Práticas esportivas, atividades culturais e um bom convívio social são fundamentais para a saúde mental. Essas e outras atividades oferecem a oportunidade de colocar em palavra e em ato uma série de sentimentos que, sem essas vias de expressão, ficariam intoxicando nossos aparelhos psíquicos. Seria algo como um quarto fechado, produzindo um ambiente sufocante sem trocas significativas de ar com o ambiente externo.
Nesse sentido, me parece excelente a iniciativa da bastter.com no sentido de ir além das finanças e trazer para a comunidade discussões relativas a esportes, saúde, alimentação, tecnologia, literatura, cinema, idiomas, etc. É o que se espera de uma boa comunidade (e, em última instância, das boas amizades) no sentido de produzir saúde mental. Os efeitos dessa ação me parecem tão positivos a ponto de terem oferecido aos membros uma uma abertura para falarem de suas próprias angústias.
Não é raro ver por aqui pessoas contando suas histórias de vida, seus sofrimentos e pedindo opiniões. Recentemente, um companheiro de fórum relatou a perda de um amigo por suicídio. Achei tão significativo o relato e os comentários que o sucederam que pensei em abrir esse tópico. Espero que tomem essas linhas como pontos para uma reflexão pessoal e não como regras gerais a serem seguidas.
Pode acontecer da gente correr 10km e sentir a necessidade de mais 10, e mais 10… tentando escapar de uma tristeza que a gente nem sabe bem porque tá sentindo. Ou, também, pode ocorrer de pensar em pesquisar um livro bacana pra ler ou em comprar produtos saudáveis para consumir, mas sentir um vazio grande e uma falta de prazer nas nossas próprias escolhas que não consegue realizar o que a gente se propôs. Ou então pode ficar racionalmente claro que temos uma vida confortável, as pessoas podem nos identificar como bem sucedidos, mas intimamente percebermos uma falta de sentido na vida. Ou, ainda, estarmos cercados de pessoas bacanas, com quem conversamos expressando alegria, mas internamente a gente está devastado.
Atuando como psicólogo há alguns anos, já ouvi diversos relatos parecidos com estes. Juntos aos relatos, muitas vezes, é apresentado o sentimento de vergonha. Por exemplo, alguns pacientes se veem presos à ideia de que não seria correto sentir algo assim tendo uma boa condição de vida e outros avaliam seus sentimentos como um gesto de fraqueza. Além disso, há pacientes que imaginavam o processo psicoterapêutico como um bate papo aos moldes do que se encontra em qualquer roda de amigos. Todo esse imaginário, invariavelmente, leva os pacientes a postergarem a busca por psicoterapia, situação que pode produzir efeitos ainda mais adversos.
Um bom processo psicoterapêutico não se confunde com ouvir dicas e opiniões de um especialista. Não há lista de passos gerais a serem seguidos por qualquer pessoa para encontrar uma suposta felicidade. Há método para que cada um pessoalmente possa se confrontar com seus limites e possibilidades, encontrando suas próprias verdades. É uma oportunidade de conhecer uma parte de nós mesmo que talvez desconheçamos. A tristeza profunda, a falta de sentido, o vazio, a vergonha nos chocam contra perguntas. O que está se passando? Por que estou me sentindo assim? Como eu poderia construir minha vida de uma outra forma? O acompanhamento psicológico pode oferecer um método para que se encontre suas próprias respostas.