A vontade de ser perfeito cria um ideal na nossa cabeça tão exigente que, se não conseguirmos atingi-lo, nos sentimos tão culpados e envergonhados que simplesmente abandonamos o caminho da melhoria contínua. E é a melhoria contínua, paciente, dia após dia, que gera valor em todas as áreas da nossa vida.
Buscando a perfeição nos relacionamentos, descartamos as pessoas como se fossem objetos e nunca estamos satisfeitos, sempre procurando alguém que não tenha a menor falha. E o pior, muitas vezes, procurando a perfeição nos outros, esquecemos de nos olharmos no espelho - se fizéssemos isso perceberíamos que o defeito frequentemente vem de nós mesmos.
Buscando a perfeição na profissão, deixamos de melhorar um pouco de cada vez e, intolerantes, desistimos de tudo diante da menor dificuldade. Não seria melhor exigir de si apenas o melhor possível naquele momento? E depois desse momento, o melhor possível no próximo?
Buscando a perfeição na alimentação, esquecemos do básico, que todo mundo já está cansado de saber, e aderimos a modismos e radicalismos que prometem uma completa revolução na sua vida - revolução que até pode realmente mudar tudo, mas para muito pior.
Buscando a perfeição nos investimentos, ficamos ansiosos e rigorosos demais com tudo que está na nossa carteira, e assim vendemos tudo diante da menor e insignificante ameaça - tudo que está muito tenso treme, explode, dissipa, muda de caminho sem consciência, joga tudo para o alto e mantém, nas mãos, apenas escombros. Vender no pânico é resultado de exigir o ideal da carteira perfeita, de somente ter ali as melhores empresas, de ter adquirido tudo nos melhores preços, de ter acompanhado cada vírgula das notícias diárias.
Alimentar-se bem por muito tempo resultará em uma saúde melhor; ser paciente com o seu companheiro (e consigo mesmo) por muito tempo para ter uma relação forte, um apoio leal quando precisar; ser consistente nos investimentos, sem amar o dinheiro, sem deixar de viver, para ter paz e fazer o dinheiro trabalhar para você, não o contrário; ser paciente nos esportes, melhorando o tempo, a medida, o peso, um dia de cada vez, para perceber o resultado surpreendente das tentativas e erros lá na linha de chegada.
A perfeição é uma coisa da qual você foge como foge da dívida, porque ambas escravizam. Somos humanos e precisamos aceitar que o erro é inerente à nossa condição. Quando percebemos o quanto erramos, o quanto erraremos e que não deixaremos de errar, fica mais fácil superar os nossos tropeços - e manter os acertos consistentemente.
"A vida não é sobre quão duro você é capaz de bater, mas sobre quão duro você é capaz de apanhar e continuar indo em frente", disse Rocky Balboa. Não enxergo nessa frase uma ode ao sofrimento, mas o contrário, uma ode à vida: errar, cair e apanhar são verbos de construção que trazem, no erguer do braço suado, insistente e cansado, o sorriso de uma vitória perfeitamente humana.