Seguindo ao que eu respondi no primeiro bode do confronto, é um consenso forte na psicologia contemporânea que vivência humana não é estável nem confortável. O conforto é um lugar que construímos apesar das dificuldades da vida e que ele existe uma batalha constante para manter esse lugar em pé.

Sentir-se bem, feliz, amando, amado, confortável são estados psicológicos vinculados a nossa capacidade de construir uma vida que faça sentido e que nos permita seguir em frente.
Vem da noção psicológica de segurança apesar de todas as confusões da vida.

Uma pessoa sem alternativas é uma pessoa desesperada, sem esperança, sem perspectiva de futuro.

Uma pessoa que todos os dias batalha as necessidades básicas no presente, não tem tempo de construir o futuro que deseja.
Muitas pessoas vivem assim, algumas conseguem sair, outras não. A maioria que vive em condição de miséria, tendo que resolver problemas no presente a todo o instante, não vai conseguir sair apesar dos melhores esforços. O provável é que os melhores esforços favoreçam a próxima geração daquela família.

Assim vemos com várias famílias que fizeram grandes esforços em relação aos filhos que são a primeira geração que frequentou a escola, terminou o segundo grau e a faculdade.

É uma verdade estatística, portanto, não pode ser aplicada a uma pessoa específica. Cada caso é um caso, alguns conseguem, mas a norma é uma batalha que não tem fim nela mesma. 

As batalhas infinitas são as melhores batalhas. Viver é verbo, são ações. Não se conquista vida, você está vivo e são as ações que determinam a qualidade dessa vida.

As melhores batalhas quase nunca tem um fim absoluto, mas ainda assim geram condições melhores para o futuro. Eu dei o exemplo do filho terminar a faculdade e pode aplicar a lógica para a vida individual.
Você pode escolher um propósito que favoreça o seu eu futuro.

Saúde, família, tranquilidade financeira, parentalidade (ser mãe ou pai), conhecimento e outros são batalhas da vida que não tem fim.

Não existe um momento em que você conquista saúde. Não tem um prêmio, estátua, certificado ou momento em que você vira uma pessoa saudável.
Você pode ter hábitos saudáveis, mas se parar de fazer o que faz, provavelmente sua saúde irá piorar.  Também é verdade, infelizmente, que apesar dos melhores hábitos, não há uma aagarantia de que você não terá problemas de saúde.

A escolha do propósito de saúde é uma escolha para o seu eu futuro. Uma escolha em que você favorece a chance do seu Eu futuro em lidar com a insegurança da vida. É o máximo que dá para fazer.

O mesmo se aplica a família, filhas e filhos, felicidade, amor ou qualquer coisa que seja importante para si. Nenhuma delas se conquista, elas são o reflexo das suas ações no mundo, tentando construir uma vida em que elas possam existir apesar das dificuldades do mundo.

Não dá para ser feliz em absoluto, mas é possível construir uma vida cercada de felicidade se você construir isso em volta de você, com os seus, com as suas coisas. Alguns dias serão longe da felicidade, dias mais perto, coisas bem ruins vão acontecer, mas quase sempre dá para ao menos tentar favorecer a felicidade no dia de amanhã.

talvez não aconteça amanhã, mas se você fizer o melhor, mesmo que pouco, você já aumentou as chances de acontecer em algum amanhã.

Você pode escolher buscar algumas dessas coisas sabendo que nunca vai conquista-las, mas aumentando as chances de encontro com esse propósito. Quanto mais você agir nessa direção, maior a chance de encontrar com ele.

Eu poderia estender essa analogia ao trabalho, mas o Neil Gaiman já fez isso muito melhor do que eu poderia fazer:



Abraços,
Paulo.