Por que tanta gente endividada continua procurando rolos para ficar rico logo? Por que tanta gente, precisando emagrecer, em vez de comer o que todo mundo sabe que deve, continua comendo besteira? Por que uma pessoa sedentária, conhecendo os riscos, continua sentada por horas e horas, apesar de saber que a prática de um esporte faria bem para sua saúde? Uma resposta possível - somente uma - pode estar no que o autor e psicólogo americano Steven C. Hayes disse em seu livro "A liberated mind".
Ali ele explica que há um padrão comportamental escravo de uma maneira rígida de pensar: o sujeito sofreu um determinado trauma - por um erro pessoal ou não - e, querendo evitar a dor de revivê-lo, simplesmente foge de tudo que está relacionado a ele. Mas isso não ajuda, porque o trauma ignorado continua ali, gerando tensões no nosso inconsciente e reverberando nas nossas ações cotidianas.
Pensamos que podemos fugir dos problemas como fugimos de uma ameaça que, de tanto se distanciar, nos deixa em paz. Mas a verdade é que os nossos problemas estão dentro de nós: podemos correr até Plutão, que eles dirão "Ei, estamos aqui ainda, hein!".
O caminho, então, seria adotar um modo de pensar flexível. Em vez de ignorarmos as nossas dores, deveríamos avaliá-las com serenidade, amor próprio e sinceridade. "Olá, problema, entra aí, tá aqui um café, vamos conversar", diríamos.
Seria o sinônimo de pensar positivamente? Não. Isso pode ajudar, mas pensar positivamente não significa, necessariamente, ser sincero consigo. E aí é que está o ponto: não adianta se enganar. É preciso colocar as cartas na mesa, chamar você mesmo para uma conversa - uma conversa que você está evitando, mas que sabe que precisa ter; contar algo que você não gostaria que ninguém ouvisse, nem você mesmo, mas que sabe, no fundo, que precisa confessar para si.
"Bem, isso aconteceu, aconteceu assim, eu senti isso, me incomoda por isso... O que posso fazer para melhorar? O que aconteceu não precisa acontecer de novo, eu posso aprender, eu posso superar... Talvez ajustando isso, aquilo... Sim, eu enxergo o problema e não vou deixá-lo dominar a minha vida" - posso até ouvir o diálogo sincero de quem resolve se ter como melhor amigo.
Para resolver um problema precisamos esclarecê-lo, defini-lo, iluminá-lo, trazê-lo para a consciência, como se pudéssemos transformá-lo em um objeto para colocarmos na nossa frente, em cima da mesa, na mira do nosso telescópio.
A abordagem do livro apresenta interessantes ideias sobre como ter uma mente livre - ou pelo menos cada vez menos prisioneira -, aquela que aceita suas angústias, não desiste de querer melhorar, aprende a negociar consigo mesma, e converte as dores do passado, os medos do futuro, em hábitos saudáveis que nos livram do inútil, teimoso e inconveniente autoflagelo.