Cleitonildos e Cleitonilces
comentada em 17/05/2021 15:56

Quero vender para comprar uma esteira desde o ano passado, mas tenho certeza que vai virar cabide...

Bom senso, algo muito em falta hoje em dia

@Asvidzinski isso perfeito vizviz

Só podia estar de deboche. Tá no incinho do Discurso do Método.


Ver mais

Quando se diz "não é pra vender patrimônio", essa frase não é  realmente sobre não vender patrimônio, é sobre saber vender. É sobre aceitar que somos sardinhas; que se a gente começar a querer vender por qualquer coisa, vamos fazer besteira e o patrimônio não vai crescer; que o ideal é se planejar e ter uma boa RE pra evitar vender sem motivo; etc. Ela não quer dizer "não venda jamais", o propósito é te fazer refletir sobre as consequências e significados de vender e sobre a possibilidade de você estar fazendo besteira, pra que aí você decida o que fazer sozinho.

Enfim, a ideia da frase é passar um conceito de educação financeira, não é estabelecer uma regra universal, inviolável e inflexível. Até porque isso não existe.

O mesmo pode ser dito de muitas outras frases e ideias aqui do site. Não é pra decorar o que fazer, é pra entender o conceito por trás, o que se tenta passar, pra poder conseguir decidir quando se deve usar um conceito ou outro. Tem que entender a regra primeiro pra identificar, na situação concreta que você tá vivendo, quando ela deve ser flexibilizada ou quebrada (aliás, é uma razão para a pessoa que foca demais em detalhes e exceções ter dificuldade de entender o conceito).

Quando alguém fala X, diz coisas que não estão em X e também X geralmente não é X mesmo. A menos que X seja algum enunciado tautológico ou muito óbvio como "H2O é água", provavelmente X vai ser verdadeiro apenas em geral, em contextos específicos.

Trabalhar como se todas as proposições fossem universais e inflexíveis é pensamento binário, de "sim" ou "não", de encaixar o mundo em extremos. Raramente a realidade é tão simples assim.

Acumuladores de patrimônio compulsivos

Vender é totalmente diferente de girar. Ter patrimônio para não vender é como acumular comida para não comer. Não faz sentido.

Isso aí vem daquilo que eu falo: não adianta pegar um bom conceito e transformá-lo num dogma absoluto, se não vc vira escravo do conceito. Tudo na vida é assim, tem gente que bitola até com dieta (já vi maluco que vai no restaurante comemorar aniversário de casamento com a esposa e leva uma marmita fit pra não fazer sequer 1 refeição fora da dieta, imagina a cara da esposa - é ou não é doente?)

Eu graças a deus nunca precisei vender nada até hje, mas pq tenho emprego estável e nunca passei perrengue grande. Mas se fosse necessário, acho que venderia tranquilo.

Descobri que tenho enorme aptidão natural pro Buy and Hoard :) Hoarding, the basics: "I’ve always had trouble throwing things away. Magazines, newspapers, old clothes… What if I need them one day? I don’t want to risk throwing something out that might be valuable". People hoard because they believe that an item will be useful or valuable in the future. Or they feel it has sentimental value, is unique and irreplaceable, or too big a bargain to throw away. They may also consider an item a reminder that will jog their memory, thinking that without it they won’t remember an important person or event. Or because they can’t decide where something belongs, it’s better just to keep it.

Sempre que ouço discursos alegando que o bom senso é a medida adequada pra resolver uma situação, fico muito desconfortável. 

Nunca vi alguém falar que tem mau senso.
Na realidade, quando dizemos que alguém deve ter bom senso, queremos, na verdade, que ele tenha o mesmo senso que o nosso.
Afinal todos agem com base nas suas crenças, histórias, pensamentos e opiniões, acreditando estarem fazendo as melhores escolhas e agindo da forma como podem.
Bom senso não é e não pode ser uma medida para nada, porque não representa um parâmetro.
A medida que estudamos, aprendemos, praticamos e evoluímos tomamos melhores decisões, e nosso senso de torna mais apurado.
A frase do Descartes enviada pelo @O.Sardinhao representa bem essa falácia.

O bom senso visto pela ótica da sabedoria sim faz sentido. Pena que esse conceito ficou deturpado.
Tomemos então decisões mais sábias, sempre com  a humildade em uma mão e o conhecimento na outra.

Bode do Bastter - #110 - Celitonildo, o primo do Heloísio

Ver outros

Cleitonildo e CleitonilcePai_NaldoOrigem do Selo

@TRO você tá completamente certo. Mas ao mesmo tempo ilustra exatamente o que eu falei ali em cima.

Dizer que "as coisas se resolvem com bom senso" é apenas uma forma de comunicar que não há regras absolutas e, portanto, que nada pode ser levado ao extremo; que cada um precisa aprender como ponderar as regras para sua própria vida, flexibilizando-as de acordo com suas situações particulares; e que isso não pode ser ensinado, depende não apenas do conhecimento "técnico" do assunto, mas também de autoconhecimento, estabilidade emocional e gerenciamento de prioridades alinhadas a um propósito de vida.

É impossível comunicar com precisão absoluta. Em vez de escrever tudo isso que eu falei acima (e outras coisas), as pessoas dizem apenas "isso se resolve com bom senso" e se espera que as demais pessoas entendam o que eu falei acima.

Expressões de efeito como "você vai vender tudo no fundo em pânico", "bom senso", "somos burros", "tem que aceitar o caos", "detalino", "#PAS", etc são substitutos simbólicos (metáforas, alegorias, etc) para conceitos abstratos longos e muitas vezes impossíveis de descrever detalhadamente em um discurso lógico de alta precisão. São ponteiros para conceitos mais amplos. 

Até porque ninguém leria se fosse escrever tudo. Falo por experiência própria, acho que uns 80% dos meus comentários aqui no site são "traduzindo" para discurso lógico alguns desses conceitos simbólicos e muita gente não lê. E mesmo essa "tradução", por mais longo que seja o comentário, é incompleta porque da transição do abstrato pro particular sempre há uma perda semântica. Esse trabalho de passar do simbólico para o lógico e de volta para o simbólico geralmente precisa ficar a cargo do interlocutor, que no caminho adapta o abstrato para sua compreensão particular de mundo. Tem que ser assim se não a comunicação não anda e o ensino fica prejudicado.

Por isso que se enfatiza tanto aqui que a pessoa tem que estudar e pensar por si mesma. Estudar aí não é simplesmente apreender a técnica mas, através da técnica e da prática cotidiana, intuir significados particulares para ideias abstratas subjacentes. O site não tem como descer às minúcias individuais e fazer o conceito psicológico entrar na cabeça da pessoa. O trabalho aqui é coletivo, é o ensino para milhares de pessoas que estão lendo ou poderão vir a ler os textos. 

@oxe fala meu caro. Não havia reconhecido vossa presença pela mudança na foto do avatar hehehe.

Não havia lido seu comentário, mas agora que li, faz perfeito sentido.

A realidade está longe de ser binária. É a famosa escala de cinza. Ao passo que as coisas são duais (e  isso não é contraditório, é complementar): acompanham sempre ônus e bônus, em medidas assimétricas ou não. 

O teu último comentário representa que a compreensão maior sobre um assunto diz respeito a saber traduzi-lo em conceitos simples e aplicáveis, afinal a teoria por si só não tem aplicação (obviamente hehe). 

Inteligência (Intelligere, do latim = escolher dentre) representa fazer boas escolhas na vida. Isso só é possível conhecendo, em primeiro lugar, a nós mesmos (autoconhecimento) e, em segunda instância, um pouco da realidade que nos cerca. 

A maioria de nós tá acostumada ao pensamento lógico, ou seja, a uma descrição minuciosa de regras e exceções, detalhadas para cada situação particular. Nesse pensamento, saber lidar com a realidade é questão de decorar cada uma dessas respostas particulares. As fórmulas são como as da matemática: uma vez que as premissas estejam presentes, basta "jogar" as variáveis na fórmula e ela te diz a resposta precisa e perfeita pra situação. Esse é o pensamento "binário" de que falei ali em cima, tudo é sempre "sim" ou "não" e há respostas perfeitas, ou um conjunto de respostas perfeitas. 

O pensamento simbólico é diferente, ele não trabalha entregando fórmulas precisas. Ele entrega conceitos abstratos geralmente verdadeiros, mas que sempre precisam ser adaptados. E esse processo de adaptação não segue fórmulas gerais, depende de uma habilidade de intuição do agente que está adaptando. Por isso mesmo raramente há uma única resposta aceitável, normalmente há um conjunto de respostas com diferentes graus de tolerância ou eficiência na resolução do problema e esse conjunto varia de acordo com um número muito elevado de variáveis. Na prática, diante dessa complexidade infinita, o pensamento simbólico precisa utilizar fórmulas abstratas de pouco conteúdo particular, mas que delimita um campo semântico, ou seja, um conjunto de respostas geralmente aceitáveis. No simbólico se trabalha com probabilidades, com flexibilidade mental e com adaptação criativa. 

O Direito deveria ser visto a partir do simbólico. As fórmulas abstratas são os princípios, que norteiam o intérprete (o agente que adapta o pensamento abstrato para a situação concreta). As regras são os conceitos geralmente aceitos, que sofrem adaptação de acordo com os princípios.

Mas na prática a maioria das pessoas lida com o Direito a partir do pensamento lógico. Ou seja, decora regras e exceções a essas regras (formuladas pelos juízes ou doutrinadores). O Direito deixa de ser um exercício de ponderação simbólico e passa a ser um exercício de memorização. Um grande manual de regras e exceções. Entender um princípio como "dignidade da pessoa humana" passa a significar decorar o que disseram sobre ele e apenas repetir o mesmo discurso. 

Mas quem cria essas exceções? De onde elas vêm e para que servem? É no pensamento simbólico que tudo se adapta e surge. Ele é a potência criativa potencialmente ilimitada. Um bom jurista memoriza os conceitos do pensamento lógico e se esforça pra intuir os sentimentos, expectativas e significados do simbólico. De posse de todo esse manancial, ele pode utilizar a ferramenta mais adequada para seu objetivo. Seja convencer o interlocutor, fundamentar uma decisão ou nortear sua própria vida. O intérprete que abandona o simbólico na verdade só está terceirizando a decisão do simbólico para outra pessoa.

O que se aplica ao Direito se aplica para a vida em geral. Tentem não ser meros autômatos decoradores de fórmulas e exceções. Isso tem sua importância, aumenta a eficiência em muitas situações. Mas igualmente importante é ser capaz de exercer a criatividade e a flexibilidade mental para situações que demandam outras respostas. Ou seja, ter "bom senso", não o meu ou o de outra pessoa, o seu próprio. 

@TRO

É isso aí, meu caro. Eu te respondi, mas na verdade respondi a mim mesmo. Respondi a uma voz na minha cabeça manifestada no seu comentário como mecanismo retórico pra tentar passar uma mensagem. Eu concordo totalmente com você kkk

P. S.: cansei da foto anterior do avatar. Aí peguei outra jolly roger, esta aqui é do pirata Henry Every  

discutir sobre bom senso não seria uma falta de bom senso?

Li que certa vez fizeram uma pesquisa pedindo que as pessoas respondessem usando o bom senso, o que caia mais rápido, um peso de um quilograma ou um peso de dez quilogramas.
O resultado foi disparado o peso de dez quilogramas. Alguns até acrescentavam que caia dez vezes mais rápido!
Sei que alguém pode dizer: isso não é bom senso, é senso comum.
Mas foi pedido para a pessoa usar o bom senso, e do ponto de vista dela foi o que usou.

@buttler isso eh bom senso ou fisica?

Justamente. Pra mostrar que o bom senso, ou senso comum, tem limites. E pode levar a erro.