Começo agradecendo a todos pela generosidade em contribuir para a evolução coletiva da comunidade bastter.com. Aprendo muito com os tópicos de vocês! Com intuito de somar a estes esforços, resolvi contribuir com base na minha experiência neste tópico. Espero que ele possa ser útil para alguns companheiros da Bastter.com.
CONTEXTO
Nos meus 15 anos de vida profissional, 10 deles foram morando no exterior e recebendo em Moeda Estrangeira. Nos outros 5 anos que estive no Brasil, sempre tive fontes de receita do exterior. Já fui funcionário de organismo internacional no exterior, empreendedor no Brasil e no exterior exportando serviços, funcionário de consultoria privada estrangeira, professor universitário em universidade estrangeira e agora contratado de agência de cooperação com base no Brasil e vou relatar um pouco dessa experiência.
REQUISITOS
Morar no exterior ou prestar serviços para o exterior exige um certo perfil profissional, que pode ser resumido em:
-
Proficiência em inglês é fundamental. De preferência, também em outras línguas estrangeiras (para nós brasileiros, arrisco dizer que a segunda prioridade é o Espanhol);
- Para quem quer ir ao exterior como funcionário, sempre é exigido um
Mestrado (Master) como critério mínimo pra empregabilidade. Várias vagas de emprego exigem e seu CV sequer passará na fase de
screening sem isso.
- Para
exportar serviços para o exterior, quase sempre é necessário um currículo sólido, com
experiência prévia no país ou em contexto similar, e de preferência uma alto grau de especialização na área;
- Como competências pessoais, penso que o pacote mínimo pra quem almeja se aventurar inclui
flexibilidade/adaptabilidade/criatividade, capacidade de
comunicação, prestação de contas (
accountability),
respeito à diversidade e capacidade de
trabalhar em grupos multiculturais.
POR QUE TER RENDIMENTOS NO EXTERIOR
Na minha experiência pessoal, o principal benefício é poder utilizar esses rendimentos na construção de um patrimônio no exterior que ajudará na diversificação (e diminuição de riscos à carteira) cujo crescimento também se dará pela variação cambial. Essa valorização não será tributada, já que se trata de um rendimento isento na DIRPF.
Para quem investe em stocks e REITs, poderá também compensar o excedente dos 30% de impostos retidos no exterior com o imposto pago pelos rendimentos de trabalho no exterior.
Além disso, os rendimentos servem para a criação de reserva financeira no exterior (de valor e a parte no exterior da reserva de emergência). Sobre esse aspecto, vale a pena citar a descorrelação entre câmbio e renda variável, sendo que em momentos de crise, quando a RV despenca no Brasil, o dólar em geral sobe e isso, além de nos proteger contra a burrice de vender no fundo, é útil para cobrir emergências advindas da própria crise, especialmente a ajudar familiares que não se prepararam pra crise.
Na minha experiência pessoal, a reserva financeira no exterior foi muito útil pra aquisição de imóveis no Brasil. Eles foram comprados quando o BS me indicou e muitas vezes por preços muito atraentes (USD 50-70k) quando comparados a preço dos imóveis no exterior.
A reserva financeira no exterior, em especial a reserva de valor, também contribui consideravelmente para a paz, já que há um colchão para crises agudas e longas no Brasil.
Por último, a principal remuneração, para mim, é a possibilidade de aprender novas culturas e, a depender do trabalho, poder viajar pra conhecer lugares improváveis, aprender novas línguas e expandir o círculo profissional e pessoal.
MODALIDADES
Vou aqui me restringir às experiências que tive. Quem mais puder complementar nos comentários, fique a vontade!
Funcionário de organização internacional:
Seja atuando no Brasil, seja no exterior, funcionários da ONU e agências especializadas não são tributados no Brasil e seus rendimentos, mesmo consultorias técnicas, mas desde que o contrato seja diretamente feito com a organização. Já há uma jurisprudência do STJ neste sentido:
Rendimentos de técnicos contratados pelo PNUD são isentos de Imposto de Renda (jusbrasil.com.br)Para consultorias, em geral, é necessário ter bastante especialização na área desejada e em geral só é aberta a quem tem mestrado. Os processos de seleção são bastante competitivos e demanda conhecimento do contexto e da língua. Por isso, bons lugares para iniciar, como brasileiro, são países lusófonos na África e Ásia (Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Timor-Leste e São Tomé e Príncipe).
Para ser staff, o processo é mais complicado e competitivo e pode ser feito por meio de candidatura direta para uma vaga, que terá exigências específicas, ou pelo YPP (Young Professionals Programme), cujos países beneficiados variam de ano a ano de acordo com a quantidade de funcionários daquela nacionalidade no sistema da ONU. O Brasil atualmente é deficitário e por isso brasileiros podem se candidatar. Mais info: UN CareersFuncionário de empresa no exterior:A vantagem de ser funcionário expatriado está principalmente nos benefícios e de ter parte ou toda renda em moeda estrangeira. Vale a pena consultar a empresa para saber qual o pacote de benefícios, que variam muito. No meu caso, além da renda em USD, a empresa custeava o aluguel de uma casa já montada, dava um subsídio em moeda local que era suficiente para as despesas, carro para locomoção, inclusive pessoais. O benefício que eu mais gostava era ter direito a duas semanas de férias a cada 3 meses trabalhados, com passagens custeadas por eles.
Como trabalhei num país que não tinha acordo de bitributação com o Brasil, em consulta a um contador, decidi pela saída definitiva do Brasil. Outra solução é pagar os tributos pelo carnê-leão. Há vários tópicos sobre essas duas possibilidades aqui na comunidade.
Trabalho não assalariado para o exterior com base no BrasilNo caso de um freela ou uma atividade não assalariada, o imposto deverá ser pago no Brasil via carnê-leão, mas, mesmo que recebido em conta brasileira, em Reais, por ser um rendimento originalmente auferido em moeda estrangeira, também poderá ser investido para compra de ativos no exterior dentro desta modalidade, também produzindo acréscimo ao patrimônio por variação cambial.
Exportação de serviços:As outras tr~es modalidades se referem a pessoas físicas. Já a exportação de serviços se enquadra na tributação de pessoa jurídica. A principal vantagem aqui é que PIS e COFINS não incidem sobre serviços exportados e pagos por pessoas físicas ou jurídica no exterior. Também não incide IOF sobre operações de câmbio para exportação de serviços, caso o mesmo seja pago em conta no Brasil. Em relação ao ISS, irá depender do município e muitos já cobram caso o serviço seja realizado e executado no Brasil. Caso a prestação envolva viagem ao exterior, o serviço será isento de ISS caso executado durante a missão.
Neste sentido, os impostos pagos são o IRPJ, que irá variar de acordo com o regime de tributação – lucro real, lucro presumido e simples, e a CSLL (Contribuição sONcial sobre Lucro Líquido). Caso haja imposto retido no exterior, poderá ser compensado no Brasil em países onde há acordo para não bitributação. Mais info: Impostos sobre a exportação de serviços | Remessa Online Quem quiser mais informações sobre o assunto, estou à disposição.
Abraços e boa semana a todos!