, a opinião delas deve ser ouvida com mais atenção e, salvo prova em contrário, é a opinião delas que vale. A partir daí, naturalmente se passa a um processo de escolher critérios que dão autoridade à opinião de uma pessoa. Critérios como maior idade e notório conhecimento, mais "meritórios", convivem com critérios como linhagem sanguínea, carisma e status social, mais "irracionais" por assim dizer. A sacada dos filósofos foi começar a pensar em critérios intrínsecos ao debate em si, à forma como os argumentos são apresentados. Mas não se negava a relevância do que mais tarde se chamou communis opinio doctorum.

A ascensão da Ciência durante a Modernidade não interrompeu esse processo. A grande revolução do método científico foi dizer que a verdade existe independente de quem a observa e que qualquer um pode chegar a essa verdade através do método proposto (que, por sua vez, foi sendo refinado). Isso abriu espaço, junto com várias outras Revoluções (exemplo, a Protestante), para o individualismo Iluminista, politicamente manifestado no Liberalismo e juridicamente, nos direitos fundamentais (de primeira geração). Mas a ideia de que qualquer um pode alcançar a verdade e que todos têm direito à voz e participação política nunca quis representar a ideia de que qualquer um pode falar sobre qualquer coisa. Existia uma intermediação obrigatória do saber, do conhecimento. Esse processo social de individualização era, ainda, elitista. Por mais que reconhecesse a existência e dignidade de cada pessoa, os símbolos de apreensão do conhecimento eram de propriedade de uma elite social. O voto era censitário, o analfabetismo era a regra, havia preconceito social e racial, assim vai.

A questão é que a contemporaneidade assistiu a vários fenômenos que puseram em xeque essa estrutura social. Primeiro, a democratização do acesso ao conhecimento, gradualmente elevada até o ápice hoje com a Internet. Segundo, a redução ou eliminação de várias barreiras sociais (voto universal, inclusive para mulheres; fim da política do "equal but separate" e similares; etc). Terceiro, duas grandes guerras, sustentadas ideologicamente em visões científicas predominantes que se revelaram apenas pretextos ideológicos para um esgoto ético (espaço vital, eugenia, criminologia de Lombroso, etc). Quarto, a ameaça atômica por boa parte do século XX e o medo quanto às possibilidades destrutivas da ciência deixada livre de amarras sociais. Quinto, a globalização levou a uma sociedade plural, que precisa conviver dignamente entre opostos, religiosos, ideológicos, assim por diante. Tudo isso levou à tal da crise ética da pós-modernidade, à hipertrofia do Direito. Se todos os alicerces tradicionais ruíram, só resta procurar o certo e o errado no Direito. Mas o Direito não está imune de críticas e agora, mais do que nunca, até ele é questionado...

Ou seja, todas as bases sociais que segregavam os debates foram demolidos. Se qualquer um pode opinar, todos os debates são num auditório universal. E o discurso técnico vira entretenimento de massa. Pela simples razão de que boa parte da formação técnica nas áreas sociais serve para aprender a forma correta de debater, de apresentar argumentos pertinentes. Se mesmo pessoas sem formação técnica podem argumentar, então essa técnica se torna obsoleta e passa a ser mais importante falar de maneira simplista, fácil de entender, que falar corretamente. A tendência é a de que todos os debates sejam contaminados por elementos de tribo, como religião, ideologia, preconceitos, etc. Porque essas são tendências psicológicas inatas ao ser humano e, ao longo dos séculos, foi justamente a segregação do debate que permitiu (com um grau apenas relativo de sucesso) isolar o debate dessas "irracionalidades". Sem o escudo da técnica, tudo é fair play. E aí o debate passa a ser isso que vemos nas redes sociais: memes, movimentos de onda, a necessidade opressiva de opinar sobre tudo.

A organização tradicional dos debates só é possível se a sociedade como um todo tem humildade o suficiente pra reconhecer que não é capaz de opinar sobre todos os assuntos; e confia suficientemente nas instituições pra aceitar o resultado dos debates que envolveram outras pessoas. É por isso que existe um sistema de "titulação", pra separar quem tem condições de participar do debate sobre esse ou aquele tema. Se tudo isso foi por água abaixo e ninguém confia mais nas instituições, o resultado é a desorganização com a procura consequente de um novo método de organização. Estamos aí, procurando esse método.

Então, da forma como vejo, o problema não é que estamos numa era do senso comum. Sempre estivemos nessa era. O problema é que estamos numa era em que a própria ideia de verdade, de organização do pensamento, está desprestigiada. Por isso a endoxa, o senso comum dos sábios, passa a ser dominada por critérios "irracionais", pelo carisma do emissor. Ou seja, sabedoria é carisma, não conhecimento ou precisão de raciocínio. Numa era como essa, os filósofos definham e predominam os sofistas. E isso tudo tem relação com a abundância de informações, pois são elas que permitem a comunicação e o debate mundiais.

Enfim, ficou grande a resposta, mas quis expor do início ao fim o que queria dizer. A mim parece que jamais retornaremos a tempos anteriores, em que a informação e a abertura ao debate eram escassas. O desafio é como vencer, coletivamente, essa tendência inata que temos aos vieses cognitivos para que esses debates universais possam ser aproveitados positivamente, ao invés de servir pra enriquecer charlatães.

Até por uma razão mais profunda: se não se busca uma verdade objetiva e todo discurso é convencimento atécnico, então qualquer justiça passa a ser justiça das massas e a justiça das massas é a coroação da violência carismática. Trasímaco ri:

@bastter tenho interesse sim. Vou organizar os textos e mando uma versão inicial assim que conseguir

@arnaldinho concordo. As redes sociais potencializaram uma nova forma de ocultismo. Desta vez sem limite geográfico. 

No tocante aos cultos alimentares há uma diferença. Os líderes carismáticos vendem muito mais facilmente a saúde artificial. Apesar de não dito, há um contrato implícito. “Pare de comer glúten e seja magra como eu”. “Pare de tomar lactose e tenha meus músculos”. 

Infelizmente a maioria preferiu a pílula azul da mentira confortante. Eles não querem a pílula vermelha que mostra que na verdade toda essa “saúde” é inventada.

E assim pessoas entregam seu bem mais precioso. A saúde. 

@juliox por favor não pense que escrevi pensando no seu caso. Acompanho seus posts há vários anos e sei que você é diferenciado e sabe o que fala  

Post favoritado! Muita sabedoria e genialidade dos amigos foristas! 
Aprenderemos muito com seu livro @Stoic

Hoje estamos no tempo da pós verdade, onde um prêmio Nobel em física na área de astrofísica é contestado por um cidadão que nem sabe fazer o circulo com um copo. Entretanto, colocam na internet, fulano de tal humilha o prêmio Nobel e prova que a terra é plana. Os likes vira atestado de veracidade.

Imagina na alimentação e com a complexidade do corpo humano, fica praticamente impossível mostrar o charlatanismo. Precisa de pessoas morrerem com a prática pra dar veracidade e mídia.

@Stoic ótima postagem, parabéns.

Este é um problema que afeta muitas, muitas pessoas. Uma mãe que teve seu filho há pouco tempo fica inconformada com o fato de ter ficado com uma "barriguinha" que não tinha antes e algumas - ou muitas - estrias que antes não estavam ali. Enquanto isso, ao abrir o Instagram ou qualquer outra rede social, tem uma mãe com seu filho da mesma idade que o dela e seu corpo é perfeito: barriga chapada, não há marcas nem estrias, ela está feliz e sorrindo, sua criança é linda e limpa enquanto a criança daquela mãe é desobediente e só a faz passar raiva. Isso ativa aquele gatilho mental que a faz ficar irritada toda vez que passa pelo espelho ou sente aquele pedacinho da barriga apertando - em sua cabeça, passa todas essas cenas novamente num piscar de olhos. A mãe resolve iniciar a academia e com um mês de exercícios (os quais não se esforça o suficiente), não vê resultado e começa a ansiedade: não vou perder essa barriga nunca? vou continuar feia assim? isso é culpa minha ou de ter tido filho? Desenvolvido o novo quadro, entram os remédios: "vou tomar aquele remédio para queima de gordura que vai me ajudar a emagrecer, só assim que vou conseguir!". Enquanto isso em seus tempos livres continua a seguir as supermães e ficar inconformada com seus resultados. Além disso, continua a comer de forma descontrolada ou faz cortes rigorosos que podem afetar sua saúde. Não preciso continuar com o exemplo porque certamente já entenderam e isso se aplica a muitas pessoas, muitas mesmo. 

Acredito que nossa situação atual já está com todos os sintomas de uma crise muito grande: a falta de confiança nas informações em razão do excesso de informações disponíveis - no quê devo acreditar?. Vejo que esta ideia está alinhada com o que foi dito pelo @oxe em seu long post. Excesso de informação. Minha esposa sente uma pontada de dor na barriga e em 16 segundos de google já consegue 8 doenças terminais e 15 doenças graves e 2 doenças que se resolve com xarope. Além disso, ainda temos aquela imensidão de informações divulgadas sem o menor esforço de ser filtrada por quem as compartilham. Um primeiro internauta vê uma matéria com título chamativo (sendo que quase todos os casos não condizem totalmente com o fato ocorrido) e já compartilham sem antes se informarem melhor do que ocorreu, em sequência, outro internauta já "recompartilha" sem sequer ler nada, um terceiro internauta ainda mais leigo irá fazer uma postagem de revolta contra aquele título sem sequer ler do que se trata a matéria, muitas vezes sem nem saber de quando é.

Sendo assim, temos um excesso de gurus e "fontes de informação" que se faz necessário questionar, produzindo informações em excesso que são demasiadamente compartilhadas e propagadas, causando inúmeros efeitos no seio social. Soma-se todo esse acesso a todos os fatos da vida individual e temos um cérebro operando no overthinking o tempo inteiro e na hora de dormir acontece o inevitável: ninguém desliga completamente, óbvio, o cérebro simplesmente não consegue. O resultado são noites de sono leve que não descansam a pessoa da maneira que deveria - isso quando dormem - e o indivíduo começa a se desgastar mais e mais a cada dia que passa e desenvolver cada vez mais coisas e começa a associais os problemas novos à causas novas das quais descobriu na internet. As pessoas começam a ter cada vez mais transtornos de ansiedade, síndrome de burnout (que inclusive acaba de sair do forno, né?), estresse - e com ele suas aparições mais "físicas" tais como falta de apetite, dores pelo corpo, etc - e assim a sociedade se consome num mundo doente.

Qual será o desfecho?

Escrevi: "O problema ao meu ver é que muitas vezes a ciência tem seus próprios vieses e interesses e quando vem algo novo desmentindo o estrago já está feito. A ciência é fundamental, mas tem que se entender a sua limitação inerente"

Interpretaram: "Falar que evidencias não provam nada é desculpa pra acreditar no que quiser"

Isso só demonstra o meu ponto: as pessoas (individualmente, coletivamente) interpretam as coisas - inclusive as evidências - como querem. Não à toa você vai ver opiniões diametralmente opostas baseadas em "fatos" e estudos. Isso acontece na política, na medicina, na nutrição. E cada um defende a qualidade superior dos seus estudos. Vejam: a ciência é harmônica e uníssona em poucos aspectos. Nestes, especialmente quando submetidos à validação do tempo, talvez não haja discussão (embora as pessoas discutam a [REMOVIDO], inclusive pessoas com titulação). O fato é: existe uma zona nebulosa cinzenta muito maior do que se quer admitir. O ser humano moderno racional parece não aceitar a sua incapacidade de compreender certos fenômenos e muitas vezes tira conclusões precoces como se fossem verdades imutáveis. 

Outro problema é que poucas pessoas tem acesso à fonte primária dos estudos, então a ciência já vem pra gente "mastigada". É como ler um livro que foi traduzido 3 ou 4 vezes da sua língua original. Quando você percebe, parte do sentido original foi perdido (sendo que no caso da ciência pode ser pior, deturpado). Por isso não me apresso em aceitar como verdade qualquer coisa que me é oferecida. E o campo da saúde, na minha opinião, é um especialmente delicado. 

[REMOVIDO] = T.e.r.r.a.p.l.a.n.a

É verdade que a ciência tem contradições, está sujeita a debates contínuos. Sempre foi assim, faz parte dela. Ela se permite errar e evoluir.

É verdade também que todos somos leigos em muitos aspectos da vida e não temos condições de ter opiniões embasadas sobre a grande maioria dos assuntos.

É verdade, mais ainda, que, por causa dos dois acima, é sempre mais sensato ser prudente e reconhecer a própria ignorância. Por isso acho tão importante o senso comum, é uma baliza pro dia a dia.

O problema é que essa linha de raciocínio facilmente se extrapola pro outro lado. A pessoa vai ao médico e deixa de fazer o que ele recomenda porque "a ciência falha, não há consenso e eu não concordo com o médico". A pessoa simplesmente ignora os conselhos dos especialistas pelas mesmas razões. Deixa de tomar vacinas, passa a se automedicar, tomar suplementos por conta, assim vai.

Mais do que o senso comum, é importante se guiar pelos especialistas. Talvez haja muita discordância, muitas visões diferentes, mas há também posicionamentos conservadores, mais consolidados. Há recomendações da OMS e de outras sociedades tradicionais de Medicina, por exemplo. No fundo, ninguém melhor que um médico de confiança pra nos orientar. Pra isso precisamos confiar em médicos, claro.

Existe risco em seguir a recomendação médica? Existe, a ciência erra. Ela é desenhada pra errar, não é uma falha dela. Faz parte do processo de aperfeiçoamento. Pode acontecer de seguirmos orientações que alguns anos à frente se mostrem equivocadas. Mas esse risco existe seguindo ou não as recomendações. A ciência ainda é melhor que a alternativa do voluntarismo pessoal.

Agora, nada disso impede o exercício da prudência. Se não confia em um médico, vai a outro. Procura uma segunda opinião. Só não concordo com tirar coelhos da própria cartola, como se a falibilidade do leigo fosse menor que a da comunidade científica.

Não que você tenha defendido isso, juliox, você eu sei que é um cara sensato. É uma mensagem pra comunidade como um todo.

@juliox

EXATAMENTE 

@juliox @Oxe

O problema desse debate entre ciência e senso comum é que os dois lados extrapolam o bom senso. Eu tenho algumas heurísticas pra lidar com isso.

Em ciências exatas e boa parte das ciências naturais fica evidente os avanços científicos e o entendimento de que as descobertas já foram exploradas, testadas e replicadas com um grau de certeza que nos permite ter uma boa segurança e confiabilidade.

Em ciências sociais e sistemas complexos além de haver uma incerteza grande devido a dificuldade de se isolar variáveis, boa parte das descobertas são relativamente recentes e carecem não apenas de mais estudo, como também de tempo para que sejam aprofundadas e evidenciadas suas consistências.

Isso não significa que você não vai confiar em nada do que a ciência descobrir dentro desse escopo, mas apenas que você irá exigir um tempo e um aprofundamento maior antes de sair aplicando na própria vida e enquanto houver grande debate e incerteza sobre o tema, é mais prudente continuar fazendo o que nossos ancestrais faziam.

É evidente que é mais prudente comer carne vermelha do que essas carnes veganas ultraprocessadas. Pode ser que no ORUTUF isso se prove falso, mas o risco não compensa. É como investir em IPO, um acerto não compensa os inúmeros erros que você vai cometer no caminho, portanto é melhor manter distância.

Dá pra traçar um paralelo com investimentos. Todos os dias surgem matemáticos, estatísticos e economistas criando modelos novos de precificação de ativos pra tentar arbitrar no mercado e com isso enriquecer, pode ser que alguém acerte como aparentemente o Jim Simons conseguiu, mas pra cada um Jim Simons existem centenas de Myron Scholes quebrando diariamente. Nesse caso, a velha sabedoria de acúmulo de patrimônio é equivalente a nossa alimentação ancestral diante de tanto lixo ultraprocessado vendido por aí.

@cezar1602

Concordo com você, mas eu vou além.

A ciência (descritiva) não prescreve condutas. Há um debate sobre Direito e outros campos da Ética são ou não ciência (normativa), mas nesse debate aqui a palavra ciência foi usada num sentido mais tradicional do termo.

Por não descrever condutas, ela não se ocupa de dizer se fulano deve fazer isso ou aquilo. Ela apenas descreve as consequências observadas, dentro dos parâmetros e limitações dos estudos realizados. Com base nisso, vai existir sempre um intermediário que "traduza" as conclusões em recomendações. Então, além do ruído intrínseco à atividade científica em si, existe o ruído do intérprete.

O problema é que o leigo não entende nada disso. Ele não sabe o que dizem os estudos e, mesmo que soubesse, não entende as limitações do modelo, o grau de evidência da pesquisa, a aplicabilidade a esse ou a aquele caso dentro de um corpo de outras pesquisas. Ou seja, ele não tem visão sistêmica. E, ainda que tivesse, faltar-lhe-ia experiência pra reduzir o ruído do intérprete.

Então a questão não é necessariamente que as ciências sociais ou da saúde careçam de mais pesquisas ou de mais tempo de amadurecimento que outras ciências. É que nós, leigos, simplesmente não temos o conhecimento e experiência necessária pra entender os resultados das pesquisas desenvolvidas e suas consequências. O que chega pra gente é notícia de jornal e post de blogueiro, gente que também não entende nada do assunto e que, mesmo que entenda, não consegue fazer a transposição do abstrato pro particular. Isso só um especialista pode fazer em cada caso concreto. Ou seja, um profissional ali do lado, atendendo.

Diante disso, claro que o ideal é ter muita prudência e evitar seguir modinhas, como você disse.

Mas isso também não pode servir de justificativa pra gente ignorar ou deixar de seguir os conselhos dos especialistas. Pelo contrário, só eles podem fazer a filtragem e análise necessária. Nós não temos competência pra isso.

Até porque quase sempre não temos apenas duas escolhas. Não é apenas carne vermelha ou carne vegana ultraprocessada. Tem muita coisa aí no meio, além de outras variáveis (como frequência e modo de consumo, por exemplo).

Ter prudência e seguir o conselho dos "sábios" não são antônimos. Pelo contrário, uma coisa leva à outra.

@oxe

Concordo contigo, acho inclusive que não falamos nada muito diferente. Só quero pontuar que seguir os especialistas também pode te fazer investir no LTCM. Não é a toa que uma das minhas maiores influências em investimentos é um médico (@bastter )

Enquanto os especialistas estiverem brigando entre si, enquanto houver muito fogo e fumaça, enquanto as novas informações e estudos estiverem muito frescos, fico com o que considero prudente.

Sete anos após morte do pai de Luzia devido a fitoterápico, médico é punido - Cristiane Segatto - UOL

Fitoterápico é natural!!! É de boa!!! Só que não!!!!

veneno de escorpiao tb é natural!

Não to defendendo fitoterápicos nem nada (não os tomo e não dou a mínima). O que me incomoda na comunidade médico-científica e que quase ninguém dá bola para as mortes - e outros danos - causadas por remédios alopáticos, seja por seu uso contínuo, seja por efeitos colaterais. Ninguém faz alarde quando um médico passa um anti-inflamatório ou outro medicamento - muitas vezes desnecessário - que causa algum mal irreversível. Afinal, era o protocolo. Esse viés da medicina é o que me incomoda um pouco. A maioria absoluta passa remédios de forma indiscriminada sem alertar os riscos que existem, sem qualquer ponderação e isso nunca vai ser considerado erro médico pois é a prática vigente e estimulada. Mas aí alguém toma, sei lá, um chá - inofensivo para 99,9% das pessoas - e tem uma reação e lá vem o dedo apontado: viu, essas coisas naturais são perigosas, você deveria estar tomando remédio validado pela indústria (como se esses fossem desprovidos desses riscos). 


Obs.: já sei que vou levar esporro. 

nao vai nao

Saúde & Esportes > FAQ > Não tome remédios desnecessariamente

mas no momento estamos combatendo o outro bullshit
o do natural

Bastter Dama
o novo Bastter

@Bastter

putz.... quer que eu ligue para seu psiquiatra?
precisa ser internado?
ou esta "bondade" toda eh efeito colateral de fitoterapico?