Já tive alguns cachorros e em um momento, depois de perder todos, pensei: não quero mais. Decidi isso porque, embora fosse tão bom ter a companhia deles, os momentos finais foram duros demais. Mas eu estava errado. Vou usar uma passagem de “O senhor dos anéis” para explicar o porquê.
Gimli disse para Legolas ao despedir-se da bela Galadriel:
“O tormento no escuro era o perigo que eu temia, e esse perigo não me demoveu. Mas eu não teria vindo, se soubesse do perigo da luz e da alegria”.
Sim, os perigos do ORUTUF são assustadores, mas às vezes o que assusta mesmo é a alegria do presente: quando é tanta que nos faz sentir medo de perdê-la.
Você gosta tanto do animal que tem medo de se despedir dele um dia... Mas desistir da alegria por temer perdê-la é bobagem, porque é erro de tempo.
O ORUTUF não é nosso. Nosso tempo é o presente: se é ruim, a gente enfrenta; se é bom, a gente sorve. Vamos viver um dia de cada vez...
É erro de tempo antecipar o sentimento das despedidas. Se a nossa vida está tão boa hoje, devemos saborear o momento, deixar a tristeza da despedida só acontecer quando acontecer...
Minha última vira-lata, Lila, que tanto me divertiu por anos e anos, deixou uma saudade danada por ter cometido a travessura de morrer um dia.
Mas tenho certeza que Gimli, refletindo bem, escolheria conhecer Galadriel, como eu escolheria conhecer Lila, apesar do medo que causa experimentar tamanha alegria.
Quem se arrependeria de ter tido tão boa companhia? E por que, então, haveria arrependimento por cultivar um novo encontro? Contra o medo de ser feliz, o caminho é... ser feliz.