O ano era 2006. Depois de mais 01 ano revivendo o “retorno-do-cursinho-após-curso-de-medicina.” Nós estávamos nos preparando para uma grande travessia. Seguindo a tradição daqueles que nos antecederam. Iríamos fazer provas de residência médica em diversas instituições em diferentes lugares do Brasil. Clínica Médica, Cirurgia, Anestesiologia, endocrinologia, cardiologia, reumatologia, neurocirurgia, dermatologia, radiologia... Gente na dúvida, fazendo uma coisa diferente em cada lugar... Os diferentes médicos recém-formados escolheriam circuitos diferentes. Circuito Nordeste.... Circuito Sul... Circuitos misturados.... Fazer uma prova apenas só para dizer que não fez nada... Para o nosso grupo, não se especializar não era uma opção. Missão dada teria que ser missão cumprida.
Nós escolhemos, em nossa grande maioria, em fazer o circuito São Paulo. Era 01 ano estudando e juntando dinheiro para queimar tudo no final do ano. Fizemos um “grande ataque” reservando praticamente todos nós em um mesmo hotel. Acho que dava uns 20 médicos recém formados só do nosso grupo. A estratégia era viajar de avião e “montar acampamento” em São Paulo Capital e ir fazendo as viagens de metrô (dentro da cidade) e de ônibus para as cidades vizinhas (ficando em hoteizinhos antes das datas das provas). Tinha prova todos os finais de semana. As vezes toda sexta-feira, todo sábado e todo domingo. Por uns 2-3 meses. Em SP capital, a gente ficava num muquifo dividindo quarto (uns 4 colegas por quarto) e dividindo as experiências. Passávamos a maior parte do tempo tomando café e no ritmo de estudo coletivo para as próximas provas. Era a guerra pura do estudo para entrar para o lado de dentro da residência médica boa em SP. Reprovação em um dia, boa colocação no outro.... Humilhação numa entrevista, e reunia o grupo depois num bar para “recarregar as forças”.
A HISTÓRIA QUE IMPORTA COMEÇA AQUI:
No centro de SP, fomos percebendo que a vida “GIRAVA” mais rápido em todos os aspectos. Tinha muito eletrônicos que no tempo eram novidades e o pessoal aproveitava para comprar bugingangas. Não existia smartphones. Todo mundo comprava pelo menos um notebook. Conseguíamos lugar para comer (em geral, porcaria). TODAS AS LAVANDERIAS ERAM CARAS. MUITO, MUITO CARAS. Cobravam por peça. Mandar lavar uma cueca era MAIS CARO do que simplesmente comprar novas. A gente passava a maior parte do tempo estudando e não tinha tempo e nem muito espaço para organizar demais a roupa.
Eu comecei a comprar cueca, usava 01 dia e jogava fora. Comprando sempre novas.
Era mais barato. Eu precisava de tempo para estudar naquela semana e naquele dia.
Batia aquela culpa de ficar consumindo recursos sem parar. A carga de lixo que a gente gerava era muito alta. Nada durava muito tempo... nem a roupa do corpo.
Obviamente todos os eletrônicos comprados naquele tempo nem existem mais.
A REFLEXÃO É A SEGUINTE:
Não dava tempo de pensar em não consumir.
Se eu fosse lavar cueca, reduziria o tempo de estudo. E não focava no objetivo.
Eletronicos tem giro elevado. Computadores daquele tempo nem existem mais para o dia de hoje pois todos quebraram e se tornaram obsoletos.
CONCLUSÃO: Meio que não adianta o “mindset da miséria” de ficar consertando algumas coisas, ou “preservando” algumas coisas. PARA ECONOMIZAR, muita coisa eu DECIDO NÃO TER para não ficar renovando. Não existe nem mais espaço para guardar, pois espaço no centro das grandes cidades é caro e requer organização. Na loja que aluga ou na loja que vende já está organizado quando um dia eu for precisar. Eu acho mais fácil na loja do que em casa.
É péssimo para geração de lixo (para natureza), mas muitas vezes comprar algo novo tem o mesmo impacto financeiro (e mais eficácia) do que ficar consertando o antigo. Isso não me agrada, mas é verdade.
Uma mochila rasgada vai ficar toda remendada pelo mesmo preço de comprar uma nova.
Quando vc manda consertar uma geladeira pela terceira vez, já passou do preço de comprar uma nova (com exageros e tudo).
Quando você manda consertar um ar condicionado pela terceira vez, ele nem gela mais como era antigamente. Mal funciona e gasta energia. O preço do ar condicionado já tem bem menos impacto que a energia que ele gasta funcionando bem.
Eu já mandei trocar o ar condicionado do carro, mas só gelou que prestava quando eu troquei o carro todo.
Se você tem televisões, microondas, computadores, celulares e videogames em casa, elas acabam quebrando e o conserto sai pela metade do preço de um novo. Eu prefiro nem tê-los para não ter o trabalho de mandar consertá-los reduzindo meu tempo de trabalho, de estudo ou de descanso.
Andei dando uma revisada nas minhas coisas:
1- Vendi um apartamento (outra história para outro tópico)
É uma briga com os outros familiares. Na cultura do brasileiro, tem que tirar geladeira, ar condicionado, microondas....
Eu falava: “Deixa isso tudo aí. Esse monte de tralha vai acabar quebrando em breve.” Isso gera uma “liquidez” para venda do apartamento. Quem compra pensa que está comprando vantagem.
Nos EUA, quando eles vendem um imóvel, já vendem com tudo que tem dentro pois o mesmo já foi projetado daquela forma. E nem tem mais onde jogar tanta tralha e nem para onde levar.... se fosse possível levar.
2- Vendi um carro (outra história para outro tópico)
A cultura do brasileiro é tirar o som do carro. Costuma “simbolizar” que você quer vender o carro.
Eu vendi com tudo dentro. Iria acabar dando um defeitinho em alguma coisa do som (como já aconteceu várias vezes). Você manda consertar e nunca fica a mesma coisa. Quem compra, pensa que está levando vantagem. Vende o carro todo na hora sem muita conversa e nem precisa ficar dando desconto demais.
Já aconteceu com você?
Ficar chateado em perceber que não vale mais a pena consertar?
Ar condicionado?
Microondas?
Geladeira?
Televisão?
Computador?
Celular?