"A gente sempre prefere a dor que conhece."
A coisa que acho mais interessantes na psicologia é um tópico que eu chamo de: armadilhas comportamentais.
Essas armadilhas geralmente são um conjunto de comportamentos que quando atuam juntos, ou em série causam mal à pessoa.
Como trata-se de um conjunto, a pessoa não percebe pq não tem um ponto específico para dar causalidade. O mal vem do acúmulo de ações no longo prazo, tipo juro composto. A coisa anda devagar, parece que tanto faz, mas de repente explode.
Um desses conjuntos é a profecia auto realizadora:
Quando a pessoa parte de uma crença genérica infundada e atua como se ela fosse verdade causando o mal que a crença afirma.
Complicou? Explico:
Ciúmes comumente funciona nesse sistema, e quase que fatalmente causa o efeito "maléfico"
Joazinho está na relação com mariazinha. Em alguma momento, Joãozinho fica pirado com a crença que mariazinha vai traí-lo com Zezinho, o colega de trabalho.
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Como eu estou inventando a história, sei que mesmo que Zezinho quisesse ficar com Mariazinha, Mariazinha amava Joãozinho. Era feliz com ele, passava o dia no trabalho pensando em voltar para casa para ficar com ele.
A história é inventada, mas eu já ouvi essa tantas vezes que só de olhar para a pessoa eu já sei o roteiro.
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Joãozinho em delírio na crença profunda da traição transforma tudo em assunto sobre Zezinho. Não deixa Mariazinha em paz um segundo. Antes ligava para saber onde iriam jantar, agora liga para saber onde está Zezinho.
Em resumo, a relaçao que antes era de Joãozinho e Mariazinha virou um trisal, sendo que a pessoa mais importante é Zezinho.
Mariazinha, que agora tem medo de atender as ligações de Joãozinho, já fica preocupada da hora de voltar para casa, não consegue nem trabalhar direito aproxima -se de Zezinho, que chama ela para ter um jantar legal.
Se acabam juntos ou não é irrelvante.
A profecia já se realizou. Maria já se afastou de João e não está mais afim dele.
Diversas vezes agimos (eu incluso) baseados em premissas de futuro, profecias, dessa tipo. E assim como joazinho, acabamos sendo responsáveis pelo prejuízo que causamos nas nossas vidas.
O @Bastter já comentou diversas vezes do mal que faz contar bala juquinha, de ficar atrás do prejuizo de 10 reais, e que essa pessoa acaba juntando menos do que se largasse.
A pessoa que vive dessa forma está numa crença de que o "mal trágico" vai acontecer a todo o instante. Passa o dia com ciúmes se preocupado com Zezinho. Esquece que o relacionamento é com Maria. Esquece de cuidar do relacionamento com Maria.
Está mais preocupado em economizar dinheiro numa promoção do que com o bem que a compra fará na sua vida. Deixa de ser feliz por causa de 10 reais no frete.
Compra na China e depois de 3 meses esperando recebe o treco vagabundo por causa de 100 reais.
Estraga o almoço de família pq o cunhado pediu o suco de 20 reais.
Tudo alimentando um crença que genericamente diz: o mundo está contra mim, eu preciso gastar toda a minha energia me defendendo dele.
Tudo tentando a qualquer preço evitar uma dor que nem conhece. Prefere ficar com a dor que tem: o medo.
Não consegue largar o medo.
E só age para evitar o mal.
Evitar o mal não causa o bem, na maioria das vezes eles sequer estão relacionados.
O pior é que acaba culpando todo o mundo: a China, o cunhado, o banco, a loja, as lojas de golpes, o padeiro, Zezinho.
Só não olha para si para ver que ele construiu isso sozinho. Que Mariazinha estava feliz e achava Zezinho chato.
Que foi João que traiu Maria, afinal, João passou a se preocupar demais com Zezinho do que com ela.
Para não ser "passado para trás", "feito de trouxa", "o bobo" virou um babaca que ninguém suporta.
Escolheu um mundo onde o foco é sofrer. causou todo o mal que queria evitar.