Data original: 28/06/2021
Devido a pandemia eu passei a atender um número cada vez maior de pacientes. Tanto em minha área quanto em atendimento de emergência, algo que eu não fazia há bastante tempo. Uma grande verdade é que os próprios pacientes tomam atitudes que prejudicam muito o próprio cuidado deles. As principais delas:
1) Pedir parte de consulta: consulta médica bem feita tem que ser completa. Com coleta de história, exame físico bem feito, formulação de hipótese diagnóstico e então tratamento. Quando você se coloca em uma situação em que isso não é feito você prejudica muito seus cuidados. Aqui inclui aqueles que pedem dica de medicamento para o parente médico.
2) Se colocar em situação em que o atendimento não é ideal: tem paciente que adora frequentar pronto-atendimento sem motivo. No PA o médico está em situação em que o objetivo dele é classificar e tratar rápido quem precisa e dispensar quem não precisa. Se você for no PA sem motivo você não irá receber o tratamento adequado, não é lugar para isso.
3) Pular de médico em médico: Pedir segunda opinião médica é algo importante e recomendado. Mas não pode virar uma busca pela resposta que você quer. Tem muita gente que fica trocando de médico até achar um que fala exatamente o que ele queria ouvir. Geralmente ocorre de duas uma, ou você caiu em um picareta que vai se aproveitar disso pra roubar seu dinheiro ou você achou um profissional inexperiente no assunto.
4) Hipervalorização de exames: Exames não são determinísticos, não é exame X é igual a doença Y. Eles são na verdade probabilísticos, ou seja determinam a probabilidade de que quando positivos alguma doença realmente esteja presente. Essa probabilidade é amplamente influenciada pela probabilidade pré-teste (estabelecida pela presença de sintomas e sinais). Exame positivo com probabilidade pré-teste baixa geralmente significa falso positivo. Essas pessoas geralmente se tornam vitimas dos famosos check-ups e dos picaretas que pedem um quintilhão de exames sem sentido só para o paciente achar que ele é o fodão.
5) Diagnóstico pré-estabelecido: tem paciente que já chega no consultório falando o próprio diagnóstico. Por mais que você tente explorar os sintomas ele continua insistindo em dizer o que tem. Assim só perde a chance de realmente ser diagnosticado corretamente quando ocorrer variações.
6) Não saber nada sobre a própria saúde: muita gente não sabe que doenças tem, quais remédios toma, quais alergias já teve. Tem que saber isso tudo, se não consegue guardar de cabeça, anote.
7) Delegar suas escolhas para pessoas que não tem formação em saúde: aconteceu muito na pandemia com pessoas tomando decisões baseadas em fala de político. Mas já acontecia antes com pessoas pegando dicas com vizinhas, amigos, blogueiros e instagramers. Essa não precisa explicar porque não funciona.
8) Não entender acaso e causalidade: essa com certeza é a mais difícil. Mas acaso existe em saúde, tem diagnósticos que não são evitáveis. E correlação não pressupõe causalidade.
9) Fazer você mesmo: geralmente termina com paciente tomando remédio desnecessário ou sem efeito. Nos casos extremos pode virar caso de intoxicação grave. Como o caso do cara que tomou suco de mandioca para tratar dengue.
10) Atenção disseminada: foque naquilo que você controla, você controla atitudes saudáveis, quando você vai ao médico, tomar o medicamentos. Você não controla os possíveis sintomas que a doença causa ou efeitos colaterais de remédios. Sair lendo todas as bulas e pesquisando doença no google geralmente só adiciona estresse e não melhora nada sua vida.
Assim como toda profissão existem médicos ruins e médicos bons. Mas para aqueles que tomam as atitudes acima nenhum médico é bom o suficiente. Foque naquilo que você sente na hora de se consultar e preze por fazer uma boa seleção de quem será o profissional que irá te atender. Só existe esse caminho.