Nossa representação do mundo é dividida, basicamente, em ordem e caos, sendo ordem a parte que nos é conhecida, onde eu sei como as coisas funcionam e onde, dificilmente, eu serei surpreendido por algo inesperado. É nesse lugar onde nosso ser instintivo, que luta por conforto e segurança prefere permanecer. O caos é a parte desconhecida, onde eu não sei exatamente como as coisas funcionam, eu não conheço e nem sou afeto às pessoas que nele habitam, ali as regras são desconhecidas e podem ser outras, eu não sei se as minhas regras são respeitadas nesse lugar. Esse local é desconhecido, é inseguro, ele coloca todos os meus sentidos em alerta, estou sempre preparado para reagir defensivamente a uma situação inesperada. Esse local não é um local confortável para o ser instintivo, ali ele não tem segurança, mas é ali onde o crescimento acontece.
Como tudo na vida, é preciso ter um equilíbrio, ou seja, nem tanto ao caos, nem tanto à ordem. É no limite, entre os dois espaços, que está o nosso crescimento sustentável. Uma área cinzenta, onde eu esteja aberto a novas possibilidades, esteja exposto a novos desafios, porém não esteja submerso em circunstâncias que estejam totalmente fora do meu controle.
Mais importante que o local, talvez, seja a nossa atitude. Quando nos propomos a sair voluntariamente do conforto dessa zona de ordem absoluta, esse fato é entendido pela nossa psiquê e até mesmo manifestado fisiologicamente de uma forma totalmente diferente daquela quando somos jogados nesse mesmo local pelas circunstâncias da nossa vida, quando somos vítimas do nosso destino. Quando somos colocados em um desafio de forma involuntária, nesse caso, nosso Ser reage de forma defensiva, age com instintos de uma presa, de, somente, sobreviver àquela situação. Já quando nos postamos voluntariamente perante um desafio, convencidos de que somos do tamanho desse desafio, nosso Ser se comporta como um predador, olhamos para o desafio como uma missão e não como uma ameaça.
Acontece que, em regra, só nos arriscamos involuntariamente. Enquanto estamos empregados, com salário suficiente para os nossos anseios, quando nossa família está estruturada e todos com saúde, vivemos no conforto da nossa ordem e visualizamos erroneamente um ambiente seguro e estável. Entretanto, perder o emprego, se separar, ficar doente, não são coisas tão difíceis de acontecer. Nesse momento em que as circunstâncias nos colocam em uma situação de desafio de procurar um novo emprego, de lidar com a separação e a doença, o caos da nossa realidade pode estar muito acentuado. A chance de nos tornarmos vítima do nosso destino cresce exponencialmente.
Que saibamos aproveitar os momentos de ordem para crescer, aumentar nossa área de consciência, desenvolver e organizar as zonas limítrofes da nossa área conhecida, sejamos voluntários para os desafios, descubramos nossas fraquezas, e, sobretudo, conheçamos a nós mesmos.