Para que um texto seja agradável e coerente, são necessários pontos finais. Assim como nos textos, na vida precisamos deles. Alguns tardam e outros precisam ser usados logo, caso contrário uma parte do texto - de nossas vidas - ficará ruim, confuso, quase ilegível. Todos os usaremos mais cedo ou mais tarde, seja em mudar de paisagem, de relacionamentos, de trabalho, de rumo. Ciclos se encerram e os pontos finais são incontornáveis.
Usar o ponto final é muito difícil, porque é preciso ter clara a noção de que o tempo passa, que recomeçar da vírgula não resolve mais. As vírgulas são traiçoeiras, se disfarçam em dois pontos, em travessões, e no maldito ponto-e-vírgula, essa aberração da esperança, inimigo da clareza. José Saramago, entre outros gênios da escrita, flertou perigosamente com pontuação alterada. Não o aconselho a nós, meros mortais, esses otomanos de pouca coragem e débil propósito. Prefiro os tufões, estes mesmos do trecho de A Jangada de Pedra:
"Quantas vezes, para mudar a vida, precisamos da vida inteira, pensamos tanto, tomamos balanço e hesitamos, depois voltamos ao princípio, tornamos a pensar e a pensar, deslocamo-nos nas calhas do tempo com um movimento circular, como os espojinhos que atravessam o campo levantando poeira, folhas secas, insignificâncias, que para mais não Ihes chegam as forças, bem melhor seria vivermos em terra de tufões."
(José Saramago, A Jangada de Pedra )