Gostaria de dividir uma preocupação que venho tendo com minha esposa há algum tempo. Quando a conheci, era uma pessoa cheia de sonhos e ambições (no bom sentido). Fez duas faculdades (jornalismo e psicologia), pós graduação, tinha um talento excepcional e acredito que um potencial de ORUTUF brilhante na carreira. A partir do momento que se tornou mãe tudo mudou. Esqueceu-se de tudo o que ambicionava e passou a ser 100% mãe. Acho que até aí se trata de um processo natural e muito comum, acredito que na maioria dos casos passageira, até que os filhos adquiram um mínimo de independência. Só que quando meu segundo filho completou 1 ano, passamos por uma experiência terrível de quase morte, ele passou 4 meses em estado gravíssimo numa UTI lutando bravamente, e ela junto em todos os momentos. Depois disso passou mais 2 anos precisando de hemodiálise diariamente numa rotina verdadeiramente torturante. Ela foi quem mais vivenciou toda essa experiência, já que embora eu me esforçasse em participar o máximo não poderia abandonar os demais compromissos da vida que se seguia. Acontece que há cerca de 6 meses meu filho foi submetido a um transplante e a partir daí a vida mudou completamente, se aproximando bastante do que seria uma vida "normal". Acreditei que com isso ela voltasse a pensar um pouco mais nela, voltar a sonhar com a vida profissional, leituras, estudos e tudo mais que ela tanto se interessava. Mas nada disso aconteceu. O trauma realmente foi grande, mesmo após o transplante o pesadelo da morte a acompanha diariamente. Consegui levá-la a um excelente psiquiatra, que a diagnosticou como Transtorno de Ansiedade Generalizada, que costuma evoluir para depressão. Explicou também que existe descrita a Síndrome do Cuidador, que ela pode estar passando devido ao estresse todo que passou esse tempo com nosso filho. Enfim, passou a medicação indicada, ela aceitou tomar e de fato houve expressiva melhora no estado de humor e afetivo dela. Consegue fazer academia diariamente, consegue conviver melhor com as pessoas e aparentemente está mais equilibrada. Mas o remédio não é a solução dos problemas. O próprio médico salientou, ela sabe disso. Sabe que pode se beneficiar muito de uma terapia (ele indicou a TCC), que pode ser muito bom passar a executar novas atividades, voltar a estudar, planejar a volta ao mercado de trabalho (tudo aos poucos), etc. Mas ela continua estagnada. Não consigo convencê-la nem mesmo a começar a frequentar sessões de terapia, nem mesmo a começar a ler um livro que seja. Ela não deixa de executar suas "obrigações de mãe" (palavras dela mesma), mas parece que ela não existe mais como indivíduo. Tempo ela tem de sobra. Colocamos nossos filhos em tempo integral na melhor escola da cidade, ela passa a tarde toda dormindo, e à noite vai dormir bem cedo. Ou seja, quando as crianças não estão por perto, ela simplesmente desliga. Não sei como convencê-la a aproveitar melhor seu tempo livre e a lembrar dela mesma sem que eu seja chato, insistente ou até mesmo sem que pareça que esteja a pressionando. Como ajudá-la a voltar a querer viver?