Prezados,
Li os tópicos do fórum sobre diversas pessoas que fizeram segunda graduação em medicina por diversos motivos (desilusão com a área anterior, insatisfação financeira com a área que está, etc.).
Contudo, embora tenham sido bem elucidativas as opiniões dos outros tópicos, gostaria de abrir outro sobre o mesmo assunto, pois minha situação é um pouco diferente então não custa perguntar. Desde logo peço perdão pelo longo monólogo.
Tenho 36 anos, sou servidor público, formado em Engenharia da Computação e Direito, tenho um trabalho razoavelmente confortável e com um horário flexível. Não sou juiz/procurador, nem pretendo, pois estou satisfeito com o cargo e com a remuneração. Não tenho filhos, nem sou casado.
Gosto de estudar, passei por duas faculdades, fiz vários concursos, pulando entre vários cargos até onde estou hoje. Antes de entrar no serviço público, trabalhei com TI por 4 anos, mas não me identifiquei com a área, motivo pelo qual fiz Direito e desde então tenho trabalhado com isso no meu cargo atual, no qual já estou há cerca de 3 anos. Não tenho vocação para advocacia, na época estava apenas pensando no serviço público como tantos outros, não sei se foi uma decisão acertada mas foi o que fiz.
Nesses últimos 3 anos sempre pensei em ficar no meu atual trabalho por toda a carreira (se não ocorresse alguma merda no serviço público), porém algumas inquietações sobre o ORUTUF vêm surgindo no meu âmago e por isso gostaria do conselho dos senhores.
Há alguns anos venho estudando literatura libertária em geral, o que me fez ficar cada vez mais avesso ao trabalho no Estado, em razão das mazelas que creio que todos vocês já conhecem. Apesar disso, não estou com "crise existencial" ou depressão, posso conviver com essa contradição, embora não seja confortável.
Embora meus colegas de trabalho achem isso absolutamente impossível, tenho receios de que o serviço público possa não garantir a segurança que todos esperam no ORUTUF, em razão de crises econômicas, políticas, etc. Além disso, tenho medo da escalada autoritária que o país vem sofrendo, em especial no ataque às liberdade de expressão, que pode descambar em algo pior.
Nessas circunstâncias, me dei conta de que sou um refém do Estado Brasileiro, pois não posso fugir para o exterior, em razão do trabalho, meu curso de Direito não vai servir pra nada em outro país. O de engenharia até poderia, mas nem em sonho voltaria a trabalhar com aquilo, só se estivesse passando fome. Além disso, mesmo sem sair do país, caso haja algum tipo de colapso no ORUTUF e os servidores públicos sejam demitidos (ou haja um corte brusco de salários) eu basicamente não iria conseguir me inserir no mercado, seja em Engenharia ou em Direito (como falei, não levo o menor jeito para advocacia, embora até tenha OAB).
Diante disso tudo (finalmente), pensei em fazer mais uma graduação, em Medicina, pois: me parece um trabalho gratificante, com um serviço útil e demandado no mercado, que serviria para outros os países e é um conhecimento instigante, não é frívolo que muda com a canetada de um político. Obviamente sei que não é fácil simplesmente se mudar pra o exterior e trabalhar como médico onde quiser, mas certamente é mais fácil do que com Direito. Além disso, se nenhum cenário catastrófico acontecer (Serviço Público continuar de vento em popa) e eu permanecer no meu trabalho atual, terei de todo modo aprendido algo bastante proveitoso para a vida.
Talvez possa parecer "overkill" investir em algo tão pesado, quando bastaria escolher algum outro curso menor, ou simplesmente acreditar que tudo vai continuar como está e ir "aproveitar a vida", mas me atrai pela ideia de medicina em razão de ser um conhecimento relevante, instigante, útil para simplesmente saber ainda que eu nem venha a trabalhar com isso. É totalmente diferente do meu trabalho burocrático que, se algum dia acabar, estarei na rua sem saber fazer outra coisa.
Vi vários relatos de pessoas que falam da "bolha" da medicina, que os salários já não são como antes, que precisam trabalhar por várias semanas, etc. Bem, pelo menos essas pessoas produzem algo de valor no mercado, há demanda, e ainda têm opções de mudarem de lugar, ou de sair do país (não sei como seria o procedimento (residência no exterior?), por isso pergunto aos mais experientes).
Sobre o curso em si, pelo que li aqui, creio que seria bem pesado, em especial no fim, se a coisa apertar muito em trabalhar e cursar medicina ao mesmo tempo, poderia tirar uma licença nos últimos anos e me virar com minhas reservas (não iria perder o emprego) e voltar depois de ter concluído.
Não tenho visão romanceada de que a medicina é um paraíso (até já foi) e que todos que fazem ficam ricos e são deuses e bla bla blá, já li isso nos outros tópicos.
Acho que já falei muito e até me repeti, mas acho que passei o suficiente de informações.
Peço opiniões dos nobres colegas.