Dinheiro facilita muito a nossa vida, nos proporciona prazeres sensoriais como viagens a locais paradisíacos, jantares com comidas raras, exóticas, bebidas de qualidade, nos veste bela e confortavelmente, nos proporciona conforto e bem estar quando moramos em coberturas suntuosas com vista para o mar, nos dá segurança e nos permite realizar nossos desejos mais inusitados no momento em que nos dá vontade. Toda esse benefício nos custa dinheiro, muito dinheiro, e se quisermos ter esses benefícios temos que produzir muito dinheiro em pouco tempo. E aqui se resume a vida moderna.
Não encontramos conforto no momento presente se não estivermos ganhando muito dinheiro ou gozando de seus benefícios. Mas o que é muito dinheiro? Essa questão é extremamente relativa e, ao contrário de que muitos pensam, não varia somente de pessoa para pessoa, mas também varia no tempo em que uma mesma pessoa está vivendo. Explico: quando eu era jovem, muito dinheiro era qualquer coisa a mais do que eu conseguisse ganhar e como eu ganhava muito pouco, meus objetivos também eram pequenos. Ganhar 10x mais do que eu ganhava era algo que resolveria minha vida por completo e eu estaria realmente confortável financeiramente para o resto da minha vida. Aí eu cresci, estudei, me qualifiquei e passei a ganhar 10x mais do que eu ganhava quando jovem, mas a sensação não mudou, hoje, coisa boa mesmo continua sendo a que eu não posso comprar, a viagem que eu não posso pagar, enfim, a nossa velha vontade de ir do ponto A ao ponto B não tem fim, e é isso que nos faz tocar nossa vida, traçar novos objetivos e desenvolver nossas potencialidades para realizá-los.
Em toda essa história, duas coisas me chamam muito a atenção, a primeira é que pra quem não tem ideia do que quer da vida, correr atrás de dinheiro é sempre uma excelente opção, pois o que ninguém pode negar na nossa sociedade ocidental é que dinheiro traz conforto e traz status, e se eu estou de bem com o meu ego e com o meu corpo sensível, há grandes chances de eu estar feliz. A segunda coisa é que, por mais que eu saiba que não há chegada nesse caminho, eu me comporto como se houvesse. Eu abro mão de muitas coisas para poder ganhar mais dinheiro, eu abro mão da convivência com a família, abro mão de fazer o que eu gosto, enfim, dependendo da quantidade, eu abro mão de quase tudo que eu tenho.
Eu ainda fico embasbacado em quanta gente inteligente, sabida, experiente ainda cai na armadilha do “pelo menos vou ganhar muito”, quando mira uma carreira que não é minimamente atrativa aos seus anseios pessoais. Uma boa remuneração nos traz maus médicos, maus juízes, maus advogados, maus promotores. E o nosso apego ao dinheiro nos faz permanecer em um local odiável pela vida toda, ansiosos pelas férias, finais de semana, licenças, entre outros.
Se você não estabelecer o que é uma vida digna, confortável, feliz e plena, você tem grandes chances de colocar todas as suas expectativas no que o dinheiro poderá proporcionar, e isso, não tem limites. Você sempre terá um chefe mais rico, um vizinho mais poderoso, um parente com uma casa e um salário melhor do que você. Mas você tem que se perguntar se está disposto a pagar o preço, e, diferentemente de uma mercadoria na vitrine, esse preço nunca está exposto, e ele nunca será igual para todo mundo, porque as pessoas são diferentes e atribuem diferentes valores a cada coisa. Muitas pessoas, ao descobrirem o preço, querem desistir, mas aí já estão envolvidas até a alma com o seu patrimônio, seus funcionários, dependentes, familiares e não conseguem se livrar do peso que conquistaram por livre e espontânea vontade.
Essa tomada de consciência é diária, pois a tentação é grande, seja no ambiente de trabalho, seja na família, a conversa que rola é essa: eu comprei, eu vendi, eu ganhei, eu perdi, eu tenho isso, fulano tem aquilo outro e os nossos neurônios espelho começam a se ativar para imitar tal comportamento. De querer participar dessa conversa como um personagem invejável. E a sua luta interna começa e você tem que acalmar a sua mente, deixar ir e voltar com as suas convicções enfraquecidas.
Investir no mercado financeiro, pasmem, pode ser, de alguma forma, tentar se isolar de tudo isso. Ali você estuda, escolhe, investe e revisa periodicamente sem ter que se envolver emocionalmente. Você tira esse grande monstro da sua vida, esse objetivo que todos tem em comum, você se afasta da manada, mas ao mesmo tempo você diminui o risco de ter que em algum momento vender a sua alma para alimentar e dar um teto à sua família, pois ninguém pode negar que não se vive sem o dinheiro.
Quando você silencia essa grande gritaria histérica coletiva, que te impede de ouvir os seus sussurros interiores, você acessa um outro nível de intimidade consigo, você passa a perceber o que realmente faz o seu coração vibrar, você da espaço à manifestação da sua individualidade. Você vai ter a paz interior necessária para praticar o seu esporte favorito e contemplar a natureza, de admirar o seu cônjuge, de se emocionar com seu filho, de fazer a seu primeiro trabalho de marcenaria, ler a obra que você sempre quis e nunca teve tempo. Essas coisas baratas que dinheiro nenhum consegue comprar.