Recentemente me deparei com o caso das Nifty Fifty nos EUA, nas décadas de 60/70. É conhecido como um famoso caso de bolha do mercado americano, que trouxe grandes perdas a muita gente quando a bolha estourou, em 1973 e 74.
Eram empresas de crescimento com fortes fundamentos, lucros crescentes, que os analistas da época diziam ser empresas para comprar e nunca mais vender. Often being called “one-decision stocks: buy and never sell.”
- Uma carteira de empresas boas, para comprar e nunca mais vender? Esse tópico me interessa, vamos procurar saber o que aconteceu no longo prazo.
É claro que quando a bolha estourou todo mundo vendeu... Todo mundo vendeu porque a bolha estourou. A bolha estourou porque todo mundo vendeu...
Eram empresas como Xerox, IBM, Polaroid and Coca-Cola, Mc Donalds, Walmart, Philip Morris, American Express, etc.. Ou seja, as empresas top, com vantagens competitivas fortes. E foram ficando cada vez mais caras ao longo do tempo...
Pesquisando sobre o tema, descobri que o Jeremy Siegel (autor do livro "Ações para o Longo Prazo") escreveu em 1998 um artigo analisando o que teria acontecido com quem montou uma carteira das Nifty Fifty no topo da bolha (em 1972) e ficou com ela até 1997 (25 anos) - uma espécie de buy and forget comprando empresas boas no topo.
Algumas conclusões interessantes que dá para tirar do artigo, foram:
1. Mesmo comprando toda a carteira no alto, no topo da bolha em 1972, o sujeito que carregou a carteira por 25 anos teve retorno equivalente ao S&P500 no período.
2. Algumas empresas morreram no meio do caminho, como a Kodak e a Polaroid. Outras tiveram retornos gigantes, como McDonalds, Coca Cola e Walmart e continuam firmes e fortes.
3 Muitas das empresas que se deram mal eram ligadas a um setor forte em tecnologia.
4. Outra conclusão decorrente é que preço de compra não importa para quem faz aportes frequentes em empresas boas. E no caso em tela não teria feito diferença nem comprando tudo de uma só vez no topo do mercado, que é o principal ponto do artigo do Siegel. Provavelmente aportes frequentes teria se saído muito melhor.
Um artigo da Forbes fez um levantamento em 2019 e descobriu que das 50 empresas, 29 ainda são negociadas em bolsa. Segue trecho:
Of the 50 companies listed by Siegel, 29 are still publicly traded while 21 are not.
Most of the former Nifty 50 companies that are no longer publicly traded have been acquired, including Anheuser-Busch, Black & Decker, Gillette and Lubrizol. Emery Worldwide and Polaroid are no longer in business (though Polaroid’s name lives on). S.S. Kresge (aka Kmart) is part of beleaguered Sears Holding and the combined company remains on thin ice.
Avon Products (AVP) may be the latest Nifty 50 stock to cease being an independent company. Yesterday, Avon agreed to be acquired by Brazil’s Natura SA.
5. Muitas passaram por OPA (fechamento de capital), afinal empresas boas também chamam atenção de outras empresas.
Um ponto que me chamou a atenção, é a necessidade de colocar as ruins em quarentena e ir incluindo novas empresas boas que forem surgindo ao longo do tempo, uma especie de diversificação progressiva da carteira em empresas boas. A carteira se for estática (montei hoje e não adiciono mais nada ao longo do tempo), pode talvez vir a dar um retorno medíocre, mesmo em empresas boas. Empresas são organismos vivos.
Muitas empresas boas passam por OPA, outras morrem. Aparentemente, no caso em tela teve mais OPA que morte de empresas. Buy and Danesse não é Buy and Forget.
Creio que vale a pena inserir a tabela do artigo do Siegel:

Seguem os links para o artigo do Siegel, que vale a leitura e o levantamento da Forbes. Já adianto que tem sardinhice no meio. Se não souber discernir, não recomendo ler:
Artigo do Siegel:
https://www.aaii.com/journal/article/valuing-growth-stocks-revisiting-the-nifty-fiftyLevantamento da Forbes:
Are Any Of The 'Nifty 50' Stocks Still Nifty?