Na semana passada fiquei sabendo que, há 02 (dois) anos, meu pai foi contatado por um escritório de advocacia, convidando-o a ingressar com ação judicial. Foi alertado de que a vitória era aagarantida, mas a decisão de ingressar com a ação deveria ser rápida (não podiam perder tempo, quanto mais tempo passava mais dinheiro se perdia). Bastava assinar procuração, pagar as custas iniciais e aguardar, o que fez.
Recentemente, recebeu a notificação oficial do Poder Judiciário para pagamento das custas do processo e dos honorários de sucumbência do advogado da parte contrária, de quantia bastante relevante. Descobriu, então, que perdeu aquela ação que era tida por aagarantida, e que terá que suportar o ônus financeiro, na casa dos cinco dígitos (e contando).
O escritório de advocacia abandonou o processo, claro, sem prestar contas de seus serviços.
Trata-se de situação usual, considerando a massiva litigância nesse país, mas que, se bem observada, traz inúmeras reflexões:
1 - Você não precisa de nada daquilo que lhe é oferecido. Não atenda telefonemas de estranhos, apelos de estranhos para que aproveite a "oportunidade dos sonhos", etc. Não existe oportunidade. Se algo é oferecido, é bom apenas para quem oferece.
2 - Se algo tem início de forma antiética (a captação de clientes por prestadores de serviços advocatícios é prática proibida pelo respectivo estatuto),
a chance de sobrevirem problemas (ferro) aumenta expressivamente. O bom senso sempre alerta dos perigos que nos tornam, mas as vezes somos seduzidos a não ouvi-lo ou enfrentá-lo, em autêntica postura ARROWGANSO.
3 - Você não deve se envolver com aquilo que não entende, ou tomar decisões emocionais, sem acurada reflexão. Por não ter feito análise dos riscos de ingressar com uma ação judicial, meu pai, que acreditou não haver qualquer ônus em caso de derrota, foi surpreendido com os custos envolvidos com a perda da ação judicial. O mesmo pode acontecer com aquele que, não sendo profissional, crê na riqueza fácil envolvendo-se com leilão judicial/extrajudicial, compra de imóveis na planta para posterior revenda, etc.
4 - Deve-se avaliar com critério a necessidade de ingressar-se com ação judicial, considerando os custos financeiros e emocionais daí advindos. Recorde-se de que o tempo de tramitação de uma ação judicial não costuma ser pequeno, e há aqueles que se perdem na ansiedade de ter uma resposta estatal (que ainda assim pode ser contrária ao esperado - nada é aagarantido, senão a morte e os impostos). Essa ansiedade pode ser pior do que o prejuízo financeiro ou até a própria vitória, pois o tempo perdido e a paz subtraída, ao contrário do dinheiro, nunca retornam.
5 - Não negligencie uma segunda opinião em qualquer situação que seja relevante, mesmo que isso não pareça necessário. Meu pai possuía, à época, um advogado de confiança, mas não o consultou antes de ingressar com a ação. Aquele que telefonou incutiu-lhe um sentimento de urgência e de certeza na vitória. Não duvidemos do poder dos bajuladores e daqueles que oferecem oportunidades. Um dia, podemos estar desarmados, de guarda baixa, e então, se não nos cuidarmos, ocuparemos a posição que meu pai ocupou.
6 - Crie e mantenha a reserva de emergência. Ela se presta para também fazer frente a imprevistos. O prazo de pagamento é de 15 (quinze) dias. Meu pai sempre foi um poupador (ainda que não um investidor) e por isso tem o dinheiro necessário ao pagamento (se não tivesse, eu não o abandonaria nessa situação, mas não é disso que se trata).
7 - Não chafurde na lama, ou seja, não reviva o erro dia após dia, culpando-se por uma falha, um deslize. Viver é ter a certeza de que em algum momento erraremos, agiremos mal com alguém amado, tomaremos decisão financeira equivocada. Devemos aceitar nossos erros, de julgamento, de avaliação de riscos, etc., aprender com eles, ofertar nossas sinceras desculpas se o caso, e seguirmos em frente. Estamos em constante evolução, e quando pararmos de evoluir, de buscarmos ser alguém melhor, teremos morrido.
8 - Dinheiro é apenas um meio, dinheiro é lixo. O que importa é a saúde física e emocional. Não há sentido em ter dinheiro senão para ser livre.
O apego ao dinheiro não é liberdade, é prisão. Então, deixe o dinheiro ir. No caso, pague a dívida e siga em frente. Novo dinheiro virá, e será melhor empregado se você extrair do erro a lição de que precisava. Se o evento aconteceu, era porque a lição ainda não tinha sido aprendida.
9 - É recomendável que se adote postura otimista diante das dificuldades. O tempo passará de qualquer forma, pois então que transcorra tomado de otimismo, pelo menos de resignação. Não é raro olharmos para trás e recordarmo-nos de que em certo momento passado estávamos perturbados, achávamos que tudo daria errado, não tínhamos fé na vitória. E no fim, tudo deu certo, vencemos também aquele obstáculo e hoje estamos bem, sempre em frente. Em 5 anos, espero que meu pai olhe para trás e tenha o evento como mais que superado.
E espero que a história (livro!) traga algo de útil para os que a lerem, assim como aprendo aprendo todos os dias com o que é postado aqui e principalmente com os comentários dos demais foristas.
Dois dias para minha primeira assinatura expirar; a renovação é certa.
Bom domingo a todos.