Boa tarde, gente.
Antigamente eu costumava postar algumas mensagens estoicas por aqui. Parei por um tempo para não parecer excessivo ou abusivo, respeitar o espaço de convivência daqui. Mas hoje, durante o chat do Bastter, enquanto ele falava, tive a vontade de compartilhar mais uma mensagem, dessa vez um pouco mais longa e com um encadeamento de trechos distintos. Espero que contribua de alguma forma com alguém do site.
Muitas vezes temos tópicos aqui sobre coisas do nosso cotidiano que nos causam desconforto, irritação. Coisas como barulho, o cheiro desagradável, a ofensa, a falta de compromisso, a invasão da nossa privacidade, etc. Até coisas daqui do fórum, por exemplo as respostas dos demais usuários.
Sobre isso, há uma ideia interessante que de vez em quando o Bastter cita por aqui: a de que muitas vezes o que te deixa mal, irritado, é muito mais a sensação de afronta que realmente a coisa que você chama de afrontosa. Quando eu me sinto frustrado ou nervoso com situações como essa, tento lembrar essa mensagem de baixo, que ressoa a mesma ideia do Bastter:
"Ponha longe de você a crença de que "eu fui injustiçado" e com ela irá o sentimento. Rejeite seu sentimento de prejuízo e o próprio prejuízo desaparecerá." - Marco Aurélio

Se me sinto injustiçado por alguém, de qualquer forma, tento parar um momento pra refletir sobre o assunto. Claro que isso depende da situação, mas se possível sempre tento tirar esse momento - respirar, como o Bastter diz. Aí me pergunto: aquilo realmente me atinge? Está dentro da minha esfera de controle? Ou é apenas uma opinião sobre algo distante e incontrolável?
Se for algo mais distante ou imponderável, tento lembrar que não preciso ter opinião sobre tudo:
"Você sempre tem a opção de não ter opinião. Nunca há necessidade de se preocupar ou perturbar sua alma com coisas que você não é capaz de controlar. Essas coisas não estão pedindo para serem julgadas por você. Deixe-as em paz." - Marco Aurélio

No processo de tentar não ter opinião sobre coisas que eu não entendo ou que não são importantes, às vezes me ajuda lembrar que está tudo bem em admitir minha ignorância, minha fraqueza. A humildade é um bom princípio de ação. Eu não me torno menor por lembrar da minha pequenez diante desse universo tão vasto e tão complexo, que envolve tanta gente e tantas coisas diferentes. Pelo contrário, admitir isso me permite um caminho de aprendizado e crescimento pessoal:
"É impossível a alguém aprender o que acha que já sabe." - Epicteto

Mesmo quando a situação está próxima e eu posso fazer alguma coisa sobre o que está acontecendo, tento lembrar que no calor do momento minha visão fica turva com a emoção. Eu posso acabar fazendo uma besteira de que me arrependerei depois:
"Se deseja determinar a natureza de alguma coisa, confie a tarefa ao tempo; quando o mar está revoltoso, você não é capaz de enxergar qualquer coisa com clareza." - Seneca

Mais uma coisa que me ajuda, e reputo a mensagem mais importante dessas daqui, é lembrar que:
"Onde houver um ser humano, haverá uma oportunidade para gentileza." - Seneca

De fato, isso vale não apenas para os outros seres humanos. Vale pra mim também e vale para o mundo em geral. A gentileza não são apenas atos específicos, é também uma mentalidade que se manifesta de muitas formas. Ter paciência com as minhas falhas e com as falhas das demais pessoas, respeitar a mim mesmo e às demais pessoas, isso tudo é gentileza.
A ação concreta de ajudar é importante, mas penso que tão importante quanto ela é o sentimento de se por ao lado de quem está sendo ajudado. Não é ajudar para reafirmar a própria superioridade, para humilhar, para forçar o outro a ser como eu. É ajudar quem realmente precisa, respeitando a autonomia de cada um. Em especial, ajudar sem ambição de ser visto:
"Aquele que pratica um ato benevolente não chama outros para virem e verem-no, mas segue para outro ato como a videira segue para produzir novamente uvas na estação." - Marco Aurelio

Eu tento levar essa ideia mais além. Não apenas ser gentil sem ambição de ser visto por outras pessoas, o ideal mesmo é ser gentil sem ambição de ser visto por si mesmo. Ou seja, ser gentil sem pretensão de afagar o próprio ego.
Tudo isso é bem difícil - pelo menos pessoalmente sinto que é. Mas o mero esforço de tentar pensar mais dessa forma e agir mais em concordância com esses pensamentos, apenas trilhar esse caminho, tem sido bastante gratificante pra mim. É gratificante cultivar um sentimento de gentileza, de benevolência generalizada.
Tenho observado, na minha experiência pessoal, que muitas vezes a repetição consistente, intencional, dessas práticas vai transformando meu modo de pensar. Vou adquirindo novos hábitos e o que antes exigia muito esforço vai se tornando cada vez mais natural. Tenho a impressão de que fico mais tranquilo, menos reativo, mais tolerante, mais humilde, mais compreensivo.
Enfim, é essa a mensagem. Espero que tenha sido útil e obrigado por ler até aqui.
Abraços!