Já que hoje é o dia que todos estão fazendo tópicos de gratidão, também queria deixar meu depoimento aqui. Senta que lá vem textão:
Minha chegada à Bastter.com, como a de muitos, foi depois de um grande rolo. Comecei a investir em meados de 2016, e fiz todas as sardinhices possíveis e imagináveis:
- Quando entrei em renda fixa, abri contas em dezenas de corretoras e banquinhos, "diversificava" em milhares CDBs/LCIs/LCAs, procurando migalhas a mais;
- Não analisava o risco das coisas, tudo que o FGC protegesse, tava valendo. Abri conta até em financeira minúscula sediada em Cabo Frio, porque oferecia um CDB de 128% (devo ter ganhado nem 13 reais a mais com isso);
- Quando comecei a investir em ações, montei a carteira cheio de emoção, com empresas indicadas pelas corretoras e/ou nas quais eu "acreditava" no negócio, ao invés de simplesmente olhar os resultados;
- Mudei umas 3 vezes de corretora, buscando taxas menores;
- Ficava olhando cotação o tempo todo;
- Quando a ação subia, vendia pra realizar o "lucro";
- Começava a procurar em fóruns sardinhas aonde reinvestir aquele "lucro", perdia um tempo precioso com esses giros. Ficava horas do dia pesquisando P/L, procurando ações "baratas";
- Às vezes, na semana seguinte, me arrependia de ter vendido uma ação "boa", e comprava ela de novo. Nessa onda de girar, cheguei a ter ações que vendi e recomprei 3 vezes num ano, coisa de maluco, só na ansiedade de "realizar os lucros".
- Quando a ação caía, ficava esperando ela "empatar" pra me desfazer dela. Repetia aquele mantra idiota de que "se não realizei ainda, não tive prejuízo";
- Depois que finalmente vendia no prejuízo ou no empate, ficava me torturando acompanhando a cotação dela no mercado, vendo que continuava subindo;
- Via as ações do mercado que mais estavam caindo como se fosse uma oportunidade, era mestre na arte de pegar "faca caindo" e acabar comprando no topo e vendendo no fundo;
- Comecei a investir no exterior, mas ficava pirando com câmbio na hora de transferir o dinheiro. Fiquei paralisado durante semanas, vendo o dólar subir, esperando o "melhor momento" de entrar;
- Em dias mais turbulentos de bolsa, ficava lendo os comentários dos ativos em fóruns sardinhas, "torcendo" pra eles;
- Girava tanto o patrimônio que não tinha uma reserva de emergência líquida. Já teve finais de semana que tive que pedir pra amigo me mandar um TEF, porque a conta do banco estava negativa, e o TED do resgate do investimento na corretora só entraria na segunda feira;
- Procurando rolo, cheguei a investir em plataforma de crowdfunding imobiliário. Obviamente tomei ferro;
- Tinha uns 5 apps/sites pra controlar investimentos, gastava um tempo horrível mantendo todos atualizados. Na minha cabeça tudo fazia sentido, um era focado em ações, outro em dividendos, outro em RF, etc..
- Girava tanto que até giro de boleto eu fazia, kkk. Não tinha nada em debito automático, porque queria pagar no cartão de crédito usando apps de wallet virtuais (que me davam migalhas de desconto e/ou migalhas em milhas.
Mesmo com tanta sardinhada, até o final do ano passado nem estava tão mal, na minha visão... Via essa "dedicação" aos investimentos como um hobby, você acaba se sentindo gente grande e importante né, passar o dia inteiro olhando cotação.
Até que, um belo dia, em Out/2020, tinha acabado de trocar de corretora pela 3a vez, resolvi que seria uma boa entrar nesse lance de opções. "Reduz os seus riscos", disse um amigo meu. Parecia bem lógico, pegar uma ação que estava subindo muito, fazer uma operação combinada de call e put, nada poderia dar errado. Só se eu fosse muito burro.
Só que sou.
Estava trocando de corretora pela 3a ou 4a vez, e estava pela primeira mexendo numa plataforma de trading toda linda e brilhante, cheia de gráficos e paranauês garbosos. Fui fazer a venda da opção (WEGE3 foi a escolhida), e descobri que não dava pra fazer opções em mercado fracionário (tinha estudado nada). Então coloquei uma ordem de compra pra ter um lote completo (e obviamente, elevei meu risco muito além da minha zona de conforto). Isso já era quase no fechamento do mercado.
No dia seguinte, WEGE3 despencou. A estratégia de opções que eu tinha planejado foi pro espaço, já não fazia mais sentido. Nunca cheguei a vender nem um call nem um put. Achei tudo isso ruim? "Claro que não, só perco quando realizo". Dobrei a aposta. Ação subiu um pouco. Vendi. Subiu mais um pouco. Comprei. Caiu um pouco. Vendi no empate. Subiu um pouco. Comprei.
Quando eu vi, eu já estava fazendo day trade sem sequer ter planejado isso, só por loucura, por não aceitar "sair perdendo". Como assim, aceitar que uma melhores ações da minha carteira tinha virado de lucro pra prejuízo numa tarde só? Impossível.
E assim fiquei, uma tarde inteira nessa agonia. Vendendo no empate, comprando no empate. Girando, girando, taxas e emolumentos roendo a cada ciclo de loucura. Fiz umas 20 transações, sem exagero. No final do dia, tinha perdido pouco até, uns R$600. Mas vi a loucura que aquilo foi. Não pelo dinheiro perdido, mas pelo estresse que aquilo me gerou.
No ímpeto, tirei todo o dinheiro da corretora, antes que eu fizesse mais besteira, e fui espairecer. Na mesma noite, fiz o cadastro aqui no site. Já conhecia o Bastter.com, não por indicação de alguém daqui, mas por resultados do Google quando estava buscando minhas sardinhagens.
Decidi que, diante da perda que eu já tinha tido no dia, seria justo pagar a assinatura do site. "Antes tivesse pago R$250 aqui, antes de perder R$600 nesse dia de loucura). Sei lá porque diabos fiz isso, conhecia quase nada da Cleiton, não sabia que ela era a antítese de tudo que eu fazia. Talvez tenha ficado algo gravado no meu subconsciente, de tópicos aleatórios lidos por meio de resultados de busca, vai saber.
Após assinar comecei a ler o guia do iniciante, concordei com muita coisa, mas ainda achava que outras eram exagero.
"Ah, tá doido que vou deletar meu aplicativo de cotações do celular, que exagero... Tudo meu está cadastrado lá, não quero perder isso. É só olhar menos vezes que tá sussa.".
"Ah não, meu aplicativo de controle de investimentos não vou tirar. Usei ele a vida toda, e daí que ele mostra a maquina de triturar sardinhas do dia em letras garrafais na tela de entrada?"
Mas quando eu vi, eu já não entrava nesses aplicativos. Fui deletando um por um, mês a mês. Sem pressa, sem drama. Simplesmente não precisava mais, vi que não me fazia bem.
Hoje, depois de 6 meses, olho para trás e vejo quanta coisa fiz:
- Vendi as ações/stocks que me incomodavam muito, que tiravam meu sono à noite, mesmo no prejuízo;
- As outras ações que estavam negativas, mas que não me incomodavam tanto, simplesmente liguei o danesse;
- Me livrei de todo ativo de renda fixa que não fosse Tesouro. Vi que era perda de tempo ficar buscando taxas maiores;
- Montei uma carteira balanceada que me protege um pouco contra minha burrice;
- Como deixei de ser ansioso, acabei montando uma boa reserva de emergência, até maior que tinha planejado anteriormente;
- Vi como é maravilhoso o mundo da Poupança pra RE, de mover dinheiro no fim de semana, sem precisar ficar agendando resgate em horário comercial, sem se preocupar com maquina de triturar sardinhas;
- Desencanei dos lixos que investi no passado. Tem investimento que até ação coletiva está rolando na justiça, pra tentar reaver. Mas já não considero parte do meu patrimônio, nem lanço no BS. O que foi, foi, se conseguir reaver, maravilha;
- Parei de aportar na Previdência Privada da empresa. Vi o quanto aquilo me incomodava, um dinheiro meu que não era meu de fato. Ainda tenho bastante dinheiro preso lá, mas só de estancar essa sangria, me senti mais "livre";
- Abri o Registrato do Banco Central e vi quanta conta tinha aberta em corretora/banquinho, dezenas. Muitas já nem usava, mas deixava lá pra "quando precisasse". Comecei a cancelar uma por uma. Os atendentes não entendiam porque eu queria cancelar algo que era de graça. Mas foi terapêutico para mim não ter mais essas sombras pairando;
- Concentrei quase todos os meus investimentos no bancão que recebo meu salário. Vi como isso também me trouxe mais paz. Ainda planejo terminar de mover todos, pra cortar o vinculo de vez com o antigo banquinho;
- Conheci o maravilhoso mundo do DDA. Hoje estou com todas as minhas contas em DDA ou Debíto Automático, já não perco mais tempo com isso;
- Estou tentando dedicar mais tempo a minha família, com o tempo que gastava com questões financeiras. Ainda não consegui muito, o trabalho acaba ocupando todo espaço que sobra, mas vamos aos poucos;
- Sacudi a poeira de uma bicicleta que estava parada a 10 anos aqui em casa, eu mesmo dei um jeito de colocar ela pra rodar, comprei uma cadeirinha e comecei a levar minha filha pra escola todo dia. Não é isso que me fez deixar de ser sedentário, deve dar uns 15 minutos ida+volta. Mas é um começo;
- Entendi o que significa dinheiro ser lixo. Estou tentando deixar de ser tacanho com coisas que trazem conforto e bem-estar pra mim e minha família. Entendi que é pra isso que acumulo patrimônio, para coisas que o dinheiro consegue trazer. Porque muitas outras ele não consegue.
Ainda tenho um longo caminho pela frente, ainda tenho muitos comportamentos sardinhescos, e volta e meia o mindset da miséria ataca novamente. Mas pelo menos agora sei que sou burro.
Enfim, achei válido fazer esse depoimento, olhar pra trás e ver como eu evolui em coisas que me estavam fazendo mal.
No final aqueles R$600 que perdi no daytrade estabanado foram baratos, perto de todo aprendizado que ganhei desde então.
Então fica aqui a minha gratidão.