Olá pessoal, antes de mais nada queria fazer uma ressalva.
O texto que se segue reflete minha opinião pessoal. Acredito que cada um deve ter seus próprios critérios na escolha das empresas, bem como seus próprios critérios para a diversificação que pretende.
Meu objetivo é ouvir as opiniões de vocês quanto a uma ideia que tive enquanto estava lendo o livro "Rápido e devagar", do Daniel Kahneman (tem um artigo na revista do mês passado sobre esse livro).
Num dos capítulos ele conta sobre um estudo, que basicamente consistia em apresentar a estudantes o seguinte problema:
"Tom W é aluno de graduação na principal universidade de seu estado. Classifique as nove áreas de especialização universitária a seguir em ordem da probabilidade de que Tom W seja um estudante numa dessas áreas. Use 1 para a mais provável, 9 para a menos provável.
Administração
Ciência da Computação
Engenharia
Humanidades e educação
Direito
Medicina
Biblioteconomia
Ciências físicas e biológicas
Ciência social e assistência social"
A chave para a solução é o número relativo de matriculados nas diferentes áreas, e foi assim que os estudantes responderam, em sua maioria (sem termos nenhuma informação adicional, é mais provável Tom W estudar direito do que ciência da computação, porque no geral há mais alunos no primeiro do que no último). O que esses estudantes fizeram foi utilizar uma "taxa-base", que é a proporção esperada de um determinado evento quando não dispomos de mais informações sobre o mesmo. Em seguida foram dadas algumas informações sobre Tom W.
"O parágrafo a seguir é um perfil de Tom W escrito por um psicólogo durante o último ano de Tom no ensino médio, com base em testes psicológicos de validade duvidosa:
Tom W é dotado de grande inteligência, embora careça de criatividade genuína. Tem a necessidade de ordem e clareza e de sistemas claros e ordenados em que cada detalhe encontre seu lugar apropriado. Seu texto está mais para maçante e mecânico, animado por alguns trocadilhos batidos e lampejos de ficção científica. Exibe forte compulsão por competência. Parece apresentar pouca compreensão e simpatia pelas outras pessoas, e não aprecia a interação com os outros. Autocentrado, exibe no entanto um profundo senso moral.
Agora classifique as nove áreas de especialização listadas a seguir segundo o grau de semelhança da descrição de Tom W"
Como era de se esperar, a classificação mudou completamente, com ciência da computação e engenharia assumindo os 2 primeiros lugares, apesar de serem cursos bem menos frequentados do que direito e administração. O que aconteceu? Quase todos os participantes simplesmente abandonaram a taxa-base e cederam à classificação de Tom W pelo estereótipo apenas. Na minha interpretação, o excesso de informação os induziu a um viés que os fez ignorar a estatística e os dados objetivos. Veja que até a informação foi apresentada a eles como sendo duvidosa, e mesmo assim ela teve tamanha influência nos resultados, induzindo quase todos a errarem.
Relacionando isso ao estudo das empresas para investimento. Dado que:
1 - O pequeno investidor muito dificilmente (ou nunca) terá o nível de conhecimento necessário para de fato conhecer uma empresa a fundo
2 - Por ter menos conhecimento terá muito, mas muito mais dificuldade em separar o ruído da informação (tenderá a se guiar muito mais por notícias e eventos)
3 - Também pelo menor conhecimento, tenderá muito mais a se basear em impressões, medos, e memórias pessoais ("estereótipos") do que nos aspectos objetivos das empresas. Cito alguns exemplos: "ah, essa é estatal"; "ah, essa é de um setor que não gosto"; "ah, essa deve ser boa, estão falando muito sobre ela"; "ah, essa não, já usei o serviço uma vez e não gostei"; "ah essa empresa tem uma tecnologia que pode se tornar obsoleta"; "ah, a cotação está caindo/subido"; "ah, está cara/barata". E por aí vai.
4 - Mesmo a análise dos balanços, que podem ser ótimas para analisar uma empresa, podem se tornar inimigas do pequeno investidor, na medida em que ele pode querer sair de uma boa empresa por um balanço ruim ou entrar em uma ruim por 2 ou 3 balanços bons.
Concluo que:
1 - A melhor análise para o pequeno investidor é a que mais se aproxime da taxa-base, ou seja, do esperado sem saber informações adicionais (empresas que deram lucro no passado tendem a continuar dando lucro no ORUTUF), justamente porque, para o pequeno investidor, ou essas informações não importam ou porque ele não sabe o que fazer com elas. A meu ver, a taxa base para a análise das empresas seria o gráfico histórico de lucro e a tabela de retorno.
2 - Depois do mínimo necessário de informações (disponíveis nos cachorrinhos e no gráfico), qualquer acréscimo de informação poderá/tenderá a levar o pequeno investidor aos vieses supracitados, levando-o a sair de empresas boas ou entrar em empresas ruins.
3 - Essa linha de pensamento (que penso ser a mesma da comunidade) dispensa o acompanhamento mais intenso das empresas, permitindo que o investidor tenha uma grande diversificação. Ao mesmo tempo, o processo de pensamento envolvido o afasta de ficar vendo notícias, cotação, eventos, etc, e focar em aumentar os aportes.
De novo, isso é uma visão pessoal e acredito que cada um tem que ter seus próprios critérios envolvendo a escolha das empresas e a diversificação. De novo, se trata de uma hipótese. Gostaria muito da colaboração dos usuários do site e moderadores para correção e aprendizado. Peço desculpas pelo texto longo, e agradeço todos aqueles que tenham a paciência de le-lo e, se possível, comenta-lo.